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por Marcelo Costa
A Brasserie du Val de Sambre é uma cervejaria belga que surgiu em 1998 em Thuin, na província de Hainaut, região da Valônia, mais próxima da fronteira da França (20 minutos) do que de Bruxelas (50 minutos), e que fabrica suas cervejas nas ruínas de uma antiga abadia, D’Aulne. A abadia foi fundada em 637 e atravessou os séculos seguintes sofrendo ataques de normandos, burgúndios e outros povos. Em 1600, sua biblioteca contava com 50 mil volumes e 4 mil manuscritos, que foram todos queimados após uma ataque em meio a revolução francesa, em 1794, que recebeu apoio do povo local, insatisfeito com o abade. As ruínas, então, foram preservadas dando lugar a uma pequena casa de repouso e, desde 2008, à Brasserie du Val de Sambre, que fábrica várias cervejas, sendo que duas delas (das cinco da série Abbaye D’Aulne) você pode conhecer abaixo (e são vendidas no Brasil em garrafas de 330 ml entre R$ 15 e R$ 18).
A Abbaye D’Aulne Blonde des Pères Sur Lie (Sur Lie significa “envelhecida na garrafa”) é uma Belgian Blond Ale de 6% de graduação alcoólica que é fabricada de forma totalmente tradicional, sem qualquer aditivo químico. De coloração amarelo palha, com leve turbidez, a Abbaye D’Aulne Blonde des Pères Sur Lie apresenta um creme branco de ótima formação e boa permanência – com direito a rendas belgas nas laterais da taça. No nariz, aroma prioritariamente maltado com percepção suave de pão e toque herbal enquanto a levedura desvela notas frutadas que remetem a banana e pêssego, mais leve condimentado, e o lúpulo cítrico sugere limão. Na boca, a Bélgica (com uma pitadinha de Alemanha): notas maltadas que inicialmente começam adocicadas e, na sequencia, incluem remissão a pão e banana chegando a um leve amargor picante no trecho final, com sugestão de condimentos e limão. No retrogosto, levemente adocicado, feno, banana e pão.
Já a Abbaye D’Aulne Triple Blonde Sur Lie é uma Belgian Tripel de graduação alcoólica elevada (9%) que passa por uma segunda refermentação na garrafa e ganhou o primeiro prêmio no Grand Prix da Valônia, em 1998. De coloração dourada com tons alaranjados e creme branco de ótima formação e permanência, a Abbaye D’Aulne Triple Blonde Sur Lie destaca um excelente bouquet (valorizado pela levedura, a estrela desta receita) que distribui ao nariz notas frutadas cítricas (laranja) carregadas de leve acidez, notas maltadas que remetem a mel e pão, um pouco de sugestão de cravo e notas florais. Na boca, o fermento se destaca com acidez moderada reforçando com notas cítricas a carga de lúpulos. Há sugestão frutada (maracujá e maçã verde do lúpulo e da levedura, banana do malte), herbal (pinho) e um leve toque resinoso, que marca a garganta (também com cítrico). O trecho final traz doçura, amargor e toque cítrico e levemente ácido. No retrogosto, cítrico frutado e álcool. Muito boa.
Balanço
Uma blond ale belga é sempre uma blond ale belga, e a Abbaye D’Aulne Blonde des Pères Sur Lie é mais uma para mostrar que há vasto território cervejeiro para se explorar na terra das batatas fritas. Nessa garrafa, em especial, uma proximidade interessante com a escola Weiss alemã, com notas que remetem a banana e cravo, e surpreendem. Está longe de ser da linha top de abadia belga, mas vale experimentar. Já a Abbaye D’Aulne Triple Blonde Sur Lie é uma baita representante do estilo Belgian Triple, que traz 9% de álcool numa cerveja sem que o bebedor perceba. A cerveja desce alegrando a alma com notas frutadas e cítricas derivadas da levedura, a estrela da receita. Uma bela cerveja.
Abbaye D’Aulne Blonde des Pères Sur Lie
– Produto: Belgian Blond Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7,3%
– Nota: 2,48/5
Abbaye D’Aulne Triple Blonde Sur Lie
– Produto: Belgian Triple
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,33/5
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