“Nada Especial (Proxima Ola)”, Señor Flavio (PopArt)
por Leonardo Vinhas
Com “Nueva Ola” (20XX), Flavio Cianciarulo havia enfim conseguido equilibrar a maior parte de suas obsessões musicais (ska, reggae, punk, new wave, folk, rockabilly) em uma receita pop eficaz e divertida. “Nada Especial (Proxima Ola)” promete, no parênteses do título, ser uma sequência desta boa combinação, mas é o “nada especial” que sobressai, infelizmente. A dosagem dos elementos vem desequilibrada: e em muitos momentos tudo soa como breves trechos de um mesmo gênero jogados dentro da mesma composição de três ou quatro minutos. “Hoy” (com a participação da sempre excelente Mimi Maura), “La Trinchera” e “Mexican Princess” têm lá seu charme, mas o resultado final lembra uma montagem com edição relâmpago de todos os clichês do skate punk da década de 90.
Preço: R$ 60 (importado)
Nota: 3
Leia também:
– Sr Flávio: “o jazz é algo lindo, mas acontece que o punk rock também me fascina” (aqui)
– “Nueva Ola” tem um certo espírito “new wave” numa obra coesa e divertidíssima (aqui)
“Sinamantes”, Sinamantes (YB)
por Bruno Capelas
Se você é daqueles que acham que o amor é uma loteria (e mesmo usando a surpresinha nunca conseguem acertar na Mega Sena), você precisa ouvir “Azar”, faixa de abertura da estreia da Sinamantes. Entre a ironia porra-louca e a doçura apaixonada que remete aos melhores momentos do Pato Fu, Mariá Portugal (do Trash Pour 4) declara: “Joguei na loto e deu você”. A citação aos mineiros não é em vão: este “Sinamantes” contou com a produção do guitarrista John Ulhôa, e se o disco não mantém o nível irresistível de “Azar”, também não deixa a peteca cair. Ao longo do trabalho, o trio (que ainda conta com Danilo Penteado na guitarra e Natália Mallo no baixo) explora delícias da vida a dois (“Meias Laranjas”), bebês (“Seis Meses”) e a rotina contemporânea (“Business Man”). Além de cantar em português, o grupo consegue acertar em bom espanhol (“Dejalo Ser” e “Sei Não Sei”), mas fracassa nas repetitivas e anglófonas “Networking” e “I’m Not Sleeping”.
Preço: R$ 25
Nota: 6
“Yo Te Amo”, Fito Paez (Sony Music)
por Leonardo Vinhas
Há muito tempo Fito Paez não fazia um disco tão simples e contagiante. A faixa-título e “Tu Everest”, por exemplo, poderiam ter saído diretamente do seu melhor repertório oitentista, com o bônus de não terem os vícios de produção do período. Em entrevista recente ao Scream&Yell, ele declarou que tanto frescor foi intencional, a ponto de impor limites para evitar que ele ou a banda“complicassem” as composições. Daí a síntese da já citada “Yo Te Amo” ou da ótima “Ojalá que Sea”, com uma letra soar atipicamente direto e desavergonhado. O lado mais sentido, valorizado pela interpretação do cantor, também está presente, especialmente em “Perdón” e “Por Dónde Pasa el Amor”. Pode não ser o melhor disco do argentino, mas certamente é o mais “simpático” e de aderência mais imediata.
Preço: R$ 25
Nota: 7
Leia também:
– Fito Paez: “Importante é a relação construída com as pessoas. E durmo bem à noite” (aqui)
– João Barone: “Charly García e Fito Páez influenciaram Herbert mais que qualquer artista (aqui)
“O Grande Medo do Pequeno Mundo”, Samuel Úria (FlorCaveira)
por Bruno Capelas
Um dos grandes discos de 2013, “O Grande Medo do Pequeno Mundo” é uma boa mostra do melhor rock português de hoje em dia. Ligado à gravadora FlorCaveira (cujo lema é “Religião e Panque Roque”) Samuel Úria cresceu às voltas de uma igreja batista no norte lusitano, e faz discos desde 1999. Porém, “Grande Medo” é apenas seu segundo trabalho com produção “profissional”, retomando o letrista confessional do pop de “Nem Lhe Tocava”, de 2009. No álbum, a cantora Márcia faz um belo dueto com Úria em “Eu Seguro”, enquanto Manel Cruz, dos cult Ornatos Violeta, aparece em “Lenço Enxuto”, que ironicamente confronta com a imagem da masculinidade ao dizer que “ser masculino é ter o lenço enxuto”. Vale ainda ouvir a ganchuda “Forasteiro” e “Essa Voz”, dos apaixonados versos “silêncio é de ouro/mas só aperitivo/se é prelúdio à tua voz”.
Preço: R$ 50 (importado)
Nota: 8
Leia também:
– Samuel Úria: “O maior favor que faço à minha música é não premeditá-la demasiado” (aqui)
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell