por Marcelo Costa
Sete anos atrás, São Paulo recebia uma festa de música paraense, então bastante comentada, mas pouco ouvida: era a primeira edição do Terruá Pará, que apresentava para o Sudeste nomes como Mestre Vieira, Dona Onete, Felipe Cordeiro, Lia Sophia, Gang do Eletro e Gaby Amarantos. Corte para 2013: muitos desses nomes já estão inseridos no cotidiano da música brasileira, mas o Terruá Pará, que chega agora a sua terceira edição, busca não só ampliar as fronteiras da música do estado nortista, como também sedimentar a relação entre várias gerações de artistas paraenses enquanto homenageia o maestro, pianista, escritor e compositor Waldemar Henrique da Costa Pereira.
O concerto que chega ao Teatro do Shopping Eldorado, em São Paulo, nos próximos dias 13 e 14 de novembro, é um projeto ambicioso que estreou dia 01 de novembro no Portal da Amazônia, em Belém, reunindo nomes consagrados no estado como Adamor do Bandolim, Manoel Cordeiro, Rafael Lima e Mestre Damasceno com integrantes da nova geração paraense como Camila Honda, Strobo e Molho Negro, entre muitos outros. O show, que conta com direção geral de Carlos Eduardo Miranda e direção musical de Cyz Zamorano, é um interessante compêndio das várias faces da nova música do Pará.
A amplitude do show fica bem nítida no começo do espetáculo, quando Nazaré Pereira, acompanhada pelo Trio Manari e pela Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, abre a noite com uma versão de “Matita Pereira” embalada por violinos e percussão numa toada orquestral e progressiva, que se segue em “Terra Morena”, de Nazaré, que chama o próximo convidado (modelo que se seguirá por toda apresentação, com o artista que está deixando o palco convidando o próximo), Adelbert Carneiro, que entra em cena acompanhado do DJ e produtor Jaloo para cantar “Adeus” e receber Sammliz e Strobo para o primeiro grande momento da noite, “Obaluaiê” (canção de Waldemar gravada por Clementina de Jesus).
Já mais próximo do samba, mas ainda sem abdicar da orquestralidade, o show começa a sacudir o bom público que marcou presença no Portal da Amazônia com a entrada de Marco André, que deixa o palco aplaudido após mostrar “Amazônia Groove” e receber integrantes do Arraial da Pavulagem para uma versão de “Foi Boto, Sinhá”. Bastante aplaudida antes mesmo de começar a cantar, a cantora Luê entrou de rabeca em punho e contagiou a audiência interpretando “Onde Andará Você”. Na sequencia, sob o comando da banjola de Tony Soares, começou-se o arrasta pé, marcando a passagem do erudito para o popular.
Quem queria cantar pode colocar a voz pra fora com a entrada de Arthur Espindola, que chamou ao palco Toninho Nascimento e Adamor do Bandolim para um pot-pourri com “Conto de Areia / Deusa dos Orixás”, sendo a primeira uma parceria de Toninho com Romildo Bastos, canção famosa na voz de Clara Nunes. O povo continuou chacoalhando com Pim e sua “Meu Papagaio” e reverenciou Mestre Damasceno, que interpretou “Lá Vem Boi”, transformando a praça em um grande local de festa para todas as idades.
Acompanhado de Nanna Reis, Marcel Barreto colocou mais suingue com toques de guitarrada numa versão de “Chamegoso” enquanto Felipe Cordeiro trouxe “Tarja Preta”, parceria dele com Luê, Arnaldo Antunes (presente no disco mais recente do ex-Titãs) e o pai, Manoel Cordeiro, que subiu ao palco logo em seguida, e foi recebido com aplausos pela praça festiva. Se o erudito e a guitarrada já haviam dado as caras na noite, faltava o tecnobrega, Waldo Squash adentrou o palco acompanhado de Renan Sanches, vocalista da Banda ARK, que saiu intimando os presentes: “Quem é bregueiro bate palma”. E dá-lhe Gang do Eletro, Juca Culatra e uma ótima versão de “Aparelhagem de Apartamento”, do Molho Negro, com reforço de Sammliz.
Para o final, mais festa num pot-pourri que contou com “Piripaque / Esse Pranto é Meu / Boi Bumba / e Uirapuru” e trouxe todos os participantes da noite se confraternizando no palco, enquanto o público pulava e cantava na praça, um encerramento certeiro para um espetáculo que cria uma narrativa musical interessante enquanto reúne um time luxuoso de artistas no palco. Com uma cena efervescente e apoio do governo estadual, o Terruá consegue valorizar a música do Pará enquanto a divulga para outros estados e faz o povo dançar. Uma grande iniciativa (que outros Estados deveriam explorar). Por enquanto, o Pará segue na frente.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Todas as fotos por Camila Lima com exceção das imagens 5, 6 e 8, por Marcelo Costa
O Scream & Yell viajou a convite da produção do evento
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