Boteco: As belgas John Martin, Duvel e d’Ebly

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por Marcelo Costa

A John Martin Brouwerij é uma cervejaria da cidade de Merchtem fundada em 1909 pelo empresário inglês John Martin (1886-1966), e que além de cervejas de estilo belga (como a Dominus e a Blanche de Brabant) também produz alguns estilos irlandeses e ingleses, como demonstra esta Martin’s Pale Ale, que capricha na dose de lúpulos Kent no dry-hopping para provocar nostalgia nos britânicos distantes da ilha. Na taça, uma cerveja de coloração âmbar translucida exibe uma bela formação de creme bege, de boa permanência. No aroma, muita sugestão de caramelo proveniente do malte tostado e leve percepção de lúpulo herbal (grama e pinheiro) e toque resinoso. No paladar, muito equilíbrio: a doçura caramelada do malte tostado surge em perfeita sintonia com o amargor suave do lúpulo, mais presente, num conjunto que destaca sugestão de frutas escuras (ameixas e nozes), adocicado (caramelo e melaço) e agridoce. O final é malte de caramelo de mãos dados com o lúpulo enquanto o retrogosto reforça o final e a opção por uma cerveja delicadamente equilibrada e muito boa. Uma bela English Pale Ale belga para britânico nenhum botar defeito.

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A Duvel Groen (Green) é uma variação interessante do hit da cervejaria belga produzida inicialmente para uma festa em Puurs, casa da Moortgat, e aos poucos distribuída para alguns países. Foi pensada para ser bebida “verde” (não “madura”, como na garrafa gordinha famosa) diretamente no gargalo, por isso é filtrada, não leva levedura na garrafa (ou seja, nada de segunda fermentação) e mais leve, com apenas 7% de álcool (contra os 8,5% da versão tradicional e 9,5% da versão Tripel Hop). De coloração dourada e espuma branca majestosa e eterna, com direito a rendas belgas, a Duvel Groen destaca o lúpulo aromático cítrico (limão e pera) e uma leve acidez que remete a especiarias e levedura. Há ainda percepção de malte e uma leve sugestão de mel e banana. O paladar traz acidez, um leve azedinho e amargor cítrico no primeiro toque. O malte surge na sequencia equilibrando o conjunto com um leve dulçor. Notas cítricas frutadas que remetem a limão e maçã verde, um picante que sugere semente de coentro e um maltado de trigo completam o ótimo perfil sensorial. O final é seco, metálico e cítrico enquanto o retrogosto traz maçã, uva verdes e mais secura. Bela cerveja (ainda que inferior a versão tradicional).

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A Brasserie d’Ebly nasceu em 2010 e está localizada na aldeia de Ebly, a duas horas de Bruxelas (e 40 minutos de Rochefort). Apesar de novata, já vem chamando a atenção com a La Corne du Bois des Pendus, cerveja que relembra a Lenda de Cornélio, um cervejeiro lendário que morreu assassinado em uma chacina numa sexta-feira 13, em 1636, durante a Guerra dos 30 Anos, nos povoados de La Folie a Rodenhoff, contornados pela floresta de Anlier, cuja imagem do contorno forma um chifre – a marca da cervejeira, que até fez um copo especial inspirado na história. Medalha de Prata no Mundial de Estrasburgo, 2011, a La Corne du Bois des Pendus La Triple 10º se diferencia das Triples tradicionais belgas por não levar candy sugar nem especiarias na receita. De coloração entre dourado e acobreado, turva, La Triple 10º exibe uma espuma intensa em formação e permanência. No aroma, a força da levedura e do lúpulo distribuiu acidez e notas cítricas intensas enquanto o malte dispersa notas adocicadas (mel). Há picância que remete a semente de cravo (mesmo não tendo adição da especiaria) e cativantes notas herbais. No paladar, a acidez e os 10% de álcool se juntam no primeiro ataque, marcante e decisivo para saber se você irá ou não gostar dessa cerveja. Na sequencia, há intenso cítrico e leve dulçor – que remete a biscoito. O final é seco e carregado de acidez, com um leve azedinho. O retrogosto é longo e ora maltado, ora cítrico, ora ácido. Provocante.

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Balanço
A Martin’s Pale Ale é uma bela surpresa de uma cervejaria belga (de pai britânico, diga-se de passagem) produzindo ótimas cervejas inglesas. Talvez um britânico reclame do dulçor acima da média, mas releve e experimente. Vale a pena (a garrafa de 330ml pode ser encontrada entre R$ 16 e R$ 21). Já a Duvel Groen é o tipo de cerveja de banco de reservas: se não tem a Duvel tradicional, e ainda há Duvel Groen na prateleira, vale arriscar, mas a sensação é que o custo / beneficio dela no Brasil não compensa (entre R$ 14 e R$ 17 a garrafinha de 250 ml), pois ela acaba sendo mais cara que a versão tradicional – e até supera o preço de outras belgas, melhores. Vale muito experimentar se for de torneira (já encontrei em Nova York) ou se for na Europa, com preço condizente, mas, caso contrário, apenas por curiosidade – prefiro a versão tradicional (e as Tripel Hop). Já a La Corne du Bois des Pendus La Triple 10º parece bem mais intensa na garrafa do que na torneira (experimentei no A La Morte Subite, em Bruxelas – e prefiro on tap). É uma cerveja peculiar, potente e intimidadora. O álcool se envolve nas notas de paladar, e é difícil desgrudar as papilas gustativas dele. O cítrico, elevado pela potencia da acidez proporcionada pela levedura, também é marcante. Uma pancada alcoólica que soa meio desiquilibrada. A sensação que ela passa é que é preciso encontrar seu tempo: não deixe esquentar no copo, mas também não beba rapidamente (preço entre R$ 17 e R$ 20, a garrafa de 330 ml).]

Martin’s Pale Ale
– Produto: Belgian Pale Ale
– Nacionalidade: Belgica
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,35/5

Duvel Groen
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoóica: 7%
– Nota: 3,61/5

La Corne du Bois des Pendus La Triple 10º
– Produto: Abbey Tripel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3,27/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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