por Marcelo Costa
“BE”, Beady Eye (Sony Music)
Liam Gallagher é um baita cara azarado. Não bastasse ser preterido em casa com o dom de compor canções pop que reluzem a ouro (dom que recaiu sobre o irmão, Noel), na hora que consegue colocar sua bandinha meia boca nos eixos e está prestes a sair em turnê, vê seu parceiro Gem Archer primeiramente sofrer um traumatismo craniano (em agosto) e, depois, quebrar a perna escorregando no banheiro (setembro). Haja uruca. Problemas à parte, “Be”, o segundo álbum do Oasis sem Noel Gallagher, é quilômetros melhor que a estreia. Da capa classuda (a modelo Linda Peccinotti posa para o marido, Harry, fotógrafo daqueles calendários Pirelli) ao som, mais vigoroso, o que de certa forma diminui a impressão de xerox de décadas perdidas do século passado, característica do disco anterior. E isso começa já na abertura com a poderosa “Flick of the Finger”, com metaleira comendo solta e uma boa letra que traz, ao cabo, um monólogo do teórico politico Jean-Paul Marat acerca de revolução. A voz de Liam não mantém o mesmo viço dos tempos iniciais do Oasis, mas soa rascante e forte o bastante para te convencer que ele está a fim. A metaleira volta a se destacar na preguiçosa “Second Bite of the Apple”, primeiro single do álbum. Entre os destaques estão a beatle “I’m Just Saying” e as baladas “Soul Love” e “Ballroom Figured”. A edição nacional traz as quatro faixas bônus da versão deluxe gringa (“Back After the Break” é bacaninha) e “BE” fez valer a tentativa de Liam em soar relevante, afinal, se nem o Noel conseguiu sair da sombra do Oasis…
Nota: 7
Preço em média: R$ 25 (nacional)
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“Right Thoughts, Right Words, Right Action”, Franz Ferdinand (Sony Music)
Dez anos atrás, o Franz Ferdinand surgia no cenário pop com um single potente, “Darts of Pleasure”, que era apenas a ponte do iceberg do álbum que chegaria às lojas em fevereiro de 2004, e colocaria uma série de grandes canções nas paradas do planeta (o hino “Take Me Out” à frente). O sucesso foi tamanho que a banda produziu o segundo disco na estrada, e emendou as turnês sem folga. O resultado, “You Could Have It So Much Better”, era um álbum tão poderoso quanto o primeiro. Após o fim das duas turnês em uma, encerrada com um show inesquecível em São Paulo, que terminou com o grupo se despindo – literalmente – da função de rockstars e jogando até o teclado para a plateia, os quatro integrantes saíram de férias e foram cuidar de vida. Consta nas ruas de Glasgow que até hoje eles não voltaram. “Tonight” (2009) e este “Right Thoughts, Right Words, Right Action” (2013) estão longe, mas muito longe de serem álbuns ruins, só não estão à altura daquela banda que parecia querer conquistar o mundo incendiando plateias de 2003 a 2006. “Right Thoughts, Right Words, Right Action” é o Franz Ferdinand querendo colocar a galera para dançar. É ruim? Não. Só é pouco. “Right Action” e “Love Illumination” são delicias pop que juntam batida funkeada, guitarrinha safada e refrãos grandiosos numa sonoridade que não traz nenhuma novidade e se confunde na pista. Além, bobagenzinhas simpáticas como “Fresh Strawberries”, “Goodbye Lovers & Friends” e “The Universe Expanded” fazem deste o quarto entre os melhores discos do Franz. É pouco.
Nota: 7
Preço em média: R$ 25 (nacional)
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“AM”, Arctic Monkeys (Sony)
Pouco antes de “AM” chegar ao mundo, Alex Turner dizia à Rolling Stone ES que nenhum disco recente se comparava em qualidade à sua nova cria. Ele estava errado: “AM” não é nem o disco do ano (QOTSA, Bowie e Vampire Weekend brigam pelo posto), mas é um baita disco, talvez o mais equilibrado dos cinco álbuns dos Monkeys (apenas a belezinha “Mad Sounds” e a stoner “I Want It All” parecem deslocadas). A sensação é de que “AM” é a versão inglesa de “El Camino”, do Black Keys, com a produção lixando as arestas dos arranjos e colocando paletó e gravata na bateria, de olho nas paradas – uma versão nublada, arrastada, classuda e menos descarada (Obama 0 x 1 Rainha). “AM” também soa, ao mesmo tempo, uma versão adolescente de “…Like Clockwork”, quase uma trilha sonora para quem se pega no sofá de casa enquanto o irmão vai buscar refri na cozinha ou se agarra na balada, e não consegue consumar o ato por falta de lugar (o visual Elvis de Turner entrega a pegada sixtie). O grande diferencial dos Monkeys é ter um dos melhores cronistas dessa geração, um cara que já na faixa de abertura, a potente “Do I Wanna Know?”, constrói uma cantada invejável sob uma base de riff cortante e refrão grandioso. “R U Mine?” é uma canção do QOTSA, que Turner plagiou inconsciente (e Josh Homme, que faz vocais em duas canções do disco, deixou barato) e, daí em diante, o disco praticamente mantém-se na segunda marcha (com exceção de “I Want It All”, que está ali só para atrapalhar o clima dos amassos), seduzindo jovens casais e servindo de trilha (“Number 1 Party Anthem”, uma das melhores canções do disco, não sugere à toa) para romances adolescentes, em um momento em que a adolescência parece eterna. Precisa mais?
Nota: 8,5
Preço em média: R$ 25 (nacional)
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Três dos melhores discos do ano na minha opinião. Bowie e Vampire Weekend completam meu Top 5 pessoal.
Eu inverteria as notas do disco do Franz e do Arctic – e isso sendo benevolente com a banda do Alex Turner, pois achei AM mediano. Começa bem (Do I Wanna Know?), mas não chega realmente a empolgar. E os backing vocals ficaram muito irritantes. Acho que o que foi dito sobre o FF (“saíram de férias e (…) até hoje eles não voltaram”) se aplica melhor aos Arctic Monkeys, cujos 2 primeiros discos ainda são os melhores, mas que desde o 3º começaram a fazer um rock esteroidado que, embora tenha lampejos geniais (Crying Lightning, She’s Thunderstorms, a própria Do I Wanna Know?), em geral soa como um derivado de Queens of the Stone Age. Para mim os Monkeys são o Oasis de nossa geração.
Quanto ao Franz, “Tonight” foi um disco subestimado (aliás, o Scream & Yell foi um dos poucos cuja resenha lhe deu o devido valor) que resgata a idéia de álbum conceitual, numa “odisséia” que começa num ‘crescendo’ com Ulysses, alcança o clímax com Lucid Dreams e se encerra melancolicamente com Katherine Kiss Me. Já o quarto disco melhora a cada audição (digo isso porque devo tê-lo ouvido na íntegra umas 10 vezes nas últimas semanas, rs). Não acho que Fresh Strawberries, Goodbye Lovers & Friends e The Universe Expanded sejam bobagenzinhas simpáticas; a primeira trata de desencantamento e mortalidade, a segunda é irônica e irreverente (“You know I hate pop music”) e a terceira, que é um dos destaques do disco, conta, do fim ao início, uma história de amor sob uma melodia delicada. Right Action e Love Illumination de fato são dançantes, e eu também destacaria a sarcástica Evil Eye e a deliciosa Stand on the Horizon.
P.S.: Aproveitando a idéia do Gregório de top 5 do ano, o Franz certamente entraria no meu, ao lado de My Bloody Valentine, Daft Punk, Suede e, talvez, Bowie.
Valeu Marcelo, apesar de eu gostar de tecer minhas próprias críticas sobre tudo que eu escuto, assisto, bebo, e etc… Dessa vez com AM acho que posso me abster, você falou o que precisava ser falado do disco, ele é isso mesmo. Arctic Monkeys é uma banda que cresce, e vai evoluindo, e seus amores vão evoluindo, e agora eles estão nesse clima adolescente de pegação, a grande questão pra mim com esse disco que fica é, quando vamos ver um Arctic Monkeys adultos em uma paixão fervorosa? Porque a mim parece que esses garotos não param de evoluir e de lixar sua arestas musicais, cometendo erros claro, mas também acertando aqui e ali de maneira considerável.
Eu também trocaria as notas do Franz e do AM. Gostei muito do Right Thoughts, Right Words, Right Action, apesar de concordar que soa um pouco repetitivo. Já o AM abre com uma das melhores músicas do ano “Do I Wanna Know”, mas o restante não mentém o mesmo nível.
”You know I hate pop music” ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ
Gostei muito do AM, apesar do album não ser essa coca toda que tão pintando. Ele tem uma sonoridade mais R&B, sera que é pra conquistar o mercado americano?
Esse BE ficou um otimo album ate, muito melhor que o horrivel debut, tudo nelei é melhor, desde as canções ate a produção caprichada. Flick of the Finger é surpreendentemente boa.
E ainda tenho que ouvir o novo do Franz, mas estou sem pressa, o proximo album so vai sair daqui a 5 anos mesmo, putz eles demoram demais pra lançar um album novo.
ouvi vários desses que foram considerados “álbuns do ano”. sem entrar no mérito de qual o melhor (fico com Bowie), mas sem dúvida o pior é este AM. na minha playlist de Artic Monkeys não entrou nenhuma música desse disco. muito fraco.