Texto, fotos e vídeos por Marcelo Costa
“Sabe, tudo se transforma. E é importante que a gente mude, e mude a nossa vida, e mude as nossas coisas, a partir de nós mesmos. A verdadeira revolução existe em nós. Então vamos mudar tudo para mudar o Brasil, mudar o mundo”. A fala do vocalista André Gonzáles na sexta-feira (16/08), primeira noite de lançamento do terceiro álbum dos Móveis Coloniais de Acaju, “De Lá Até Aqui”, para um Auditório Ibirapuera em noite sold out em São Paulo (o fato se repetiria no sábado), era o resumo textual da nova fase do grupo de Brasília, para aqueles que, por algum problema cognitivo, ainda não tinham percebido via set list (e novo álbum).
Isso porque a noite começou com “Sede De Chuva”, faixa que abre o novo álbum com bateria galopante e intervenção suave do quarteto de metais pontuando um arranjo que valoriza o vocal. Na sequencia, o hino acelerado “Perca Peso”, um dos cavalos de batalha do repertório clássico do grupo ao vivo, fez a plateia enlouquecer para, no auge da loucura, ser arremessada na suavidade (talvez a palavra que melhor defina a nova fase) da faixa título do novo disco. “Falso Retrato”, outra “antiga”, voltou a demarcar as diferenças entre o velho e o novo Móveis e esse “bate-assopra” serviu para ressaltar o período de mudanças da banda.
“Saionara”, uma das raras canções de “De Lá Até Aqui” que poderiam estar presentes nos dois álbuns anteriores, fez a ponte com “Campo de Batalha”, que começa em formato balada, piano e metais fazendo a cama para André cantar (e bem) uma letra que serve como uma carta de intenções: “Bondade é combater ilusão / Beleza é abraçar contradição / Verdade não me traz solidão / O amor vem sempre junto”. Outro hit do álbum anterior, “Cão Guia”, veio na sequencia para festa geral, mas a banda já tinha exibido as cicatrizes da mudança para o público, o que não impediu a noite de soar estranha.
Tanto na sexta quanto no sábado, das 18 canções do set list, 12 eram novas (o álbum traz 14 – “Vejo em Teu Olhar” ficou de fora dos dois dias e “Sem Fim”, apresentada na sexta, abriu espaço para “Amanhã Acorda Cedo” no sábado), e a ausência de “Copacabana”, talvez a música que tenha colocado o grupo onde ele está hoje, principalmente por suas execuções emblemáticas ao vivo, é outro sintoma de que a banda quer olhar para frente e criar novos momentos de intimidade com seu público. Chutando a zona de conforto a quilômetros de distância, o Móveis parece seguro do que quer para o futuro.
Como show de lançamento, a apresentação de sexta soou quase como ver uma nova banda tocando covers de outra grande banda irmã. O exagero, claro, deve-se ao pouco costume de parte do público com o recém-lançado novo álbum tanto quanto a gangorra de arranjos proporcionada pela falta de adaptação dos velhos hits ao novo momento do grupo, mas a sensação na cadeira do Auditório Ibirapuera era de que a noite seguia uma linha racional que buscava, mais do que apresentar as canções novas, defender a nova fase. E, nesse contexto, a fala de André Gonzáles não poderia ter sido mais acertada e envolvente.
A mudança quase que radical da sonoridade dos Móveis Coloniais de Acaju em seu terceiro álbum (novamente produzido por Carlos Eduardo Miranda) soa um ato tão corajoso quanto arriscado (que, no entanto, vinha sendo levemente antecipado/preparado por “C_mpl_te”, o disco anterior), e merecia a explicação sincera de André, falando por um grupo que parece não querer ficar preso nas arestas de seus primeiros anos ao mesmo tempo em que busca manter um relacionamento intenso e verdadeiro com seus fãs.
“De Lá Até Aqui” é um interessante atestado de mudança, e os 10 integrantes da banda não pretendem deixar o público para trás. Exemplo de uma banda que quer crescer e seguir em frente se recriando, o Móveis Coloniais de Acaju começa uma nova fase com o pé direito. Agora é esperar pelos próximos shows e acompanhar os dois Móveis (o novo e o antigo) juntos no palco de agora em diante: Será que vai funcionar? Até quando o passado será presente? Afinal, mudar (socialmente, politicamente, musicalmente) é caminhar em um novo espaço, e aprender a viver nele da melhor forma. O Móveis parece ciente disso. Vale acompanhar.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– Móveis ao vivo em 2012: é preciso ter fôlego e pique para acompanhar (aqui)
– Móveis ao vivo em 2009: o show mais divertido do país (aqui e aqui)
– Móveis Coloniais de Acajú explica faixa a faixa o álbum “C_mpl_te” (aqui)
Um comentário que li que resume bem este novo trabalho deles: Não é que seja ruim, apenas não é mais Móveis.
Lembro que no primeiro show que fui deles não havia ouvido nenhuma música anteriormente e sai do show maravilhado, com a sensação que tinha me divertido muito e experimentado algo único. E isso se repetiu durante muito tempo. Mas no sábado, por mais que eu tentasse evitar, eu senti tédio :/
Concordo que o Móveis mudou muito, mais não acho que o show foi um tédio, muito pelo contrário.
Gostei muito do trabalho novo e achei muito legal eles focarem exatamente na apresentação das músicas novas, até porque está turne é para isso.
Parabéns.
E como você mesmo disse, vamos ver o novo e o velho juntos!
Movéis era tão legal que o pessoal fica receoso de dizer a verdade: tá uma merda. Música de propaganda de lápis de cor. E não tem mercado pra isso, por motivos de: não tem mercado pra nada.
Se não muda fica repetitivo, se muda fica tedioso.Ê povinho complicado esses hipsters viu…
Bom, pra mim, o show foi ótimo; os caras sempre contagiam(no caso só alguns nesse show de lançamento) com a presença de palco energética de todos os integrantes.
E no sábado rolou Vejo Em Teu Olhar siiim(minha favorita do De Lá Até Aqui)! hahahah
Acho que a frase do Léo resume tudo. Concordo que o novo disco é inferior aos dois anteriores, mas ainda assim é muito bom. Melhor que a maior parte dos discos que ouvi nesse ano.
Não é questão do simples mudar e sim o resultado da mudança. Do 1º pro 2º CD existe uma grande mudança, com um inegável avanço, mas dentro da sonoridade peculiar da banda.
Agora houve uma mudança de sonoridade e até mesmo de estilo.
A impressão que dá é que o Jota Quest resolveu contratar quatro instrumentistas de sopro….
Nossa, Kleber, Jota Quest é um pouco demais. Pelo menos, o Moveis sabe fazer letras,né? Mas acho que o disco é inferior, mas não deixa de ser bom, mesmo com uma sonoridade mais limpa.
Mas a comparação com Jota Quest não é necessariamente ruim. É uma banda que vendeu muitos discos e faz sucesso. Artisticamente pode ser ruim, mas no quesito dinheiro é bom. A gente tem que lembrar que é dificil viver de música no Brasil, imagina então uma banda que tem que dividir o dinheiro entre 9 músicos, mais membros honorários e a empresa que eles tem?
Agora com relação às letras, este é o disco mais fraco até (exceção à Campo de Batalha, que é a unica unanimidade do disco). Tem uma musica nova dos Moveis que fala de um encontro com a morte, depois de ouvi-la, vai ouvir Memento Mori da Bona Fortuna e compara as letras.
Eu gosto do antigo móveis, mas não vou mentir: esse novo me agradou.
Antes de mais nada queria rebater algumas críticas feitas. Música de propaganda de Lápis de cor e sem espaço comercial é um argumento muito vago, a música do Toquinho e Vínicius de Moraes ao qual você se refere Thiago, teve seu espaço comercial e em sua época e hoje se fixou na história da música como “Arte”, deve se ter grande respeito por ela, ela tendo sido usada em uma peça publicitária ou não.
Agora pensando no móveis, sem levar em consideração outras bandas a ideia do disco de maneiras técnicas foi usar letras e melodias que valorizassem a voz do André Gonzalés de um jeito que a banda nunca tinha buscado, é uma experiência nova e um caminho natural, é um disco de ruptura, então é claro que os Fãs vão achar estranho, pode ser que o próximo trabalho volte ao estilo anterior ou o Móveis escolha por seguir esse caminho daqui pra frente. Mas o estilo é bom a qualidade do som é excelente, sou sincero, não é um disco que me faria ir a um show deles, preferia ir a um show para ouvir as músicas antigas, mas essas são músicas as quais eu quero escutar por bem mais tempo.
Curiosamente, hoje saiu um review do CD no site da Globo. Olha o trecho:
A bela “Não chora”, por exemplo, podia ser um grande momento do Jota Quest, entendendo a banda como uma das que trabalham com mais desenvoltura no terreno soul-branco-para-FMs
http://oglobo.globo.com/cultura/critica-aqui-do-moveis-coloniais-de-acaju-9710658#ixzz2dBGnPBlW
E engraçado que o mesmo critico que elogia Não Chora por lembrar Jota Quest, fala mal de Campo de Batalha “que encerra o álbum se perdendo em sua vontade de ser épica”, que é a única musica que como a Sheila disse, todo mundo gostou, justamente por ser a que mais se adequa ao estilo Móveis de fazer música.