por Lucas Guarniéri
O jovem londrino James Blake foi uma das grandes revelações de 2011. Seu álbum de estreia, “James Blake”, apareceu em diversas listas de melhores do ano, o que, claro, joga um peso sobre seus ombros e a árdua tarefa de passar pela provação do segundo álbum. Porém, “Overgrown”, lançado no começo de abril, como se não bastasse mostrar uma evolução perante o álbum anterior, vai além e emplaca o selo de prodígio na carreira de Blake.
Com apenas 24 anos, James Blake consegue atravessar ileso pela temida “maldição do segundo álbum”, onde se precisa provar que não contou com a sorte de principiante. O mundo da música não é solene muito menos misericordioso. Pouco importa se James fez com que a crítica caísse de joelhos com seu debut homônimo em 2011, se não conseguisse se reinventar o ostracismo seria certo.
“Overgrown”, além de provar sua evolução como músico, mostra o compositor como um produtor evoluído. Aliás, o segundo álbum se destaca principalmente pelo fato de ser mais bem produzido. Pode ter sido a aura de Brian Eno, que produziu uma das canções do disco, que abençoou o jovem produtor, ou seu próprio mérito e talento. Só isso explica a enorme demanda de artistas que procuram pelos seus toques mágicos na produção.
James Blake esculpe o tempo neste álbum. Quase que como um discípulo musical de Tarkovsky, o músico, assim como o diretor, privilegia os detalhes fazendo deles partículas sonoras diferenciadas que se alternam entre presenças e ausências. Essas lacunas entre uma batida e outra e a expectativa criada enquanto se espera a entrada do vocal etéreo de James, confere ao ouvinte um tempo para a contemplação e reflexão dos exorcismos sentimentais e desabafos do artista.
Até mesmo as letras ganharam uma atenção meticulosa. Elas, que nunca foram o foco de sua obra, aparecem de modo mais elaborado que contribui para que a mensagem seja compreendida de forma sucinta. “I don’t wanna be a star, but a stone on the shore”, o desabafo de James com a ideia de não querer ser uma estrela é inevitável. O reconhecimento pela superação do próprio hype é merecido. É interessante também observar a diferença entre as capas. No disco homônimo, a capa trazia o rosto do artista desfocado. Agora, no segundo álbum, ele aparece inteiro em uma capa nítida. O que pode insinuar que o segundo é mais pessoal que o primeiro.
Seu som, caracterizado como dubstep, o coloca sobre o mesmo teto de artistas como Skrillex. O termo sintetiza apenas parte de um gênero presente no álbum, com elementos de soul (”To The Last”), jazz (”Overgrown”) e R&B (”Retrograde”, o primeiro single), o disco se agrupa em uma montanha de outros subgêneros que servem de palco para sua sonoridade. Até mesmo rap e hip e hop (”Take a Fall For Me”, que conta com a participação do rapper RZA) tiveram seu espaço nesse álbum. E como que quebrando sua própria fórmula, o produtor acelera as batidas da faixa “Voyeur” saindo totalmente de sua zona de conforto, sendo quase possível de se dançar, salientando o experimentalismo presente no álbum.
Em seu segundo álbum, James Blake brinca de alterar o espaço-tempo. Consegue nos transportar para a Inglaterra, seu país de origem, sem utilizar de artifícios da física. É quase possível sentir o frio inglês à medida que as faixas são tocadas e o clima ameno carregado de solidão e melancolia ajudam a desenhar a ambiência sublime e singela.
Desta forma, “Overgrown” pode ser cruel para o ouvinte que se encontra em um estado de espírito de solidão. A melancolia arrebata com força e o afeto transmitido por esse álbum é potente e soberbo. Fato é que James Blake prova seus pontos e entrega um álbum conciso e bem elaborado que mais uma vez, tem de tudo para conquistar a sua fiel audiência.
– Lucas Guarniéri (@cemcruzeiros) é mineiro, estudante de publicidade e apreciador da boa arte
Leia também:
– James Blake, a revelação de 2011 é um intérprete poderoso, por Bruno Capelas (aqui)
Bela resenha.
Coesa, muitíssimo bem articulada.
Parabéns!