por Marcelo Costa
Comédia romântica mais comentada de 2012, “O Lado Bom da Vida” (Silver Linings Playbook) se vale de uma bela sacada cinematográfica que transforma uma história banal e um filme clichê num dos sucessos da temporada. A opção do diretor David O. Russell em transformar a adaptação do livro homônimo de Matthew Quick em uma maratona movida a câmeras de mão tremulas, conversas aceleradas e edição frenética é o ponto alto de “O Lado Bom da Vida”. E, talvez, a única coisa realmente a se festejar da película.
Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) perdeu quase tudo que tinha em sua vida: a casa, o emprego de professor e o casamento após encontrar a esposa numa banheira com outro professor, e esmurra-lo quase à morte. Após passar oito meses em uma instituição psiquiátrica, ele é “resgatado” pela mãe Dolores (Jacki Weaver), mas ainda apresenta sinais claros de transtorno bipolar, mudando radicalmente de humores seja por não encontrar um álbum de fotos, seja pela insatisfação com o final de um livro de Ernest Hemingway.
Em casa, Pat Jr. é o amuleto da sorte de Pat pai (Robert De Niro), um homem viciado em jogos e de comportamento tão radical quanto o do filho – numa ótima construção de personagens. Júnior tem apenas uma coisa em mente: quer recuperar sua ex-esposa e reconstruir a vida. É um pensamento tão forte que ele não consegue pensar em nenhuma outra coisa, e, com o agravante de não ceder aos medicamentos, transforma a vida da família Solitano em um pequeno caos de bairro classe média.
É nessa hora que entra em cena Tiffany Maxwell (Jennifer Lawrence), uma jovem viúva viciada em sexo que acabou de perder seu emprego por ter transado com todos os funcionários do escritório em que trabalhava. “Todos?”, pergunta Solitano Jr. “Todos”, responde Tiffany. “Até as mulheres?”, ele continua. E ela confirma. Tiffany deseja Pat desde o primeiro jantar em que se encontram, e começa a persegui-lo de forma insistente, mas Pat está convicto que irá conquistar sua ex-mulher e nem cogita ceder a tentação da garota.
As cartas estão na mesa: dois pombinhos movidos à base de Valium e vivendo seus piores momentos de neurose e autodestruição são o par romântico de “O Lado Bom da Vida”, e a opção pela câmera na mão e edição frenética faz com que o espectador entre na trama com os personagens, que ganharam atuações a altura: Bradley Cooper está ótimo e Jennifer Lawrence realmente surpreende, embora isso não justifique um Globo de Ouro muito menos uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Atriz. E De Niro é De Niro… sempre sensacional.
Porém, “O Lado Bom da Vida” padece de improbabilidade. Tiffany convence Pat a treinar dança com ela para um concurso em troca de que ela entregue cartas de Pat a sua ex-mulher (por lei, ele não pode se aproximar dela nem tentar nenhum contato). Em um pequeno deslize, Pat percebe que as cartas que Tiffany traz como respostas de sua ex-mulher na verdade estão sendo escritas pela própria Tiffany, e ao invés de se sentir enganado e ultrajado, ele mantém a calma e espera pelo melhor momento para provar seu amor para a amiga dançarina.
Tudo bem que um fã de comédias românticas aceite praticamente tudo (incluindo o impossível) para ver seu casal principal feliz, mas David O. Russell não consegue mostrar a mudança de comportamento de Pat de forma verossímil, e tropeça feio ao tentar dar profundidade a Tiffany (sua cena com o pai de Pat é patética), o que coloca todo o filme a perder. “O Lado Bom da Vida” não convence, é um passatempo para ver e esquecer, e suas oito indicações ao Oscar (incluindo Roteiro Adaptado e Melhor Diretor) mostram que a Academia não foi nem um pouco feliz neste ano. Até as comédias românticas já foram melhores…
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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Mac, gostei bem do livro e pelo que li da tua resenha (e de algumas outras notícias) acho que o filme não vai me agradar também. O filme muda a idade da Tiffany (que no livro colabora para as coisas fazerem mais sentido), até as músicas e o comportamento do pai e ao que parece o time do Philadelphia Eagles (que é o melhor coadjuvante do livro), também tem a importância reduzida.
Falar que o De Niro é sempre sensacional não procede, pois ele recentemente fez várias bombas, onde exibe uma canastrice no limite…
Até q enfim uma crítica sensata sobre esse filme. Saí do cinema sem entender o porque da babação de ovo da crítica. Um bom filme pra sessão da tarde e só!
Ben Afleck é o cara mais sortudo do mundo. Argo, que é bom, não tem concorrentes. Amour é ótimo mais a academia nunca iria premiar.