por Marcelo Costa
La Brasserie du Pays Flamand foi fundada em 2006 em Blaringhem, nos Flanders franceses, pertindo de Lille, e está mais próxima de Bruxelas do que de Paris, o que de certa forma explica a paixão de dois amigos, Olivier Mathieu e Duthoit Lesenne, por cervejas de abadia. A cervejaria só nasceu em 2006, mas a casa da Pays Flamand é uma velha destilaria que resistiu bravamente durante a revolução francesa, e só caiu após a Segunda Guerra Mundial. Na década de 90, a velha destilaria começou a produzir vinho e, em seguida, a paixão cervejeira viu nascer dois rótulos: a Anosteké Blond Ale e a La Bracine, que existe em seis versões.
Não é tão comum o país de Serge Gainsbourg arriscar nas India Pale Ale, e a Anosteké Blond cumpre bem o papel (mesmo querendo ser uma blond ale). O aroma é intensamente cítrico com a levedura mostrando a influência belga mais alguma coisa de floral e uma boa percepção alcoólica avisando que a cacetada é de 8%. O paladar é inicialmente adocicado (como as boas belgas de abadia) com forte presença de malte e notas frutadas que remetem a banana e a casca de laranja. O amargor surge provocante e o álcool se mostra presente chamando pra briga numa cerveja francesa de alma belga e coração indiano que se destaca pela curiosidade.
Já a linha La Bracine é dividida em sete versões: Blonde, Ambree, Brune, Blanche, as sazonais Noel e Printemps além da Triple, carro chefe e único rótulo a chegar ao País. Aqui os franceses seguiram a tradição das belgian tripel e a sensação é que eles podiam arrastar os 2 mil habitantes de Blaringhem e colocar a cidade no mapa belga. No aroma, notas cítricas que remetem a laranja e raspas de limão além de leve condimentado, fermento e sensações de mel e mamão. O paladar reforça as percepções do aroma com interessante simplicidade num conjunto frutado e adocicado que disfarça muito bem os 9% de álcool. Palmas.
Fundada em 1919 em Douai, no Nord-Pas-de-Calais francês (quase na fronteira com a Bélgica), a Les Brasseurs De Gayant é outra cervejaria da região a pagar tributo ao estilo desenvolvido pelos vizinhos. Responsável pela produção e distribuição das cervejas La Divine, Amadeus, La Bière du Démon, Bière du Désert, St Landelin Mythique e La Goudale Biere de Garde, a Les Brasseurs De Gayant se orgulha de ainda produzir cerveja “preparada com o mesmo cuidado que um bom vinho”.
Feita a partir de maltes especiais e lúpulos da região de Flanders, a La Goudale Biere de Garde segue a escola belga e destaca um aroma adocicado e leve, frutado e floral, remetendo a banana, malte de caramelo, baunilha e algo de cítrico. A leveza percebida no aroma bate ponto no paladar, marcado inicialmente por uma leve acidez que remete a condimentos (cravo e pimenta), mas que perde terreno para a doçura do malte de caramelo, que domina o conjunto deixando rastros de mel pelo caminho com o lúpulo apenas mantendo a doçura no lugar, mas sem acrescentar amargor numa daquelas cervejas que podem derrubar incautos. Bem boa!
As duas cervejas da La Brasserie du Pays Flamand – La Bracine Triple e Anosteké Blond Ale – podem ser encontradas com preços entre R$ 14 e R$ 18 (garraa de 330 ml). Já a La Goudale pode ser encontrada entre R$ 12 e R$ 17 na garrafa de 330 ml e entre R$ 38 e R$ 41 a garrafa de 750 ml.
Anosteké Blond Ale
– Produto: IPA
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 2,99/5
La Bracine Triple
– Produto: Belgian Tripel
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,83/5
La Goudale
– Produto: Biere de Garde
– Nacionalidade: França
– Graduação alcoólica: 7,2%
– Nota: 3,15/5
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