por Marcos Paulino
Entre as várias bandas que surgiram no final dos anos 90, dando a impressão de que o rock brasileiro viveria um novo boom, a Fresno foi uma das que mais se destacou. Foi figurinha fácil na TV e presença constante nas rádios. Isso fez com que, até hoje, quando a situação é bem outra, os gaúchos ainda gozem de certa popularidade. A ponto de se permitirem voltar ao estágio de independência de uma gravadora, e assim lançarem “Infinito”, sexto disco de estúdio em 13 anos de carreira.
Outro fato marcante para a banda foi a recente saída do baixista Rodrigo Tavares, que decidiu montar a Esteban, que parece já ter nascido com público fiel. Ainda assim, Lucas Silveira (vocal e guitarra), Gustavo Mantovani (guitarra), Mário Camelo (teclado) e Rodrigo Ruschell (bateria) não desanimaram. Principalmente Lucas, que além em 2010 lançou seu primeiro álbum solo, “The Rise and Fall of Beeshop”, e agora se desdobrou em múltiplas funções, inclusive a de fotógrafo, conforme ele conta nesta entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Voltar a ser independente foi opção ou falta de opção?
Foi sintoma de mercado. Fizemos parte de uma avalanche de artistas que deixaram as gravadoras grandes, porque hoje elas são muito mais escritórios de agenciamento e marketing. Elas deixaram de ser investidoras, só lidam com os artistas muito populares. Saímos da Arsenal de comum acordo, por uma questão de visão de mercado, e acho isso muito saudável. Começamos a trabalhar no “Infinito” sem saber se seria lançado por uma gravadora. Conversamos com algumas delas, mas nenhuma ofereceu algo que fosse ser um diferencial no disco.
Pra uma banda que já teve uma superexposição, como é voltar a ser independente?
Mas é uma independência diferente. Estivemos recentemente na Xuxa, no “Altas Horas”, coisas a que aquela Fresno de 2006 não teria o menor acesso. Tínhamos um público muito grande, mas era totalmente segmentado, na internet. Hoje temos uma popularidade que é até maior que o nosso sucesso com hits de rádio. Muitas pessoas conhecem as nossas caras, mas não necessariamente nossas músicas. Hoje em dia, a palavra independente tem um significado pra gente bem literal. Somos uma banda que não depende de uma gravadora.
Como a saída do Tavares mexeu com o dia a dia de vocês?
Ele tinha uma representatividade muito grande, principalmente junto ao público, porque fez parte daquela fase da superexposição. Mas já tínhamos um histórico anterior, então o impacto interno não foi muito grande. Sentimos o golpe porque foi justamente quando viramos independentes. A saída dele fez com que os quatro que ficaram se sentissem ainda mais unidos. Decidimos não colocar ninguém no lugar dele pra fazer com que essa formação se consolide.
O som do CD e até a temática das letras remetem a algumas bandas de rock progressivo. Essa foi realmente uma influência?
Nunca fui de ouvir rock progressivo. Mas talvez eu ouça coisas que as bandas de rock progressivo também ouvem. A gente diversificou muito nossa gama de influências, justamente por estar livre, o que também é um fardo, porque as escolhas são todas nossas. Essa liberdade tem um preço e uma responsabilidade do tamanho dela. Fui levando umas coisas que eu tinha pra gente ensaiar, até que vimos que já tinha uma cara de disco. Foi tudo bem rápido.
Como vocalista, você é quem aparece mais na banda. Neste disco, você também atuou como produtor e fez até as fotos da capa. Rola uma preocupação de que a Fresno fique muito com a sua cara?
Uma banda sempre precisa ter uma direção. Se tem muito cacique pra pouco índio, em algum momento a coisa degringola. Talvez tenha sido isso que fez o Tavares ter vontade de ter um projeto solo. Mas não sou uma pessoa autoritária. Desde o começo, sinto dos meus companheiros uma confiança muito grande, temos cabeças bem alinhadas. O meu modo de trabalhar é pensar na música de um modo global, até por mexer com produção há uns 10 anos.
Inclusive, no site da Fresno tem datas de shows do Beeshop, que é seu projeto solo. Dá pra conciliar as duas coisas sem problemas?
O Beeshop é uma coisa bem de lazer. Fiz um DVD no ano passado, que ficou lindo, mas com esse turbilhão de coisas da Fresno ainda não tive tempo de lançar. Aprendi muito produzindo para o Beeshop e apliquei na Fresno. Mas só faço quando sobra tempo.
A Fresno vem de uma geração de bandas que conseguiu novamente um espaço para o rock brasileiro, mas isso não se sustentou. Como você esse cenário hoje?
Vejo um espaço realmente menor, principalmente em rádio. As poucas bandas que tocam no rádio, nós inclusive, acabam ficando perdidas num mar de pop internacional. E nas rádios populares, daquelas que tocam sertanejo, a gente não entra, porque pra eles é diferenciado demais. Mas temos um trunfo muito forte, a internet, que às vezes dá inveja a um artista megaconsagrado. Nunca vi bandas como nós, NX Zero e Strike como um movimento. As pessoas veem como uma coisa só, mas quem ouve nossos discos hoje vê que são diametralmente diferentes.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.
Leia também:
– “Revanche”, quinto álbum da Fresno, é muito bem resolvido, por Bruno Capelas (aqui)
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