Entrevista: Rafael Castro

por Andressa Monteiro

Rafael Castro, 26 anos, pode ser considerado um artista multitarefas, com uma vasta disposição e facilidade de criação – um Jack White “punk caipira”. Ou James Franco, se assim preferir. O músico, que reside parte em São Paulo e parte em Lençóis Paulistas, mantém um estúdio na casa dos pais onde produziu todos os seus discos, entre eles, os quatro primeiros álbuns: “Fazendo Tricot” (2006), “40 dias em Hong Kong” (2007), “A Serenata do Capeta” (2007) e “Combustão Espontânea” (2007), Sim, três destes lançados em 2007.

Em 2008 ele formou o grupo Rafael Castro e os Monumentais e lançou os discos “Amor, Amor, Amor” e “Maldito”. Já em 2009, gravou mais dois álbuns: “Raiz” e “O Estatuto do Tabagista”, fora a produção de um EP em tributo ao cantor Roberto Carlos, além de ajudar na produção e na edição de projetos de amigos. Ufa! Ah, detalhe: tudo isso disponibilizado gratuitamente (ainda hoje em seu próprio site: http://rafaelcastro.com.br).

Finalmente, neste ano, surgiu o recém-lançado “Lembra?”, oitavo disco de uma carreira prolifica. Rafael, no entanto, não descansa: ele ainda tem material novo que pretende gravar e lançar em 2012. “Acredito que grande parte do que escrevo vem do ato de observar tudo que está ao meu redor. Por isso, tenho tanto a dizer”, complementa quando questionado sobre inspiração.

Ultimamente, tudo anda corrido na vida do compositor. Em um barzinho na Paulista, ponto de encontro de nossa entrevista, pergunto a ele porque trouxe um violão. “Pois é, estou procurando uma capa para ele, mas não encontrei nada que prestasse. Além disso, vou ensaiar com a banda daqui a pouco”, afirma, preocupado que alguma coisa acontecesse ao instrumento. Ele também comenta que a semana está super cheia porque sua namorada (a cantora Tulipa Ruiz) irá viajar e ficar 20 dias no Japão. “Daí fica tudo uma bagunça, né? Malas para arrumar, contas para pagar. Mas quando ela viajar, volto para Lençóis”, avisa.

No boteco, Rafael Castro falou sobre a sua carreira, gostos pessoais, sobre as faixas do álbum e sobre o seu interesse por dinossauros. Um bom papo! Confira abaixo:

Como foi o processo de composição do álbum?
Produzi o disco parte aqui (São Paulo) e parte em Lençóis. Eu sempre tive o costume de gravar tudo digitalmente. Antes de decidir lançar o disco em formato físico, estava pensando em gravar um álbum triplo digital, mas acabei deixando a ideia de lado. Estou gravando o “Lembra?” desde 2010. Deu bastante trabalho e agora estou na pilha de tocá-lo logo (risos). O nosso principal objetivo é focar na banda e ter uma renda com isso. Por mais bacana que seja produzir outros artistas a gente quer gravar e tocar as nossas músicas e investir na nossa carreira.

“Lembra?” é seu oitavo álbum de canções inéditas e será o primeiro a ganhar formato físico, ao contrário de todos os anteriores, lançados e distribuídos apenas virtualmente. Por que acabou optando por esse formato? E o que prefere mais: siscos, vinis ou escutar música em MP3 e iPods?
Não tenho costume de comprar discos e vinis. Quando era mais novo até comprava uma coisa ou outra, mas agora não tenho mais paciência. Acabo escutando no computador e se não gosto deleto e parto para outra. Acho muito mais prático. Com relação a produção do CD físico, muitas casas de shows e lugares (como SESC) pedem que o artista tenha um disco para entregar e ser analisado. O trabalho fica com um tom mais sério e o número de pessoas que o escuta se torna maior. Parece que quando gravamos apenas “na internet” o trabalho fica parecendo de “moleques”, ninguém leva muito a sério. Ganhar o CD acaba sendo um mimo.

Esse disco pode ser considerado um trabalho mais pesado e melancólico com relação ao seu penúltimo trabalho, “Raiz”?
Acredito que seja um pouco mais triste do que os anteriores. A maioria das faixas tem um mesmo tema em comum, que é o fracasso.

Você e Tulipa estão namorando e ela acabou participando da faixa, “Let Me Enjoy Myself”. Como funciona essa parceria no amor e no trabalho?
Eu pedi para a Tulipa participar da canção porque a música pedia notas bem agudas, o que ela consegue cantar facilmente. Foi engraçado porque ela nao gosta de cantar em inglês, mas acabou topando participar. A gente se divertiu bastante.

Na faixa-título, “Lembra?”, li que você disse ter encontrado um ex-VJ da MTV e ter se perguntado se alguém o conhecia, dizendo que a música retrata as dificuldades que a fama pode trazer, como o anonimato e o fracasso. Você tem medo que isso possa acontecer com você?
Não, comigo não. Mas foi uma observação que fiz e que achei interessante. Vi esse VJ e reparei que uma menina estava olhando para ele. Mas na verdade ele não conseguia distinguir se a menina olhava para ele porque o achava bonito ou porque estava tentando se lembrar de quem ele era (risos). Isso me tocou pra caramba. Das pessoas olharem para ele e ele não saber qual era o verdadeiro motivo do olhar.

O fracasso, que é o tema do álbum, está muito presente nas últimas quatro canções do álbum: “Lixo”, “Ruim”, “A Menina Careca”, e “Informação”…
A “Lixo” tem a ver com o diálogo entre mães e filhos. De dizer, “Olha, filho, você não tem o que comer, se você não fizer isso ou aquilo você não vai ter uma vida boa”. As canções “Ruim” e “A Menina Careca” vão nesse mesmo sentido e “Informação” tem a ver com os noticiários que assistimos hoje em dia.

Que é mais um desserviço à população?
Exatamente. E só você ver o Datena e tudo o que ele diz. Ele noticia coisas como: “O cara ficou louco e matou um”. Poxa, mas isso a gente vê todo dia acontecendo. Um amigo meu comentou que sente falta daqueles jornalistas de antigamente que eram considerados como heróis, que corriam atrás da notícia. Hoje em dia é diferente. Por isso quis mostrar essas observações que faço do cotidiano em forma de pequenos frames. Esses pequenos monstros que nós temos que lidar.

O disco conta com 14 canções. Tem um carinho especial por alguma delas?
Sim. Eu gosto bastante da faixa “Para Vender Mais, Agradar Mais, Se Falar Mais”. Acho que, de todas as faixas, essa foi a mais experimental, a que pude brincar mais e que ficou redondinha. A letra também foi produzida de maneira natural e fluiu bem.

Você tem um ritual para compor?
Não. Sento na frente do computador e escrevo um verso. Se não gosto, logo apago. Depois vou arrumando as frases, montando-as. Se escrevo à mão fica uma bagunça, porque erro, depois rabisco, enfim… Mas o meu processo de edição é bem aguçado, eu sei exatamente o que precisa ser feito e o que não está funcionando.

Quais são as suas influências? E o que você anda escutando?
Nunca tive o costume de escutar muita música ou bandas específicas durante a minha vida, mas me lembro que quando era menor gostava de The Kinks, Caetano, Chico Buarque e Raul Seixas. Quando tinha uns 15, 16 anos tive duas bandas covers e passei por uma fase heavy metal.

E livros e filmes?
A mesma coisa com música. Não consigo me aprofundar em algum assunto específico e nos últimos tempos ando totalmente sem tempo de ler. Vários amigos meus me indicam livros, acabo lendo 20 páginas e deixando de lado (risos). Mas gosto muito de ler manuais técnicos! Sobre aparelhos de som, técnicas, aprender como tudo funciona!

Você não é daqueles que gosta de ler sobre a história da música, biografias…
Nunca li a biografia de um músico! Acho meio chato quando me falam sobre um livro extenso dos Beatles ou como a história de tal artista é demais. Duvido que a história da vida real dele seja tão interessante e emocionante assim (risos). Se fossem escrever uma biografia minha, acho que daria um gibi! (risos)

É sério? Você gostaria? (risos)
Não! Se fosse minha teria que ser que nem essas dos Beatles! Bem grande (risos)! Já pensou que bacana ficaria? Cheia de acontecimentos. Fico me imaginando lendo quando estivesse bem velinho e não me lembrando de nada do que tinha acontecido (risos).

Na sua página do Facebook podemos ler: “Moro em Lençóis Paulista, sou músico, compositor, produtor e caçador de dinossauros. Bichos malditos!”?
Isso é totalmente mind-fuck. Sabe aquela coisa, “Sou músico, produtor, isso, isso e ainda caço dinossauros!”, mas lembro de que sempre gostei deles e que um dos primeiros filmes que assisti foi “Jurassic Park”. Gostei bastante!

Além de lançar o seu disco no site (feito por você mesmo), todas as faixas do álbum foram gravadas em um pequeno estúdio montado na casa dos seus pais. Você já pensou em gravar em outros lugares, com ajuda de mais profissionais?
Eu realmente prefiro fazer as coisas sozinho. Já tentei gravar em um estúdio super bacana de um amigo meu, mas não gostei do resultado. Parecia que tudo estava fora de lugar, a minha voz estava feia, os arranjos. Não sei por que, mas acho que o meu estúdio e o meu equipamento são diferentes de qualquer outro. Além do mais, posso gravar tranquilo, de cueca, fumando um cigarro atrás do outro e me divertindo. Essa é a minha maneira de gravar.

Você produziu dois EPs do músico Cleiton Rolo, que faz parte da banda Fast Food Brazil. Quais são as principais diferenças de produzir o seu próprio trabalho e o de outros artistas?
Não há muitas diferenças, mas o processo de edição se torna mais fácil. Se tem algo que eu escuto e que não se encaixa ali, tento conversar e digo que é desnecessário, que pode ser retirado. A partir daí conversamos, discutimos e resolvemos qual é a melhor solução.

Você lançou no final de 2011, o EP “RC Canta RC” com versões de canções de Roberto Carlos, pela Traquitana Discos. De onde surgiu o interesse pelo cantor?
Na verdade esse projeto começou como um show ao qual fui convidado. Mas como não tinha tempo para ensaiar com os músicos e fazer arranjos novos para as músicas, resolvi gravar sozinho em casa mesmo. Acabei criando um arranjo e adorei! Foi então que decidi gravar o EP. Confesso que não gostava muito do Roberto Carlos, mas com esse trabalho aprendi a gostar e a conhecer mais músicas dele.

Você já tem quatro clipes lançados incluindo a canção “Lixo”, presente no disco novo. Gosta de gravar videoclipes?
Gosto bastante. Escrevi os scripts de todos os vídeos e adoro dar sugestões. Quero muito comprar uma câmera e aprender a mexer, filmar. Geralmente, quando a gente produz um vídeo precisa de amigos que ajudem, um câmera-man, então sempre dá um pouco mais de trabalho.

Você acha importante a divulgação de artistas independentes em grandes meios de comunicação? Qual a sua opinião sobre artistas que não gostam de aparecer em certas mídias ou do público em geral que acha que uma banda está se vendendo quando opta por aceitar certos trabalhos?
Eu acredito que isso não acontece com todos os artistas independentes e que a maioria dos casos é apenas falácia. Eu adoraria tocar no Faustão, por exemplo, ter a minha música na trilha sonora de “Malhação”, como o Charlie Brow Jr (risos). O meu objetivo é espalhar a minha música para o maior número de pessoas possível. Músico que não gosta de tocar em certos lugares para mim é nazista. “Ai, eu não gosto de tocar para grandes massas”. Você é o Hitler, então, né? Com relação a gravadoras é a mesma coisa. Se você leu um contrato e está de acordo com ele, não tem do que reclamar depois.

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– Andressa Monteiro (siga @monteiroac) é jornalista e assina o blog Goldfish Memory

3 thoughts on “Entrevista: Rafael Castro

  1. Dois comentários e duas visões opostas. O que deduz um artista interessante, que divide opiniões. Pelo menos o show é divertido e bom musicalmente. Gostei muito do que no

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