por Marcos Paulino
Criado em 1997 como um espetáculo teatral, em Arcoverde, o Cordel do Fogo Encantado se tornou uma banda que ultrapassou os limites de Pernambuco, apresentando-se inclusive no exterior e colecionando prêmios. Até que, em fevereiro de 2010, Lirinha, um de seus fundadores, anunciou sua saída, pegando os fãs de surpresa.
Após se refazer desse susto, Clayton Barros, outro esteio do grupo, sacodiu a poeira e partiu para um novo projeto, Os Sertões, que está lançando seu primeiro disco. O CD “A Idade dos Metais”, conforme acusa o nome, abusa do sopro, que vai amarrando as faixas. O som, na definição de Clayton, é “uma miscelânea musical, que não obedece a um critério rítmico”.
Sobre esse trabalho, ele conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Como foi a transição de uma banda bastante conhecida, como o Cordel do Fogo Encantado, para uma que está nascendo?
É como se eu estivesse numa determinada aceleração e tenha dado uma reduzida, trocando de transporte. Foi um hiato curto entre as duas e agora já estou trocando pra uma marcha mais veloz. É uma questão de reerguer-se, de se recolocar no mercado. Tem um tempo de preparação, de desapego. Ficam a saudade e a força que o Cordel me deu. Pude conhecer o Brasil, fazer shows maravilhosos, conhecer grandes artistas. Tive momentos difíceis, mas agora é um momento iluminado, de muitas realizações e muito trabalho.
Até pelo fim inesperado do Cordel, seu nome ainda é muito atrelado àquela banda. Isso te traz uma responsabilidade maior?
Traz uma responsabilidade enorme, e junto a isso um prazer enorme. Nem falo ex-Cordel, porque acho que ele ainda existe em cada um dos integrantes. Não que eu prometa uma volta, porque isso nem se discute ainda. Mas ele ainda está vivo, só adormecido. Tenho o maior orgulho do mundo em carregar essa referência. O Cordel só me deu coisas boas e a oportunidade de dar mais um passo com outra banda.
Sabe-se que você trouxe para Os Sertões algumas composições que não couberam no formato do Cordel. Você já imaginava como seria o perfil sonoro da nova banda?
Fomos descobrindo esse perfil durante a concepção do disco. Meu começo na música vem dos bares, voz e violão. Então a diversidade musical sempre esteve na minha cabeça. Conheci o Rafael Duarte, baixista e produtor do disco, em 2006, e através dele Deco Trombone e Perna (bateria). Surgiu a oportunidade levá-los para produzir um disco do Cordel, que não veio. Mas nisso passamos uns dois anos juntos, o que nos deu um entendimento musical muito maior e um entrosamento muito grande. Quando o Cordel acabou, já havia uma sonoridade entre nós. Fiquei dois meses recluso, fora de Recife. Quando voltei, trouxe as composições que tinha no baú e já marquei um show pra dali a dois meses, pra deixarmos o ócio de lado. Começamos a trabalhar pra compor o restante do repertório nesse prazo. Foi muita ralação.
Você quer manter em Os Sertões a característica tão mar-cante do Cordel de levar elementos teatrais para as apresentações?
Utilizo o máximo de experiência que o Cordel me deu, de entendimento de palco, de luz, de figurino. A imagem da banda é trabalhada pra que não seja associada ao sertão que o Cordel visitou, de Canudos, de Euclides da Cunha. Pensamos em algo mais voltado pro sertão faroeste, “O Coronel e o Lobisomem”, Guimarães Rosa. O disco tem vários capítulos, como se fosse um livro musical. Mas não tem a necessidade de contar uma história, e sim diversas passagens. É um olhar cronista do que a gente observa, e também um tanto autobiográfico, de amor, de saudade, da infância.
A capa do disco faz uma referência a “Sgt. Pepper’s”, dos Beatles. Qual a intenção?
É uma homenagem escancarada e divertida a esse disco. Essa capa dos Beatles foi um divisor de águas na arte sobre o vinil. No ano passado, ela fez 45 anos. Deixei uma série de referências pro estúdio que faria a capa e eles bolaram essa brincadeira. No início, fiquei um pouco relutante, porque poderia ser massacrado como plágio, mas achei muito divertido, porque traz elementos que fazem parte da gente. E também achei totalmente vinil, por isso fizemos um pôster pra pôr dentro do CD. Isso é prenúncio de uma tiragem especial em vinil.
Vocês fizeram uma versão pra uma música do Zé Ramalho e tem a participação do Otto no disco. Isso teve o propósito de dar uma cara mais comercial pro projeto?
Toda vez que componho, tenho a influência de algum antigo hit que eu tenha tocado num bar. Tenho a intenção de fazer uma música que as pessoas possam cantar, e não um som mais cabeçudo. O mercado da música é meu sustento. Mas tem uma questão filosófica nessas regravações. Trazer uma música de Zé Ramalho é uma homenagem a uma figura que sempre toquei muito na noite, que respeito extremamente. Essa música tem um caráter de injeção de ânimo, de superar obstáculos, de seguir adiante. Já a música que Otto canta foi feita pelo Rafael praticamente pra ele. Fizemos o convite e ele topou. Isso fortaleceu nossos laços musicais e de amizade.
Como está sendo a recepção de Os Sertões fora do Nordeste?
Claro que não espero a mesma recepção do Cordel, que também foi galgada passo a passo. Quero passar por essa experiência de novo, mas em um momento diferente. O público é que decide se gosta ou não. Tenho recebido muitos elogios, as resenhas têm sido boas.
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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira
Também ouvi esses caras, adorei o som. Grata surpresa, né não? Inclusive dei destaque lá no meu blog também.
Tem shoiw deles no Sesc Pompéia terça que vem. De graça!!! Conferir se têm força ao vivo…