CDs: O Terno, André Mendes, Trupe Chá de Boldo

1000 Toques por Bruno Capelas

“66”, O Terno (Independente)
“66”, disco de estreia do trio paulistano O Terno, foi lançado num show no Auditório Ibirapuera no mês de junho com certo frisson. Duas são as causas de certo alvoroço em torno da banda, formada por Tim Bernardes (voz e guitarra), Guilherme “Peixe” (baixo) e Victor Chaves (bateria). A primeira é a faixa-título, que cita Roberto Carlos e dodecafonia para falar sobre a dificuldade de se fazer música inovadora hoje em dia – repare no órgão Hammond tocado por Marcelo Jeneci, que também aparece na bem-humorada “Zé, Assassino Compulsivo”. A outra é Maurício Pereira, dos Mulheres Negras. Pai de Tim, ele oferece ao filho cinco de suas composições, entre elas as boas (embora um tanto quanto paulistas demais) “Modão de Pinheiros” e “Quem é Quem”. Ainda que cercado por cacoetes sessentistas e perpassado por certo vício em temas como a morte e o pessimismo, “66” é um trabalho bacana, de uma banda que merece atenção em próximas temporadas.

Nota: 6,5

“Nave Manha”, Trupe Chá de Boldo (Independente)
Em seu segundo álbum, a Trupe Chá de Boldo continua seguindo à risca a influência paulistaníssima de Itamar Assumpção. É possível sentir as impressões digitais do Nego Dito em boa parte de “Nave Manha”, com sua interessante mistura bem azeitada de samba e música negra. É o caso de “No Escuro”, baseada no blecaute ocorrido em 2009, ou no gracejo de “A Rolinha e o Minhocão”, que conta com a participação de André Abujamra. Tatá Aeroplano aparece em dois momentos no disco: cedendo “Mar Morro”, do Cérebro Eletrônico, que aparece em versão morna, e cantando em “Splix”, que procura fugir de rótulos ao explicar que “o som é uma onda curva”. Apesar de bons momentos, o disco cansa um pouco por sua sensualidade um bocado fora de lugar e sua sonoridade por vezes repetitiva. Falta densidade ao som do Baixo Augusta – rua que, por sinal, é citada três ou quatro vezes ao longo do disco –, o que compromete o resultado final de “Nave Manha”.

Download Gratuito: http://trupechadeboldo.com/
Nota:5

“Enfim Terra Firme”, André Mendes (Independente)
Devia ser difícil ser roqueiro na Salvador dos anos 90, dominada por ACM e pela axé music. Mas esses obstáculos não impediram André Mendes de fazer riffs inspirados com a sua banda, a Maria Bacana – dona de uma das músicas mais legais da década, “Repeat Please”. Depois do término da Maria Bacana, Mendes passou um tempo inativo, até ressurgir em 2010 com um belo disco, “Bem Vindo à Navegação”. “Enfim Terra Firme”, seu mais novo trabalho, segue a linha da estreia, com guitarras ensolaradas e letras sentimentais que ganham força com a voz sincera de André. É o que acontece, por exemplo, nas boas baladas “Breve e Leve” e “Tão Sós” (que lembram bastante a Legião Urbana de “As Quatro Estações”), ou de “A cidade que eu digo não”, na qual o cantor deixa claro que não se sente confortável dentro de Salvador. Vale ainda destacar o resgate de uma boa canção da Maria Bacana, “Fome”, e seu refrão pungente: “me conte quantas vezes você já se sentiu só?”. Para ouvir, se aquecer e abrir um sorriso.

Download Gratuito: http://www.andremendesmusica.com.br/
Nota: 7,5

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde maio de 2010  e assina o blog Pergunte ao Pop.

4 thoughts on “CDs: O Terno, André Mendes, Trupe Chá de Boldo

  1. Na boa, cansei de banda “moderna” que soa 66: pra mim, esse som fala mais sobre esses loko mesmo que sobre qualquer outra banda. Ainda que possa ser interessente, fede mofo…

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