Show: Um golaço do Pato Fu em SP

Pato Fu toca “Gol de Quem?” no SESC Belenzinho – 28/07/2012
Texto e fotos por
Bruno Capelas

Comemorando 20 anos de idade, o Pato Fu tocou numa noite de sábado de julho (28) no SESC Belenzinho um repertório especial. No lugar dos sucessos e trabalhos recentes, os mineiros recuperaram o álbum “Gol de Quem?” (e outros deliciosos lados-B), dentro do projeto ‘Álbum’ da casa paulistana. (Em outras ocasiões, a iniciativa do SESC fez os Titãs lembrarem “Cabeça Dinossauro”; e os Paralamas do Sucesso, “Selvagem?”). Se a princípio a escolha pode parecer estranha – o disco, lançado em 1995, não é lá exatamente fácil para ouvintes incautos e gente que conhece o Pato Fu pelas músicas que tocaram nas novelas – ela fez todo o sentido assim que o grupo subiu ao palco para tocar, na sequência original, as catorze faixas do álbum que, graças a um grande single, tornou a banda conhecida em todo o país.

Com o guitarrista John Ulhoa no centro do palco e das atenções, cantando a maioria das músicas do show, o Pato Fu abriu uma cápsula do tempo em São Paulo, sem apelar para a nostalgia barata. Em 1995, a banda ainda era um trio, usava bateria eletrônica em shows e gravações, e o povo brasileiro começava a se entender com sua nova moeda e uma realidade sem inflação galopante. Entretanto, algumas coisas parecem ter permanecido daquela época.

A atualidade da dupla “Vida de Operário” (escrita pelo grupo punk Excomungados) e “Vida Imbecil”, é um exemplo. Se a primeira denuncia a exploração do trabalho, a segunda ironiza o comportamento saudável (mas medíocre e tétrico) que virou tendência desde os anos 1990. Em ambos os casos, a sensação que fica é de que as coisas só parecem ter ficado mais sofisticadas – e idiotas: vale ouvir “Vidinha”, de Rita Lee, para entender. A força pop da freudiana “Mamãe Ama Meu Revólver” continua imbatível, tendo sido a música mais cantada pelo público presente. Permanece intocada também a beleza da versão fu para “Qualquer Bobagem”, dos Mutantes, e do hino adolescente “Sobre o Tempo”, considerado por John como argumento para explicar “o sucesso estrondoso do Pato Fu nas décadas seguintes”, em contraposição às porralouquices “inúteis” (palavras, novamente, de John) de “Ok! All Right!” e “Sertões”.

Por outro lado, a apresentação no SESC Belenzinho mostrou a passagem do tempo para a banda – e não que isso seja um problema. Boa parte da estranheza do disco de 1995 residia na bateria eletrônica e nos milhares de samplers utilizados no disco, gerando certa irritação para marinheiros de primeira viagem. Ao vivo, porém, esses empecilhos caíram por terra com a presença de Lulu Camargo nos teclados, e, sobretudo, a mão pesada de Xande Tamietti comandando as baquetas. Viagens sonoras como as de “Sertões”, “Onofle” e “Spoc” funcionaram muito melhor no palco que em estúdio, com um som mais orgânico e a ajuda de uma plateia bastante animada.

Pondo um pouco de lado o túnel do tempo, vale ressaltar o domínio de palco que a banda tem, e a capacidade de entreter o público de uma maneira bem-humorada, sem soar espetaculosa. É o que acontece, por exemplo, quando Fernanda convida alguém da plateia a servir de teste para o martelinho de brinquedo que serve como percussão de “Ring My Bell” (que contou com uma coreografia risível e empolgante puxada pela banda), ou quando Ricardo Koctus faz piada com John, citando o verso “quando penso em nós três”, do hit “Depois”, como uma metáfora para a relação entre o guitarrista e o baixista.

Após a espivetada versão de “Ob-La-Di Ob-La-Da”, que encerra “Gol de Quem?”, a banda deixou o palco e voltou para um bis com uma seleção sob medida para os fãs da época do canal #patofu no mIRC, com direito ao barulho que deve ter assustado os ocasionais senhores de idade que compõem parte da plateia de todos os shows imagináveis da rede SESC. De uma vez só, o Pato Fu atacou com o “Hino Nacional do Pato Fu”, a divertida sátira ao machismo “O Filho Predileto de Raajnesh”, e “2 Malucos”, uma das faixas mais subestimadas de “Ruído Rosa”, de 2001.

Em um momento do bis, Xande Tamietti assumiu o padman – aquela bateria eletrônica que John tocava com o corpo na clássica apresentação da banda no Faustão – para um momento rock de boteco, quando o Pato Fu lembrou “Give It Away”, do RHCP, e a juntou com “We Will Rock You” e “Like a Virgin”, com direito ao baixista Ricardo Koctus vestido de Freddie Mercury em versão “Viva Las Vegas”, provocando muitos, mas muitos risos. Para encerrar, não sobrou pedra sobre pedra quando os mineiros tocaram “Rotomusic de Liquidificapum”, a epopeia roqueira tropicalista de 7 minutos que dá título a seu primeiro disco, lançado em 1993.

Hoje e amanhã, 3 e 4 de agosto, o Pato Fu volta ao SESC Belenzinho para mais dois shows, tocando “Gol de Quem?”. Ambos têm ingressos esgotados, deve-se dizer, mas vale correr até à zona leste para tentar comprar na porta de última hora. É uma chance de ouro para quem quiser ver uma das melhores bandas brasileiras em grande fase, e tocando um repertório que não é usual em seus shows, mas que merece ser escutado e reescutado. Após 17 anos, vendo o trio/quinteto em cena, é fácil responder a pergunta do título: o golaço é do Pato Fu.

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde maio de 2010  e assina o blog Pergunte ao Pop.

Leia também:
– Entrevista: John Ulhoa e os 20 anos do Pato Fu, por Tiago Agostini (aqui)
– “Música de Brinquedo” ao vivo no Ibirapuera, por Marcelo Costa (aqui)
– Pato Fu duas vezes ao vivo em São Paulo, 2010, por Tiago Agostini (aqui)
– O tempo amigo do Pato Fu, por Marcelo Costa (aqui)
– Quatro vídeos: Lados b do Pato Fu, por Marcelo Costa (aqui)
– “Daqui pro Futuro”, Pato Fu, por Marcelo Costa (aqui)
– “Onde Brilhem os Olhos Seus”, Fernanda Takai, por Marcelo Costa (aqui)
– “Toda Cura Para Todo Mal – DVD”, Pato Fu, por Marcelo Costa (aqui)
– Pato Fu ao vivo em Taubaté, 31/03/00, por Marcelo Costa (aqui)
– “Toda Cura Para Todo Mal” faixa a faixa por Fernanda Takai (aqui)
– “MTv ao Vivo”, Pato Fu, por Fábio Sooner (aqui)
– Scream & Yell entrevista Fernanda Takai, por André Azenha (aqui)
– “Rotomusic de Liquidificapum 15 Anos”, Pato Fu, por Marcelo Costa (aqui)
– “Toda Cura Para Todo Mal – DVD”, Pato Fu, por Marcelo Costa (aqui)
– Pato Fu libera vídeos em site especial, por Marcelo Costa (aqui)

2 thoughts on “Show: Um golaço do Pato Fu em SP

  1. EXCOMUNGADOS É A BANDA DO PELADÃO PEKINEZ GARCIA, ANARQUISTA SUBVERSIVO E BEBUM… DUKA ESSA BANDA, BEM LEMBRADO PELO PATO FU, GOSTARIA DE UM DIA VER ESSAS DUAS BANDAS DIVIDINDO O PALCO. ABRAÇOS!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.