Entrevista: Wannabe Jalva

por Andressa Monteiro

Com dois anos de existência, um álbum lançado e um coelho dançante como mascote, o Wannabe Jalva, formado por Rafa Rocha (vocal, guitarra, baixo, teclados), Felipe Puperi (vocal, guitarra, baixo, teclados), Tiago Abrahão (guitarra, baixo, teclados) e Fernando Paulista (baterista), tiveram uma grande responsabilidade no ano passado: abrir os shows para uma das maiores bandas de rock do mundo, o Pearl Jam.

Mesmo com pouco tempo de carreira, o Wannabe Jalva passou o ano de 2011 bem ocupado. Em janeiro, tocaram na primeira edição do M/E/C/A Festival, RS, ao lado de bandas como Two Door Cinema Club e Vampire Weekend. Dividiram o palco com o Holger, Garotas Suecas e Apanhador Só, além de terem se apresentado no Lupaluna 2012, maior festival de música do Paraná, que nesta edição teve entre os principais nomes Buena Vista Social Club, Los Hermanos, Criolo e Céu.

Veio então o lançamento do primeiro disco, “Welcome to Jalva”, em junho de 2011, com sete faixas produzidas pela própria banda. A masterização ficou a cargo de Brian Lucey, responsável por “Brothers”, álbum premiado do The Black Keys. Graças a divulgação de blogs, redes sociais e amigos, foram mais de 7.200 execuções do disco em apenas 10 dias no Facebook. Estão agendando apresentações por todo país e já iniciaram a produção do seu primeiro clipe.

O guitarrista Tiago Abrahão conta nessa entrevista mais curiosidades sobre o grupo e seus companheiros de banda. O álbum “Welcome to Jalva” está disponível gratuitamente via download no site oficial e por streaming na página de Facebook. Com vocês, Wannabe Jalva!

“They are quite good… we wish them the best!”. Essa foi a frase que Eddie Vedder disse durante o show do Pearl Jam, em Porto Alegre, no ano passado, para descrever vocês. Como foi a sensação de ter recebido esse elogio e como rolou o convite para abrir o show?
Obviamente somos fãs de Pearl Jam. O Eddie tem total noção do que ele representa pra nós… ele viu nosso show do palco, do nosso lado. Ele sabia que a presença dele ali seria como um tapinha no ombro e um “keep up the rock”. A sensação foi como receber uma benção, um empurrão pra continuar a fazer o que acreditamos. Ele elogiou as músicas que viu e soltou um “you guys should keep on stage”. É a benção que ninguém de nós imaginou receber um dia. Pra completar, o cara ainda nos agradece e nos deseja o melhor, no meio do show deles pra 20 mil pessoas. Depois de “Last Kiss”. Foi foda. O convite veio por eles mesmos… a produção do PJ caçou bandas pelo Brasil pra abrir um dos shows, não sei quantas nem quais bandas foram consideradas, mas um dia chegou um e-mail da produção para nós dizendo, “These guys are good to go. Confirm Wannabe Jalva Opening Act in Porto Alegre!”

Que bacana! E como foi a resposta do público durante o show de vocês?
Foi muito além do esperado. Nos recepcionaram muito bem. A gente chegou a pensar que se não fossemos vaiados, já estariamos no lucro (risos). Mas foi muito pelo contrário. O público foi bem caloroso, o que nos impressionou. O PJ é uma banda que tem muito fã diehard e a gente sabe que é um desafio arrancar alguma reação positiva em um caso como esse.

Por que a escolha do nome “Wannabe Jalva”?
Wannabe Jalva na verdade nos escolheu. Essa história é totalmente verídica. Wannabe Jalva saiu durante uma daquelas conversas sem pé nem cabeça… Aquilo ficou na minha cabeça e, um dia, depois de ficar horas bebendo em um bar, conversando com o Felipe e com o Rafael, na hora de ir embora, já no estacionamento eu falei que aquilo tudo que estávamos criando e gravando devia se chamar Wannabe Jalva. Nesse exato segundo, um risco passou no céu, juro… E foi tão longo que eu consegui fazer o Felipe e o Rafa olharem. O nome nos escolheu… A gente se atordoou e esse foi o batismo.

O mesmo risco passou pelo céu como forma de aprovação quando vocês escolheram um coelho dançante para mascote do grupo (risos)?
Haha, na verdade isso foi uma das poucas coisas que a gente escolheu por nós mesmo. O coelho a gente descobriu que está sempre presente por ai, no cinema, nas artes, em muitas coisas que nos influenciam. O que aconteceu foi que a gente resolveu nos representar, inicialmente, assim, como arte, até descobrirmos que ele poderia vir a ser algo mais pra nós. Por isso ele foi pra capa do disco.

Como aconteceu o encontro e a formação da banda?
Trabalho com o Felipe na Gogó Conteúdo Sonóro (uma produtora de áudio). Trabalhamos há anos juntos e começamos a compor e registrar ideias. Surgiu a ideia de chamar o Rafael, que já conheciamos de outros carnavais. Todos já tivemos outros projetos, então a gente foi bem aos poucos entendendo o que queríamos e começamos a compor juntos. Depois de uns meses de encontros, desencontros e cervejas, a gente chamou o Paulista, que era amigo do Felipe. Terminamos de compor e registramos três músicas pra nós mesmos… Um dia soltamos na internet e as coisas começaram a surgir. Pelo caminho tivemos a sorte de encontrar pessoas incríveis como o Titi e o Chris, que hoje são Jalvas também.

E o encontro e masterização do disco com o produtor Brian Lucey?
Na época nós estavamos finalizando mais quatro músicas pro nosso “EP/disco”. Todo o processo foi executado por nós mesmos e eu queria a mão de alguém de fora, alguém que a gente pudesse fechar o olho e deixar o cara fazer o lance dele. O Brian Lucey masterizou diversos discos incríveis, dentro eles o “Brothers”, do Black Keys. Acompanho ele há um tempo pois ele é (era) um rato de fóruns sobre engenharia de discos, masters, áudio em geral. Sempre postando e discutindo equipamentos e tudo mais. Mandei um mail pra ele e acertamos a master pro “Welcome to Jalva”.

Conta mais sobre o processo de composição e criação do primeiro álbum…
Bom… Depois de lançar as três primeiras músicas (“Come and Go”, “Follow It” e “Phone Call”), a gente conseguiu alguns shows, mas seria impossível fazer um show só com três músicas e a gente sempre quis ter só músicas nossas pra tocar ao vivo, então juntamos várias ideias que tínhamos e nos trancamos pra compor e registrar o resto do disco. Sempre tem bastante colaboração entre eu, o Felipe e o Rafa. Uma ideia mais completa de alguém, com um refrão do Rafa, com uma outra parte minha… A gente monta um quebra-cabeças com as nossas colaborações. Rola um respeito mútuo e admiração pelas ideias entre nós. Vamos registrando, fazendo pré-versões até levar tudo pro registro final.

O álbum tem quantas faixas? Há alguma preferida?
Nosso disco tem sete faixas. Ele foi inicialmente pensado pra ser um EP, mas com sete faixas ele tem 30 minutos, e isso hoje é um álbum, então passamos a vê-lo e encará-lo como um álbum full. Pessoalmente gosto de “You and I” que são praticamente duas músicas, uma no meio da outra, além de fugir totalmente de receitas de bolo/padrões. Ela é a minha preferida.

Qual será a música escolhida para o primeiro videoclipe? E como andam os preparativos para a gravação?
“Something New” está ganhando um vídeo. Temos toda a ideia e a produção já está fechada. O Ian Ruschel, que é um cara com uma visão e um bom gosto incrível que a gente teve a sorte de esbarrar pelo caminho, vai dirigir. Ainda não foi filmado porque não conseguimos alinhar a agenda de todos, mas deve rolar nas próximas semanas.

Quais são as influências da banda?
Acho que tudo nos influência: rock, soul, funk, pop. Tudo que é bom e tem sido produzido nas últimas décadas e anos. Todos nós ouvimos e nos influenciamos desde sempre, então tudo desde filmes, discos, música dos anos 30 nos influencia. Já ouvi metal, rock, funk, Pantera, Red Hot Chili Peppes, Otis Reading, Parliament, Fela Kut. Já pirei em filmes do David Lynch, já quase chorei quando vi de perto um quadro do Van Gogh, e isso me influenciou também.

E essa emoção de ter visto o quadro se transformou em letra ou melodia (risos)?
Olha, não sei dizer se isso virou alguma letra ou melodia específica, mas com certeza me levou a acreditar e ir mais fundo na nossa arte. Talvez inconscientemente me levou mais fundo na concepção de uma música, polir mais uma ideia até chegar no máximo dela. Acredito que arte, música, qualquer manifestação é isso, é ser sensível o suficiente pra transformar experiências e influências em ideias novas, de outro ponto de vista. Mas o que realmente conta é o caminho até você se convencer que já trabalhou o bastante nessa música, melodia, letra, etc.

Como foi a experiência de tocar ao lado de bandas como Two Door Cinema Club e Vampire Weekend, Holger, Garotas Suecas e Apanhador Só?
Foi e é tudo aprendizado. Cada banda é como uma família diferente. Todo mundo tem uma loucura diferente. A gente aprendeu a ver a nossa loucura e achar nosso caminho, vendo grandes bandas e fazendo amigos pela estrada. Nos ajudou e ajuda a nos organizar como banda e equipe.

Projetos futuros?
Tocar em todo e qualquer lugar do Brasil. E no final desse ano pensar no próximo disco.

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– Andressa Monteiro (siga @monteiroac) é jornalista e assina o blog Goldfish Memory

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