Entrevista: Arnaldo Antunes

por Marcos Paulino

Arnaldo Antunes está completando 30 anos de carreira a todo vapor. Na verdade, ele vem mantendo o ritmo acelerado de produção artística que sempre o caracterizou, desde que estreou com os Titãs, em 1982. Foram 10 anos na banda, na qual se destacou como um criativo compositor. Em 2002, juntou-se a Marisa Monte e Carlinhos Brown no trio Tribalistas, também sucesso. E ainda escreveu livros, fez música para crianças no projeto Pequeno Cidadão, compôs para outros artistas e para sua carreira solo, assinou colunas em jornal, apresentou programas de TV, participou como cantor e letrista de bandas brasileiras e internacionais, enfim, trabalhou bastante.

No final do ano passado, Arnaldo lançou com o guitarrista Edgard Scandurra e com o malês Toumani Diabaté, especialista em kora, instrumento africano que lembra a harpa, o disco “A Curva da Cintura”. E acaba de mandar para as lojas o CD e o DVD “Acústico MTV – Arnaldo Antunes”, em que dá novo formato a uma seleção de canções das várias fases de sua carreira. Gravado em São Paulo, o DVD traz 22 faixas, que fazem um apanhado de sua produção nestas três décadas. Confira a seguir a entrevista de Arnaldo ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.

Este novo DVD comemora os seus 30 anos de carreira, o que é uma marca significativa. Como você se sente nesta altura da sua trajetória?
Na verdade, foi uma coincidência a MTV ter me convidado pra gravar este DVD neste momento, e não um projeto pensado pra comemorar os 30 anos de carreira. E foi uma coincidência feliz, porque um acústico é uma oportunidade de reler a carreira através de uma nova sonoridade, com novos arranjos. Eu quis fazer um repertório que fosse representativo da minha carreira como um todo. Foram várias fases da carreira solo, 10 anos de Titãs, os projetos paralelos e as muitas músicas minhas com vários parceiros.

Alguns desses momentos da sua carreira foram marcados por músicas de muito sucesso. Quais critérios você usou para escolher quais entrariam no DVD?
Foi uma tarefa difícil. Quis fazer um roteiro baseado em vários critérios. Algumas músicas, mais pesadas, eu tinha curiosidade de ver como ficariam na formatação acústica. As mais serenas eu sabia que iriam se adaptar bem. Também queria incluir músicas mais e menos conhecidas e coisas que eu nunca tinha cantado. Tem também a coisa do que funciona. Fizemos os arranjos pra ficar uma coisa original. Não gostaria de gravar as músicas repetindo o arranjo tradicional.

Há alguma época dessas três décadas que você veja como realmente emblemática da sua carreira?
São várias, que estão representadas neste DVD. A fase com os Tribalistas, por exemplo, foi marcante, e eu queria que tivesse pelo menos uma música dessa época. Escolhi “Passa Em Casa” porque ficou melhor o arranjo. Tem várias fases da carreira solo que também acho importantes. Enfim, a representatividade dessas várias fases está bem sintetizada nesse roteiro.

O show dos Titãs na última Virada Cultural foi apontado como um dos melhores, até pela animação da banda, da qual você saiu há 20 anos. Quando você vê aqueles caras no palco, o que passa pela sua cabeça?
Fico feliz. São amigos, parceiros, a gente continua se encontrando pra fazer música. Não tenho saudosismo. Fico satisfeito de ver o sucesso dos Titãs. Inclusive eles me convidaram pra participar de uns shows no segundo semestre, pra comemorar os 30 anos da banda. Então a gente deve se encontrar no palco em breve.

Você já passeou por vários estilos musicais, do rock à música infantil, passando pela MPB. Sendo assim, você consegue identificar quem é seu público hoje?
Tem gente que me acompanha desde a época dos Titãs e continua indo aos shows, conhecendo o trabalho, tem adolescente que está aparecendo agora, conhecendo as coisas mais recentes. O público que vai aos shows tem uma faixa etária muito diversificada.

Os Tribalistas conseguiram uma boa exposição no exterior e você já trabalhou com a banda portuguesa Clã. Está nos seus planos tornar sua carreira mais conhecida lá fora?
O sucesso é uma coisa que a gente não prevê, vai acontecendo. Mas espero que sim, que o trabalho vá crescendo e sendo ouvido por um número cada vez maior de pessoas. Vou cumprindo o meu desejo, que é me expressar artisticamente. O resto é uma decorrência imprevisível.

Aliás, você se expressa artisticamente de várias formas, compondo, cantando, escrevendo livros, apresentando programas na TV. Depois de 30 anos, você ainda sente fôlego para tanta produção?
Enquanto está sendo prazeroso, sim. Pra mim é muito natural, espontâneo. Transito por várias linguagens, mas sempre acaba envolvendo o trabalho com a palavra, seja nas canções, seja nos livros. Não tenho do que me queixar, estou muito feliz.

Já tem outro projeto engatilhado na sua cabeça?
O projeto agora é cair na estrada com o show acústico. Vou me revezar neste ano entre esses shows e o Curva na Cintura, projeto que lancei no ano passado com o Edgard Scandurra e o Toumani Diabaté, do Máli. Mas ainda é cedo pra falar de um próximo projeto.

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

Leia também:
– Arnaldo Antunes lança “Acústico MTV” no Rio de Janeiro, por Jorge Wagner (aqui)
– Arnaldo Antunes: “Não tem um projeto com o saudosismo de reunir os Titãs” (aqui)
– Arnaldo Antunes ao vivo no Sesc Pompéia, por Marcelo Costa (aqui)
– Edgard Scandurra: “A Curva da Cintura transcendeu a nossa capacidade” (aqui)

4 thoughts on “Entrevista: Arnaldo Antunes

  1. O Arnaldo fica feliz quando vê o Titãs hoje em dia no palco.
    Putz, cara sádico.
    Muy amigo, hein?! rsrsrrsrs

    PS: Quanto ao Arnaldo, optou pelo fácil. Eu perco um pouco do respeito.
    Pra fazer o fácil e ficar legal é preciso ser espontâneo, forçado não orna muito bem.

  2. Arnaldo Antunes é um dos maiores músicos em atividade no Brasil. Um dos artistas mais talentosos e admiráveis que temos atualmente. Talvez o único tão contraditório. O único tão admirado e criticado. Tão cultuado e abominado. E um dos poucos que poderia usar sua história como resposta e argumento definitivo para calar a boca de qualquer um nesse país.

    Arnaldo Antunes é chato? Mais ou menos chato que Caetano?

    Quem aqui acha Marcelo Camelo chato levanta a mão?

    Olha, mais chato que o Camelo é gente sem critério. Enquanto não pintar uma música melhor que Ana Julia neste país, os Los Hermanos serão os autores da última grande música que tivemos. Isso, claro, na minha opinião…

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