texto por Ismael Machado
fotos por Taiana Laiun
Com a cidade beirando os 33 graus, Marcelo Damaso suava frio. O coordenador da Se Rasgum Produções temia a possibilidade de o show da cantora pernambucana Karina Buhr não ocorrer. O voo que traria a cantora atrasou da forma que já se tornou íntima dos brasileiros. Prevista para aterrissar em Belém às 13h, Karina só desembarcou às 22h. Teria de encarar o palco sem passagem de som.
Problema? Só se não fosse Karina Buhr. Há uma definição simplista a respeito de bandas e cantores. Há os que funcionam bem em discos e não tanto assim nos palcos. Existem os que são o contrário disso e há os que transitam bem nas duas situações.
Os discos de Karina Buhr são bons de ouvir, denotam cuidado na produção e exalam frescor musical. Mas é no palco que a energia represada em estúdios frios se mostra plena. Karina Buhr parece conhecer os limites e fragilidade da própria voz que, mesmo com o delicioso sotaque pernambucano, não alça voos maiores.
Mas é dentro dessa aparente fragilidade que Karina Buhr se transforma. No palco a quietude se torna densidade. Havia entre o público de Belém que está ligado ao chamado novo cenário musical brasileiro uma expectativa grande em relação a primeira apresentação de Karina na cidade.
Ela se apresentou pela primeira vez em Belém, no dia 6 de junho, quarta-feira, véspera de feriado, com a turnê de seu último disco “Longe de Onde”. O local escolhido foi o palco do Hotel Gold Mar, dentro do projeto Se Rasgum Apresenta, com patrocínio da Conexão Vivo, através da Lei Semear de incentivo à cultura, e pelo Governo do Estado do Pará.
O palco do hotel é um caso à parte. Fica às margens da Baía de Guajará, o imenso rio que margeia Belém. A cidade costuma virar as costas para o rio, mas Karina percebeu a beleza do local. Além disso, o espaço é como se fosse uma palafita estilizada. Na hora em que todos pulam e dançam, sacode. Muito. Abaixo o rio espera.
Vinda do grupo pernambucano Comadre Florzinha (depois Fulozinha), Karina Buhr iniciou sua carreira em 2010 com o primeiro disco solo chamado “Eu Menti Pra Você”, titulo homônimo à faixa que alavancou sua carreira nos circuitos de shows e casas noturnas no Brasil, além de ter sido eleita, ainda em 2010, artista do ano pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Depois de se apresentar em diversos festivais e programas de TV, Karina lançou o disco Longe de onde, do ano passado.
Os shows de Karina primam pela energia. A banda é poderosa e a cantora sabe como interagir com todos eles. O efeito visual de Karina Buhr se arrastando e se enroscando aos pés dos músicos pode até servir de pequenos debates sobre o papel da mulher band-leader. Mas isso não importa muito, o que interessa nesses momentos é que sempre funciona.
Karina Buhr é agressiva e desengonçada. Kitsch e sensual. Ainda não tem um repertório que segure shows longos, mas o que poderia ser desvantagem acaba por se tornar um diferencial positivo. Enxuta, a apresentação acaba deixando o público com o agradável sabor de quero mais. Foi o que ocorreu em Belém.
– Ismael Machado é repórter especial do Diário do Pará e autor do livro “Sujando os Sapatos – O Caminho Diário da Reportagem”. Saiba mais aqui. Fotos de Taiana Laiun (mais fotos aqui)
Leia também:
– “Vou Voltar Andando”, o melhor disco do Comadre Fulozinha, por Adriano Costa (aqui)
– “Longe de Onde”, Karina Buhr – Qualidade e frescor, por Marcelo Costa (aqui)
– “Eu Menti Pra Você”, de Karina Buhr, 6º melhor disco de 2010 no Top 7 Scream & Yell (aqui)
– “Longe de onde”, Karina Buhr, 8º melhor disco de 2011 no Top 7 Scream & Yell (aqui)
– Karina Burh ao vivo no Ibirapuera: Um show raro e incandescente, por Marcelo Costa (aqui)
Karina é bem mais artista que cantora.
E isso é ótimo.
Temos muitasssss cantoras e poucas são tb artistas.
entendo o que dizes. ela tem aquele espirito performer
Salve, salve Ismael. Gostaria até de pedir desculpas a vc se me excedi em alguma crítica injusta que fiz a vc ou alguma ironia além da conta nas rusgas que tivemos.
Pelo jeito não levou para o pessoal, isso é bom.
Rapaz, a Karina pegava ônibus comigo para ir ao colégio – não, nunca fui amigo dela – há uns 20 anos atrás – foi mal, Karina. ehheehhe
Era uma menina toda quietinha, daquelas que colocam o caderno na frente dos seios. E de repente vira esse furacão.
A arte é mesmo mágica, transforma vidas.
Abraço
abre o jogo…pegaste a menina?
Hehhehehhee
Não, não, ela era uma jovem ninfeta indefesa.
Tinha e tenho escrúpulos.