por Bruno Capelas
“Na Rua Agora”, Marina Wisnik (Independente)
Álbum de estreia de Marina Wisnik, “Na Rua Agora” aparece já cercado de dois nomes importantes. O primeiro é o do pai de Marina, José Miguel Wisnik, escritor, músico e pesquisador da canção brasileira. O outro é o de Marcelo Jeneci, que assina a produção junto a Yuri Kalil, do Cidadão Instigado. Em sua extensão, “Na Rua Agora” funciona bem como uma colcha de retalhos, sendo construída a partir de pequenos relatos que poderiam estar num diário (ou em uma timeline discreta no Facebook). A faixa título, “Deitada em Si”, e “Primeiro Céu” contam pedaços do cotidiano de um eu-lírico urbano-sentimental. Falando dessa maneira, parece algo supersofisticado, mas não é nada que não tenha sido visto antes. Nos últimos anos, Tiê, Tulipa e Thiago Pethit fizeram trabalhos parecidos com este – por sinal, Pethit dueta com Marina em “Dezesseis”. “Na Rua Agora” não é um disco incrível, mas suas canções podem aquecer vários corações nesse inverno que se anuncia.
Download em A Musicoteca (aqui)
Nota: 6
“Nacional”, Transmissor (Ultra Music)
Em seu primeiro álbum, “Sociedade do Crivo Mútuo”, os mineiros da Transmissor já mostravam boa mão para canções pop (faça o teste com “1º de Agosto” e perceba que ela ficará na sua cabeça por vários dias), mas soavam um pouco cansativos ao longo do disco. Felizmente, “Nacional”, mais recente trabalho da banda, não sofre do mesmo problema, recuperando o Clube da Esquina pela estrada do rock. Mais próximo de Lô do que de Milton, “Nacional” soa como a continuação de uma veia que o Skank poderia ter seguido com “Dois Rios”, mas deixou de lado não se sabe bem por que. Vale prestar atenção em versos apaixonados como “fiquei molhado pela chuva do teu não” (“Dessa Vez”, belo encontro entre McCartney e Flávio Venturini) e na beleza do refrão de “Bonina”. Aproveite ainda para assobiar e trazer o sol para o seu lado da rua com a bonita “Só Se For Domingo”, a candura de “Dois Dias” e a versão esperta feita para “Nada Será Como Antes”, de Milton e Ronaldo Bastos. Você não vai se arrepender.
Download no site oficial -> http://transmissor.tv/
Nota: 8,5
Leia também:
– “Nacional”, novo álbum do Transmissor, encanta e comove, por Marcelo Costa (aqui)
“Arrocha”, Curumin (Urban Jungle)
Música pop do terceiro mundo. Se um rótulo bastasse, essa frase definiria bem o que é a obra do paulista Curumin, que agora chega a seu terceiro álbum, “Arrocha”. O sucessor do aclamado “Japan Pop Show”, lançado em 2008, investe em uma sonoridade que mistura ritmos brasileiros com batidas de programação e sintetizadores que soam quase obsoletos, como uma tecnologia ultrapassada que ficou relegada à periferia mundial. Não desconectada do que rola no mundo, essa periferia guarda sua história (“Paris Vila Matilde”) e fala inglês de igual para igual com a metrópole (“Blin Blin”, “Sapo Garimpeiro”). O que pode ser visto aqui é uma paisagem sonora onde há dança (“Selvage”), amor intenso (“Passarinho”, que cita Roberto Carlos), saudade (“Vestido de Prata”, cover de Paulinho Boca de Cantor com a participação de Céu) e uma sensualidade aguçada (o trip-hop “Doce” e a narrativa solta de “Accorda”). “Arrocha” é indústria brasileira da melhor qualidade.
Download no Soundcloud de Curumin -> http://soundcloud.com/curumin-oficial
Nota: 8,5
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde maio de 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
Alguns adendos:o disco do Curumin foi lançado pela Urban Jungle e o do Transmissor pela Ultra Music.