Break up Book #03, por André Takeda
“The Whole of The Moon”, Idiot Wind
E foi então que ele disse vou ouvir “The Whole of The Moon” até arrancar toda essa dor de dentro de mim, até esquecer que sou este rascunho de homem, até voltar aos anos 80 e mudar alguma coisa qualquer para que o futuro não seja como é o presente, até afundar todo o meu cansaço nas caixas de som, até a pausa entre “I wondered I guessed and tried” e “You just knew” marque minha alma como uma tatuagem feita de vozes e guitarras e baixo e bateria e piano e metais, até o estoque de cigarros do armazém da esquina terminar, até eu ter vergonha na cara e parar com esse papo de autopiedade, até os vizinhos reclamarem e chamarem a polícia, até a menina do outro lado da rua dançar na varanda e sorrir um sorriso que já não reconheço mais, até sentir que meu corpo flutua e perder toda a noção de tempo e espaço, até me esconder entre essas linhas mal escritas e vomitadas por total falta de raciocínio, até começar a acreditar que o meu último ano foi apenas fruto de uma ficção barata, até a esperança calar a minha boca, até eu conseguir voltar a pular feito um adolescente ao som de uma pop song que amo, até a lua terminar com estes dias de chuva, até todas as fotografias se queimarem em minha memória, até o fracasso se transformar em oportunidade, até voltar a ver tudo com foco, até desaparecer em cada centímetro do vazio que existe aqui, até o até mudar de ideia e ser um olá.
Ela apenas deu três passos assim como se fosse uma bailarina de uma coerografia moderna, desligou o aparelho de som, e perguntou sabe que dia é hoje, e antes que ele pudesse responder, ela mesmo disse hoje é lua nova, lua nova, babe.
Infelizmente você encontra essa versão desesperadamente linda de The Whole of The Moon apenas no YouTube. A original, você já deve saber, é do Waterboys. Aqui, quem canta é a sueca Amanda Mattson ou Amanda Bergman ou, ainda, Idiot Wind.
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André Takeda (siga @andretakeda) é autor dos livros “O Clube dos Corações Solitários” (2001), “Cassino Hotel” (2004) e “A Menina do Castelinho de Jóias” (2011). É colaborador de primeira hora do Scream & Yell e assina atualmente o Tumblr Eu Quero Ser Amigo, publica suas fotografias (como a deste post) no http://www.flickr.com/photos/andretakeda/ e assina no Scream & Yell a coluna Break up Book.
Download: baixe “Ao Vivo”, coletânea de textos de André Takeda em PDF (aqui)
Leia também:
– Break up Book #01: “All I Have To Do Is Dream”, Tashaki Myaki (aqui)
– Break up Book #02: “Blue Skies”, Noah and The Whale (aqui)
Semanas atrás me lembrei desta música uma das mais belas dos anos 80. Excelente banda Waterboys, tinha em fita K7 este disco. E é bom saber de tua volta (ao S&Y) Takeda, só de ler as primeiras linhas já fiquei inspirado, já vieram imagens aqui na minha cabeça e etc.
Pra variar, belo texto… Agridoce, mas assim são os melhores. Passei boa parte da adolescência achando que o nome da música era “The Hole of the Moon”. Um dia minha irmã apareceu com um álbum dos Waterboys e só então me toquei que era “The Whole of the Moon”. Quanto à versão, excelente. Ê Suécia velha de guerra – sempre rende artistas interessantes. Cabe a pergunta: o que é que a sueca tem? 🙂