“Somos nosotros”, Emicida e Criolo em Buenos Aires
por Gustavo Pelogia
“Políticos ladrões. Como é ladrão (em espanhol)? Chorro? Políticos chorros, a la mierda!“, gritou Emicida, algumas horas após desembarcar em Buenos Aires, no começo do seu primeiro show na capital da Argentina. O palco do multicultural Niceto Club, em Palermo, fechou a perna portenha da edição de 2012 do festival Grito Rock, com Emicida e Criolo.
Em cima do palco, brasileiros. Embaixo, também. Muita gente ali, meio sem querer, é verdade. De Belém ao Rio Grande do Sul, se escutava português com muitos sotaques diferentes, de pessoas que, possivelmente, caíram ali devido ao boca-a-boca dos amigos e, provavelmente, tinham seu primeiro contato ao vivo com os dois raperos mais amados dos últimos anos no Brasil.
Misturando músicas de diversos discos (ou mixtapes, como prefere dizer), Emicida manteve atento o público que encheu o Nicelo. Pouca gente cantava e o movimento tímido da audiência deixava claro que quem estava ali não era exatamente fã de rap, mas que foi absorvido pelo sucesso e competência do artista – especificamente dele, não do gênero. Por outro lado, o silêncio também era sinônimo de atenção, comprovada pelos fortes aplausos ao final de cada música. Talvez essa seja uma cena que se repita quando Emicida se apresenta em lugares além dos tradicionais onde estão os fãs do estilo.
Um pouco de portunhol, incluindo um “la calle somos nosotros” (um “é nóis” traduzido livremente), foi correspondido pelo público, que gritava de volta sempre quando o artista pedia. O mesmo quando agitava os braços, sendo correspondido em massa.
Após quase uma hora de apresentação, Emicida anunciou a chegada de Criolo. A banda completa entrou no palco e, por último, o próprio cantor, recebido aos gritos. O show começou com “Mariô” e as duas estrelas protagonizaram um dueto. A base da apresentação foi o adorado (mesmo pelos brasileiros de Buenos Aires) “Nó Na Orelha”.
Criolo desculpou-se (em português) por não falar a língua local, mas concluiu que a poesia não tem barreira de linguagem, logo, esperava ser entendido de toda forma. Percussão, guitarra, baixo, bateria, sax, flauta e cavaquinho (os três últimos, alternados entre as músicas) mostravam a grande produção e o crescimento do músico, que, embora seja classificado como um artista de rap, exibe do gênero uma pequena parte de sua música atual.
Uma prova de que a presença argentina era pequena na noite foi a resposta do público ao gritar “sou brasileiro” em “Sucrilhos”. Sim, os portenhos estavam misturados entre a plateia, curiosos e atentos. Pode se ter uma ideia da proporção Brasil-Argentina quando a consagrada “Não Existe Amor em SP” foi cantada por quase toda a plateia – parte dela atraída especialmente por esta, que foi a música mais cantada da noite. Só depois dela que o rap apareceu de fato na apresentação, com “Lion-Man” e “Grajauex”, dois dos temas em que o gênero se mantém sem influência de tantos outros estilos presentes nas músicas do cantor.
Quase em transe, Criolo parecia cantar para si. Na segunda voz, DJ Dan Dan, é quem teve o papel de interagir com o público, puxando os coros e as danças, quando necessário. Um dos poucos momentos em que Criolo conversou foi para agradecer a presença da plateia. Além de sua já conhecida versão de “Cálice”, de Chico Buarque, a noite terminou com “Bogotá”, intercalada com “Som de Preto” e “Eu Só Quero é Ser Feliz”, sucessos do funk carioca – tão cantadas e mais dançadas pela plateia do que as músicas dos próprios protagonistas da noite, tirando do alto o “hype” Criolo, mostrando seus diversos caminhos e misturando-o ao que há de mais popular (e nada amado pelo “hype”) no Brasil.
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– Gustavo Pelogia (siga @pelogia) é periodista, mora em Buenos Aires e escreve no Diário de Palco
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Acho o Criolo a melhor coisa surgida no rap nacional desde os Racionais. E o melhor é que os dois são bem diferentes.
Já o Emicida, não entendo bem o estardalhaço que faz com os “formadores de opinião”. Acho-o bem fraquinho.
PS: Tb gosto muito da mistura que o D2 – não é mais cool dizer que gosta dele, né? – fez de rap com samba. Alguns dizem que o pioneiro nisso foi o Rappin Hood… Bem, pouco importa. O D2 fez melhor.
Concoro plenamente com o Zé Henrique. Acho que o Emicida é bem articulado com os “formadores de opinião”, principalmente por estar dentro da MTV. Outra pessoa que eu não entendo o motivo de tanto estardalhaço é a Gaby Amarantos. Alguem me explica essa injeção de Gaby Amarantos na midia?