Lúcio da Silva Souza tem 23 anos e é de Vitória, no Espirito Santo. Lançou no ano passado um EP com cinco faixas, intitulado “SILVA EP”, remixado por Matt Colton e disponibilizado para download, que foi circulando de computador em computador. Logo a sua página no Facebook foi criando popularidade e rapidinho se tornou assunto de diversos jornais e blogs, graças ao seu talento e sensibilidade musical.
No fim do ano, Silva apareceu em diversas listas de melhores álbuns nacionais de 2011 (no Scream & Yell, “SILVA EP” figurou na 22ª posição – veja a lista completa aqui). Retrato do novo século: Silva tinha um álbum virtual (que não teve lançamento nos meios tradicionais: CD e vinil) na lista de melhores do ano e ainda não tinha feito sequer um show (a estreia aconteceu no Rio apenas em março de 2012).
Nesta entrevista feita por e-mail, ele fala um pouco mais sobre a sua carreira, dos convites para tocar fora do Brasil até a comparações com artistas como Toro Y Moi, Los Hermanos e Marcelo Jeneci. Também comenta sobre suas inspirações no processo de composição, o que acha sobre a pirataria online, como divulga seu trabalho nas redes sociais e que quase fez um curso em Berkeley voltado para trilhas sonoras.
Promete para maio um novo EP, mais ousado do que o primeiro, e até o meio do ano quer lançar o seu primeiro disco. Conta suas expectativas sobre sua participação no festival de música Sónar SP, em maio, que já confirmou entre as suas atrações, Bjork, Mogwai, Cee-Lo Green e James Blake que também teve um de seus discos produzido por Matt Colton (line-up completo do Sónar SP aqui). Ouça o “SILVA EP”, leia o bate papo abaixo e preste atenção em Silva. Um futuro promissor se desenha.
Lúcio, por que você resolveu adotar apenas “SILVA” como nome artístico?
Eu tentei alguns nomes para o meu projeto e os que eu gostava ou estavam sendo usados ou acabavam soando um pouco pretensiosos. Silva me pareceu uma boa idéia, já que é o meu nome do meio.
Onde você nasceu e quando começou a se interessar por música? Li que o seu tio é pianista e que acabou influenciando você e os seus irmãos. Eles também são músicos?
Nasci em Vitória, venho de uma família de músicos e entrei em contato com música bem cedo. Minha mãe e meu tio, ambos pianistas, investiram bastante tempo ensinando música a mim e a meus irmãos, nos colocando para estudar com alguém. Nem todos são músicos hoje, mas todos tivemos que aprender a tocar alguma coisa.
Você é violinista e também toca piano. Acredita que há influências da música erudita em suas composições? Costuma ouvir música clássica e erudita?
Acho que há influências no meu som sim, já que esse tipo de música esteve muito presente na minha vida. Ainda costumo ouvir, principalmente músicas para piano.
São partituras de artistas como Bach, Mozart ou Beethoven? Costuma estudar e praticar muito com o piano e o violino?
Sim, acho que esses três são obrigatórios, mas eu tenho ouvido muito os pós-românticos e alguns minimalistas. Costumava estudar violino por algumas horas, só que agora já estou um pouco enferrujado, mas não deixo de tocar para não perder o som. Piano costumo sentar para tocar algumas peças velhas ou para compor alguma coisa.
Já comentaram que o seu som é parecido com o dos Los Hermanos, Marcelo Jeneci e do Toy Y Moi. Você concorda? Gosta deles? Quais são suas influências?
Procuro ouvir muita coisa então não conseguiria citar um ou dois, mas o último disco que ouvi muitas vezes foi o do Kuedo. Aquele som me emocionou. Gosto dos três que você citou sim e mesmo não achando que meu som seja muito parecido.
O disco que você fala do Kuedo, novo projeto do Jamie Teasdale, é o Severant? Por que te emocionou tanto?
Isso, o disco me emocionou principalmente por causa dos timbres que ele usou. O som é muito trabalhado. Talvez por ser um técnico de áudio ele saiba como ir mais longe na timbragem e na mixagem. Na época eu tinha acabado de ver “Blade Runner” outra vez, quando percebi que o “Severant” era um tributo ao filme. Gostei mais ainda.
Quais artistas nacionais novos você poderia indicar para o pessoal do Scream and Yell?
Indicaria uma banda aqui do Espírito Santo que gostei muito, We Are Pirates.
Você é amigo dos caras? Costumam sair juntos?
Eu só conheço a banda pela internet, mesmo tendo vários amigos em comum. É que eles são de Colatina e eu sou de Vitória. Eu boto muita fé neles.
O que anda escutando ultimamente?
Tenho ouvido bastante um disco da Martha Argerich e um do Moon Wiring Club, que descobri faz pouco tempo e não paro de ouvir.
E filmes? Quais foram os últimos que você assistiu e quais são os seus preferidos? O cinema tem papel importante na sua música?
Gosto bastante de filmes e ultimamente fui ao cinema mais para ver os filmes grandes desse ano, como “Millenium”, “Hugo” e “A Dama de Ferro”. O cinema me influência sim e geralmente volto pra casa com a trilha impregnada na cabeça.
Também é uma forma de conhecer artistas novos, certo? Teve alguma trilha que te marcou? Que você pensou, “Como eu gostaria de ter composto isso!”?
Sim, várias trilhas me marcaram. Inclusive, até fiz uma prova na Berkeley para estudar num curso de trilha, mas mesmo com a bolsa não foi possível para mim. Quem sabe quando eu ficar mais velho. A última trilha original que me marcou bastante foi a do filme “Up” que tem um tema bonito de morrer!
Como foi o processo de produção do seu EP? Tem alguma música preferida?
Aconteceu aos poucos porque eu estava cursando a faculdade ao mesmo tempo. Gravei parte na minha casa e parte no Rio. Acho que a minha preferida é a “12 de Maio”, fazer uma música em 145 bpm foi um tanto desafiador pra mim.
Quais foram os desafios?
Eu tenho uma certa tendência a criar em bpms mais lentos, como o italo house [gênero da house music popularizado no final dos anos 80, na Itália]. Compor em andamentos rápidos me exige mais esforço, mas geralmente fico mais feliz com o resultado, porque contrapõe mais com a minha personalidade. Acho que a graça de tudo é contrapor. Sei que andamento não define o caráter da música, mas só de colocar para frente já ajuda muito.
E quanto as letras? Tem algum trecho de alguma que você considera especial? Como é o seu processo de criação?
As letras sempre vêm por último no meu processo de composição. Gosto de produzir a música inteira e depois pensar no que dizer sobre ela. Acho que a letra de “12 de Maio” é uma que eu escrevi a partir do clima que a música trazia. Meu irmão é meu grande parceiro, escreve letras com muita facilidade e entende exatamente o que eu gostaria de dizer. “Imergir”, por exemplo, é uma das letras dele.
Você tem outras gravações que poderiam entrar em um próximo disco? E falando em próximos discos, pensa em gravar um logo?
Tenho algumas faixas guardadas, mas não sei se vou lançá-las. Estou me concentrando nas músicas novas. Penso em lançar um disco até o meio do ano e talvez um EP novo até maio.
E você já pode adiantar alguma coisa pra gente sobre o disco novo ou o EP?
O EP já está quase pronto, exceto por uma letra. Devo lançar mais um antes de lançar o disco. Não sei te falar muito sobre o som, diria que é uma continuação do primeiro EP, mas talvez um pouco mais ousado.
Você disponibilizou o seu EP para download. Qual a sua opinião sobre a divulgação de novos artistas pela internet? Acredita que redes sociais como o Twitter e o Facebook ajudam nesse sentido?
As redes ajudam muito, já que não precisamos pagar para divulgar nosso trabalho. As pessoas ouvem e indicam. Não vendi e não prensei o disco ainda, mas agora vi que posso investir mais tempo nas minhas músicas.
O que achou das leis SOPA e PIPA? Qual a sua opinião sobre a pirataria online e sobre os sites de compartilhamento de arquivos? Acredita que os artistas, gravadoras e produtores devem se adaptar ao que está acontecendo?
Não acho as leis injustas e acho que a indústria está tentando recuperar o que perdeu com a pirataria, mas não sei se esse caso tem jeito, já que tantas pessoas já se acostumaram a baixar seus discos, filmes, etc. Mas também acho que os artistas precisam receber pelo que produzem.
E que de forma isso poderia acontecer? Baixando o preço dos CDs, ganhando dinheiro apenas com a bilheteria dos shows, pagando pelos downloads? Você costuma baixar discos e filmes pela internet?
As pessoas poderiam sim pagar pelo download, não acho nada injusto. Só não sei mesmo se isso vai pegar no Brasil. Gosto muito de comprar um disco e ver a capa, o encarte, colocar na prateleira, mas nem todos os discos podem ser encontrados no Brasil e o jeito é fazer download. Não curto muito ver filmes baixados, sempre vem com algum erro, prefiro ir ao cinema mesmo.
Muitos blogs e sites elegeram o “SILVA EP”, como um dos melhores álbuns do ano passado. E para você? Qual foi o melhor ou melhores discos que escolheria de 2011?
Gostei muito do disco do Youth Lagoon, do Rustie e do Kuedo. Acho que 2011 foi um ótimo ano para a música e ainda nem dei conta de ouvir tudo que me indicaram!
Bastante coisa mesmo, né? E shows? Quais te marcaram? Tem alguém que gostaria muito de ver tocando ao vivo?
Um show que me marcou foi o do LCD Soundsystem, no Rio. Outro foi do Bon Iver, em Galway, e um da Lisa Hannigan, em Dublin. Ainda tem muito show que eu gostaria de ver, como o Sigur Ros.
Você foi escalado para tocar no festival de música Sonar. Quais são as suas expectativas? Dos artistas já confirmados, gosta de algum em especial?
Confesso que estou bem ansioso, já que vai ser um dos meus primeiros shows e perto de tantos artistas que eu admiro. Sou fã do Jeff Mills e vai ser muito bom vê-lo tocar ao vivo. Gosto de muitos outros, acho que não tem nenhum que eu não goste.
Tem planos de sair em turnê com uma banda?
Vou tocar com três amigos músicos que gosto bastante. Tinha vontade de montar uma banda grande para poder fazer todos os arranjos no palco, mas não é uma idéia muito fácil de executar. Por enquanto só nós quatro vamos tocar.
Já recebeu propostas de alguma gravadora? Pensa em assinar com alguma? E propostas para tocar fora do país?
Recebi algumas propostas do Brasil e de Portugal.e ainda estou negociando para ver o que vou escolher. Recebi propostas para tocar fora sim e estou bem empolgado com a idéia.
– Andressa Monteiro (siga @monteiroac) é jornalista e assina o blog Goldfish Memory
Leia também:
– “Silva” é só um EP. Lúcio não precisa mais demonstrar a virtuose, por Yuri de Castro (aqui)
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