Entrevista: Pedra Letícia

por Marcos Paulino

Houve um tempo em que bandas que misturavam música e humor, como Língua de Trapo, Blitz e Ultraje a Rigor, fizeram bastante sucesso. Se depender de Fabiano Cambota (vocal e violão), Zé Junqueira (bateria), Thiago Sestini (percussão), Xico Mendes (guitarra) e Kuky Sanchez (baixo), essa época vai voltar. Eles formam o Pedra Letícia, grupo que nasceu em Goiânia há sete anos tocando em botecos, estourou na internet e ganhou enorme visibilidade ao participar do “Domingão do Faustão”.

“Eu Não Toco Raul”, primeira música que Cambota compôs para a banda, já dava o tom do que se seguiria. Amealhando fãs nas mais diversas faixas etárias, o Pedra Letícia lançou no final do ano passado um novo álbum, “Eu Sou Pedreiro”, que traz 12 faixas inéditas e a regravação de “Mas I LoveYou”, de Raul Seixas e Rick Ferreira. Sobre a atual fase do quinteto, o percussionista Thiago deu a entrevista a seguir ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.

Quem é a tal da Letícia que dá nome à pedra?
(Risos) A Letícia não existe. O nome da banda surgiu de uma brincadeira que o Didi, dos Trapalhões, fazia com aquela música da novela “O Astro”. Ele fazia uma paródia e cantava pedra Letícia em vez de ametista. Na época, o Cambota achou engraçado, mas o nome da banda não tem nenhum significado. Muita gente fica decepcionada quando contamos isso. (risos)

Como vocês formaram a banda?
Eu tinha um bar em Goiânia e contratei o Cambota e um parceiro dele pra tocarem lá. Depois de um tempo, entrei pra banda e, quando o bar fechou, tivemos que procurar outros lugares pra tocar.

Vocês tocavam composições próprias?
Não, era só cover. Mas a gente fazia cover fora do padrão de bar pra fugir da mesmice. O Cambota tinha uma música que ele fez na adolescência, mas só tocava em churrasco, porque não tinha coragem de tocar nos shows. Na hora do bis, quando estavam só os amigos reunidos, a gente começava a fazer graça. Aí o pessoal começou a chegar pro bis, que era a parte mais interessante do show. Tivemos que diminuir o show e aumentar o bis. Então começamos a colocar nossas músicas no repertório.

Como é o esquema de composição de vocês?
Quem compõe é o Cambota. Mas na verdade as músicas surgem de temas que a gente cria na estrada, parecemos um bando de moleques em excursão, rimos demais. E ele consegue transpor isso musicalmente. Cada um tem seu estilo preferido, mas, até pela idade, temos as mesmas referências oitentis-tas, das bandas que faziam um rock bem-humorado.

Assim como o Língua de Trapo, vocês colocam em cada música um ritmo diferente de acordo com a letra. Como funciona isso?
O rock sempre teve um sentido de transgressão, de se fazer o que quiser, usar o cabelo ou a roupa que quiser. Isso foi se perdendo com o tempo. Depois dos anos 90, o rock foi ficando uma coisa mais careta, muito apegada aos clássicos, aos anos 70, de tem que ser assim. Não era assim nos anos 80, e temos muito disso. Somos uma banda de rock, e por isso nos damos o direito de fazer qualquer ritmo.

Vocês somaram mais de 25 milhões de acessos no YouTube. Como conseguiram?
Isso começou quando tocávamos em um boteco em Goiânia. Fizemos uma gravação tosca de um show e colocamos num CD com quatro músicas pra distribuir. Um cara pegou essa gravação, colocou uns slides com as letras e meteu no YouTube. Quando fomos ver, tinha uns 400 mil views. Percebemos que o caminho era esse, e fizemos um DVD, também tosco. Levamos duas câmeras pro boteco, filmamos e postamos os vídeos. Foi totalmente despretensioso, desorganizado. Mas mesmo depois da evolução da banda, com entrada de baixo e bateria, ainda ficamos muito tempo conhecidos com aquele esquema de barzinho, voz e violão.

Como surgiu a oportunidade de aparecer na “Garagem do Faustão”?
Foi uma fã de São Paulo, que frequentava os shows que a gente chamava de ensaio aberto, na Vila Madale-na, que mandou um vídeo, sem sabermos. Recebemos um telefonema dizendo que o Faustão estava gravando uns programas pra quando ele entrasse de férias, e que queria a gente lá dali a 15 dias. Já estávamos com uma agenda bacana, tínhamos feito mais de 250 shows no Brasil inteiro. Mas claro que eram eventos pequenos. O Faustão deu uma amplitude bem maior. Ficamos mais de 20 minutos no ar. As bandas não tocavam mais que uma música, e tocamos seis.

O Danilo Gentili participou da composição de uma música do novo disco. Vocês já o conheciam antes de ele ficar famoso com o CQC?
O Cambota também trabalha com stand-up em São Paulo e todos nós passamos a ter um convívio com o Gentili. Ele tinha um trabalho chamado A Pior Banda do Mundo, que fazia umas brincadeiras com umas músicas, e mostrou uma pro Cambota. Ele deu uma organizada na letra e fez um arranjo. Isso é legal porque dá uma visibilidade pra outra galera, que acompanha o Gentili.

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

One thought on “Entrevista: Pedra Letícia

  1. Um amigo me emprestou um cd do Pedra Letícia… muito divertido! E as melodias são bem-construídas e inventivas.

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