por Pedro Palazzo
Em 2011, quando Adele e seu soul britânico ofuscaram a tudo e a todos, o casal Susan Tedeschi e Derek Trucks e outros nove músicos se uniram para compor um dos melhores discos do ano. Batizaram o grupo de Tedeschi Trucks Band e, em 7 de junho, lançaram nos Estados Unidos o álbum “Revelator”: blues e soul composto no sul dos Estados Unidos, berço do estilo.
Para quem já acompanhava a carreira deles não chega a ser uma revelação o fato de o disco ter alcançado a 12ª posição no top 200 da Billboard (dominada por Adele) e ter permanecido na lista por 14 semanas.
Na última semana de junho de 2011, 15 dias depois de ser lançado, “Revelator” liderou o ranking composto pelas vendas nas mais importantes lojas americanas. Também chegou ao primeiro lugar na lista dos álbuns de blues. Está a 32 semanas nesta lista e, atualmente, mais de seis meses depois do lançamento por lá, ainda é o quarto.
Susan e Derek têm carreiras solo enraizadas no gênero. Ela começou em Boston, onde formou sua primeira banda em 1991. O disco de estreia só veio em 1998. Ele, de Jacksonville (Flórida), começou a tocar aos nove. Aos 13 já tinha tocado no palco da The Allman Brother´s Band, na qual o tio Butch Trucks toca bateria. O primeiro lançamento veio em 1997, com a The Derek Trucks Band.
O casal se conheceu em 1999, ano em que ele ingressou como guitarrista na Allman Brother´s Band. Susan abriu um show da banda em New Orleans. Dois anos depois estavam casados. Ambos continuaram com suas carreiras. Susan lançou seis discos. Derek, oito. Em 2009 o casal concorreu ao Grammy de melhor álbum de blues contemporâneo; ele venceu.
Nesta época os dois já se apresentavam juntos num grupo chamado Soul Stew Revival, que variava o elenco de apoio com músicos convidados. Tocaram no Crossroads (evento beneficente idealizado por Eric Clapton) e colaboraram com o consagrado tecladista de jazz Herbie Hancock. Estava claro que a experiência deu certo. Com a química musical somada à vontade de passarem mais tempo juntos, resolveram oficializar a união musical, criando a Tedeschi Trucks Band.
Blues soul e gospel se revesam nas 12 músicas do disco, que conta ainda com uma faixa instrumental escondida. O potencial da voz de Susan Tedeschi; variável – como é natural nas grandes cantoras -, serve muito bem a todos os estilos presentes no disco. A melodia das músicas é conduzida de forma a dar destaque para as qualidades do casal que dá nome à banda. Derek é considerado atualmente um dos principais guitarristas slide.
A produção de “Revelator” ficou a cargo de Derek e de Jim Scott, que tem no currículo trabalhos de produção, mixagem e engenharia de som em discos de Johnny Cash, Rolling Stones, Red Hot Chilli Peppers, Foo Fighters e Wilco, entre outros artistas de sucesso. E é preciso uma coordenação especial para encaixar o trabalho de 11 músicos em uma faixa. Neste álbum, Trucks e Scott dão conta do recado.
A Tedeschi Trucks Band esteve no Brasil em novembro passado para se apresentar no Festival SWU, em Paulínia (SP). O show foi realizado no final da tarde do domingo, dia 13: dia e horário pouco privilegiados. A apresentação rendeu críticas positivas e empolgou o público mediano, mesmo debaixo de chuva. Trechos de apresentações ao vivo podem ser conferidos no Youtube. Os vídeos mostram a versatilidade dos instrumentistas da banda. Há solos – comedidos e sem risco de incorrerem em virtuosismo chato – para a maioria dos músicos.
Além das guitarras de Tedeschi e Trucks, o grupo conta com dois bateristas e percussionistas; dois backing vocals, responsáveis pelo contraponto à voz de Susan; um baixista, um tecladista e flautista e três metais: saxofone, trumpete e trombone. A profussão de elementos está perfeitamente organizado por Derek e Scott.
“Revelator” é composto em torno da superação e seus sinônimos. Do nome à capa do álbum – um sol que pode ser visto como a representação gráfica dos acordes e letras do disco – tudo é pensado para falar de dilemas pessoais, dor e separação, mas sob uma ótica positiva. Os problemas existem, mas não são intransponíveis.
A ponte para o gospel é feita por meio do soul. As músicas falam de Deus, de ensinamentos e sentimentos cristãos, mas sem soar como pregação. A execução instrumental dos profissionais e o alcance da voz de Susan têm grande parte nisto. A química entre eles faz com que, apesar da grande presença de mensagens religiosas, o disco não soe uma peça de propaganda.
O disco começa com “Come See About Me” e sua levada funk. Ali já é possível notar a potencialidade da banda. O groove da cozinha cria o ambiente perfeito para as guitarras de Derek e o poder da voz de Susan. A terceira faixa, “Midnight In Harlem”, é uma das mais belas do álbum. O grupo usa piano elétrico e órgão para incrementar melodia por
onde caminha a letra: um passeio pela noite e por lembranças; um relato visual e sentimental.
“Don´t Let Me Slide” é um exemplo de como se pode falar de fé sem ser incisivo e chato. Susan conversa diretamente com O Senhor, mas numa audição desatenta poderia-se encaixar facilmente como trilha sonora de um romance. Já “Bound For Glory” e seus metais remonta aos coros das igrejas protestantes: berço de grandes cantoras de soul.
“Revelator” segue nesta linha, balanceando mensagens de fé, superação e, principalmente, música de primeira qualidade.
– Texto por Pedro Pallazo (siga @o_sonoplasta)
Sem palavras, um discão!
Certeza que o Derek Trucks aprendeu muito suas habilidades de slide dentro mesmo do Allman Brothers Band: afinal, o grupo é uma escola deste gênero, já que o fera do Duane Allman era mestre no assunto. Ser mestre no slide é pré-requisito pra entrar pro grupo.
O disco é grandioso. Infelizmente não pude ver o show no SWU, mas me arrependo ainda mais de não tê-lo colocado na minha lista de melhores de 2011. Fui ouvi-lo tarde demais!
Valeu por lembrar dele, abraço!
Triste como a cobertura oficial praticamente ignorou a TTB na cobertura do SWU. Foi um showzão!
Belo disco.
fiquei muito feliz de ter conhecido ao vivo, no swu. showzaço.