por André Azenha
Ao sair de uma sessão prévia de “Tudo Pelo Poder” (“The Ides of March”, 2011), ouvi do artista plástico Argemiro Antunes, o seguinte comentário: Clooney é dos nossos. Astro de Hollywood, George Clooney tem optado por realizar trabalhos íntegros. Já havia acertado em “Confissões de Uma Mente Perigosa” (2002), a respeito dos bastidores da tevê, e no fabuloso “Boa Noite e Boa Sorte” (2005), crítica feroz ao macartismo.
“Tudo Pelo Poder” é thriller intenso. Percorre os bastidores das eleições presidenciais e destaca o diretor de comunicação Stephen Myers (Ryan Gosling) na batalha pela indicação do então governador Mike Morris (Clooney), candidato à presidência dos EUA.
Com roteiro inspirado, baseado em peça de Beau Willimon, e um elenco de feras, que reúne ainda Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood e Jeffrey Wright, “Tudo Pelo Poder” é daqueles casos em que o cinema se faz necessário: além de brilhante é também denúncia, alerta, história para acompanhar de olhos vidrados. E traz, pelo menos, uma cena memorável: a do telefone.
Escolhido para abrir o Festival de Veneza em 2011, “Tudo Pelo Poder” recebeu indicações merecidas ao Globo de Ouro (quatro: Melhor Filme Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Roteiro, por George Clooney, Grant Heslov, Beau Willimon), e confirma Ryan Gosling como um dos grandes atores de sua geração (além da indicação por “Tudo Pelo Poder”, o ator também foi indicado por “Amor a Toda Prova”).
Quem não é interessado em política encontra uma trama muito bem contada. Os brasileiros, testemunhas de tantas canalhices por parte de políticos e governantes, irão se lembrar de várias manchetes escandalosas. Vale o ingresso. Por isso e muito mais, Clooney merece aplausos outra vez. Democrata, não teve medo de cutucar o próprio partido. Mesmo podendo se acomodar, surpreende.
Diferente dos políticos inescrupulosos, que fazem qualquer coisa pelo poder, o ator e diretor prefere a inquietude e enfrenta o conservadorismo da ala direita norte-americana. Daí a má bilheteria na terra do Tio Sam. Burrice, incompetência e má intenção há em todo lugar. Sorte nossa que existem Clooneys para minimizar o estrago.
Leia também:
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– André Azenha (@cinezen) é jornalista e editor do site CineZen Cultural
Muito bom mesmo, um dos filmes do ano, ótimo texto !