Pedro Ferreira (@_Klef) é estudante de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e colaborador dos sites irmãos musicoteca e Rock’n’Beats. Ele estava fazendo um trabalho da disciplina “Técnicas de Reportagem e Entrevista”, no qual a atividade propõe ao aluno escolher um profissional para entrevistá-lo. Ele me escolheu, mandou as perguntas e, após o trabalho entregue, liberou as respostas para que eu publicasse aqui na Calmantes. Valeu, Pedro.
Como você pauta suas matérias? Por exemplo, você acorda, entra na internet e procura pelo quê?
Eu respiro cultura. Esse é o primeiro ponto. Neste momento estou lendo o “O Resto é Ruído”, do Alex Ross, por exemplo. Coisas que leio no livro acabam influenciando as ideias e me aproximando analiticamente do tempo real. E, disso, surgem coisas para se falar, pesquisar, pautar. Já na internet leio todo o noticiário (principalmente via Guardian, New York Times e The New Yorker) e recebo muita coisa das pessoas que sigo no Twitter (ou mesmo de amigos que sabem que determinado assunto me interessa). Além disso, convivo com muitos jornalistas e as ideias vão e vem. Não diria que procuramos pautas, mas que elas nos procuram.
Para você a pauta é um instrumento de auxílio ou limitação do repórter?
Ela auxilia ao mesmo tempo em que limita porque boa parte é pauta factual, que todo mundo faz e nós também temos que fazer. Ou seja: Caetano lança um disco, e todo mundo fala. “Nevermind” faz 20 anos, e todo mundo fala. E a gente precisa falar dessas coisas, mas o ideal é que o viés acrescente algo ao obrigatório da informação. E que não nos rendamos a apenas pautas factuais. Buscar o diferente ou algo que ninguém está falando, mas que possa soar interessante. Em linhas gerais, pensar o mundo.
Como é a sua preparação para entrevistas? Poderia citar uma marcante? Quem você, ainda, deseja entrevistar?
Tento conhecer o melhor possível o universo do entrevistado. Saber o que ele pensa, o que ele já disse que já não interessa mais, e coisas que ele nunca disse, e que podem ser interessantes. Fugir do óbvio. Muitas vezes temos que fazer o feijão com arroz, porque é necessário, mas precisamos buscar algo novo. Foi bacana entrevistar Ian McCulloch (aqui), do Echo and The Bunnymen, por exemplo. Ele estava inseguro, mas no meio da entrevista já tinha se soltado e rendeu um ótimo material. Fernanda Young (aqui) também. Na época, fui entrevista-la para a Reuters, e acabamos conversando por mais de duas horas. Em certo ponto da entrevista ela diz: “Eu nunca falei tanto como eu estou falando agora e eu nem queria dar entrevista”. Outra marcante foi com Cesar Camargo Mariano (aqui, aqui e aqui) relembrando “Elis e Tom”.
Quem acompanha o seu trabalho sabe que você consegue vários “furos”. Como isso acontece? Você tem fontes por todo mundo?
Não são tantos assim (risos), mas os poucos que consigo surgem ou por pesquisa ou por conhecer as pessoas certas.
Como é a sua relação com essas fontes?
Quase sempre de amizade. E muitas das informações que recebo são fruto de confiança e da percepção de que o Scream & Yell e eu temos uma postura ética correta, que faz com que algo ligado a nós tenha uma visibilidade interessante, agregando certo valor.
Temos na história bandas como The Clash, Sex Pistols e Nirvana, que influenciaram uma geração não só pela sonoridade, mas pela política e atitude. Na sua opinião, a música perdeu essa ferramenta de formação crítica de seus ouvintes?
É outra época, muito mais emocional que política (a popularização do emo e dos livros de autoajuda refletem isso). A música apenas reflete esse momento que estamos vivendo. Ou seja, ela é adaptável. Se acontecer algo muito sério com sua cidade, seu país, o planeta, isso pode refletir na música, pois é importante lembrar que uma música é composta por uma pessoa como eu e você, que vive, sente e está, na grande maioria das vezes, sendo influenciada pelo ambiente. A música é um retrato da época que vivemos.
No presente há muita informação chegando ao mesmo tempo (dezenas de bandas novas). Não é muito mais do mesmo? Existe hoje uma ansiedade até associada a algum status em se conhecer tudo, ter baixado tudo, estar por dentro de tudo. Esta ansiedade vinda dos consumidores não estaria influenciando a indústria cultural a produzir mais e mais, mesmo que seja tudo uma fórmula-base do sucesso?
Sempre existiram milhares de bandas, mas a gente não tinha acesso. A diferença agora é que é muito fácil produzir um disco, e mostrá-lo para todo mundo. Talvez a ansiedade seja fruto da fé de que algo maravilhoso pode estar sendo feito por alguma pessoa que a gente não conheça. Uma das coisas que mais questiono na ideia defendida pelo Simon Reynolds no livro Retromania (e em artigos) é que ele defende que o aumento da oferta diminuiu o valor da música. Será? Será que gostávamos de música porque era difícil de encontrá-la? O valor, então, não era da música, mas da dificuldade que tínhamos? Não acredito nisso. Acredito sim que estamos em uma fase complicada do pós-modernismo. O que fazer de novo? Para onde ir? O formato pop que conhecemos (nascido com Elvis e Beatles) já tem 50 anos. O fonógrafo, mais de 100 anos. O cinema também está vivendo uma crise. Ainda assim, o consumidor vem consumindo cada vez mais, e não menos
O que você escutava na adolescência?
Beatles e rock nacional foram onde comecei tudo. Depois, ao mesmo tempo, punk rock e Led Zeppelin. E, com o tempo, comecei a abrir o ouvido para música brasileira, jazz e erudito.
Pra finalizar, o que você indica para os futuros jornalistas que desejam seguir no ramo da música/cultura pop?
Ler muito. Criar um blog e escrever muito. E ouvir de tudo. Beethoven, Bob Dylan, Miles Davis e Jorge Ben são gênios. Existe música boa ou ruim. Apenas isso.