O pop anônimo do Fountains of Wayne

por Igor Lage

O Fountains of Wayne é uma dessas bandas que tocam pop, mas que pouca gente conhece. Seus discos estão repletos de canções simples e grudentas, com melodias bem trabalhadas e guitarras animadas, exemplares perfeitos do power pop traçado por Big Star, Nick Lowe e Cheap Trick no final da década de 70. Álbuns divertidíssimos e pouco vendidos.

Desde a ótima estreia com “Fountains of Wayne”, em 1996, o sucesso sempre esteve nos planos do grupo. Quinze anos se passaram e, no fim das contas, apenas uma música emplacou no Hot 100 da Billboard: “Stacy’s Mom”, hino em potencial da cultura MILF (“Mom I’d Like To Fuck”). Vale muito a pena ver o clipe, uma homenagem ao clássico oitentista “Picardias Estudantis” (primeiro roteiro de Cameron Crowe).

Chegamos então a 2011 e ao quinto disco do grupo em 15 anos de carreira. O cansaço – ou seria a maturidade? – parece ter alcançado o quarteto nova-iorquino. “Sky Full of Holes” é o menos animado e radiofônico da história do grupo. Deixando a tradicional energia juvenil de lado, o Fountains of Wayne abraça o violão e dá mais espaço para baladinhas. A sequência do miolo, de “Cold Comfort Flowers” até “Hate to See You Like This”, está aí para comprovar.

As letras também acompanham os anos que passaram: “Action Hero” fala sobre paternidade, “The Summer Place” sobre lembranças da juventude e “Radio Bar” sobre antigas noitadas em um botequim. O álbum é carregado por uma melancolia disfarçada e o cenário escolhido para as canções, o subúrbio norte-americano, não deixa de contribuir para criar esse clima de crise de meia-idade.

Por outro lado, “Sky Full of Holes” não é uma ruptura total. As piadinhas adolescentes continuam aparecendo vez ou outra, assim como as canções para corações apaixonados. “A Road Song”, por exemplo, é um dos melhores frutos da parceria entre o guitarrista Chris Collingwood e o baixista Adam Schlesinger, principais compositores da banda.

Outra característica marcante do Fountains of Wayne que não foi abandonada é a velha técnica dos refrões de vogais, coisa que o Offspring e a axé music também fazem muito. O grudento da vez é o “oh-whoa-oh” de “Someone Is Gonna Break Your Heart”, que apesar de ser uma das mais agitadas, não justifica o “power” no “power pop” da banda. “Radio Bar” é a que chega mais perto de conseguir isso, mas, ainda assim, não possui a potência guitarrística de singles anteriores, como “Radiation Vibe” e “Denise”.

De um modo geral, “Sky Full of Holes” passa a sensação de certo comodismo da banda, às vezes até de um pouco de preguiça. Os admiradores da alegria ingênua dos discos anteriores podem ficar com o gosto amargo de que faltou alguma coisa, mas os fãs que envelheceram com o grupo podem se identificar com o momento “caramba, eu realmente passei dos 35”. No fim das contas, a impressão deixada por “Sky Full of Holes” é que, mesmo com seus bons momentos, não vai ser desta vez que o Fountains of Wayne estoura de verdade. De novo.

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Igor Lage (@igorlage) é jornalista e assina o blog Nova Discoteca [http://novadiscoteca.wordpress.com]

2 thoughts on “O pop anônimo do Fountains of Wayne

  1. Realmente era uma banda que dava a impressão que ia virar hit mesmo, nos primeiros discos. Nunca esquecerei o cover de Britney e a impagável “I want a allien for christmas”.

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