Crítica: “Capitão América – O Primeiro Vingador” incomoda por sua estrutura

por Adriano Costa

Justiça, nobreza, compaixão, bondade. Essas sempre foram palavras que podem ser correlacionadas diretamente com o nome do Capitão América. Desde que foi criado em 1941, o herói da Marvel sempre prezou por essas honradas palavras. Apresentar esse personagem e esses valores para tempos que parecem desconhecer cada vez mais o seu sentido é uma tarefa que pode facilmente descambar para o piegas e o idílico.

“Capitão América – O Primeiro Vingador” tem essa missão. O que já foi feito no cinema anteriormente com o personagem clássico da Marvel é para se passar a borracha. No entanto, além desse desafio, o trabalho tem outro tão hercúleo quanto. Usar o nome “América” sem exalar patriotismo fanático e extremado, ainda mais se levarmos em conta como as coisas mudaram no mundo depois do fatídico 11 de setembro de 2001.

Na verdade, o intuito de desassociar o personagem de um mero bonequinho do governo norte-americano já vinha sendo produzido nos quadrinhos há algum tempo. Quem acompanha, sabe disso. É bom lembrar que no campo da nona arte, o bandeiroso já teve seu uniforme retirado nos anos 80, passou a atuar clandestinamente, morreu por ir contra uma lei, “ressuscitou” (eles sempre retornam…) e só agora retomou seu clássico uniforme.

No que concerne aos dois primeiros obstáculos, o diretor Joe Johnston (do ótimo “O Céu de Outubro”, 1999) se saiu relativamente bem. Primeiro, os ideais do Capitão são repassados de maneira tranqüila, sem forçar a barra, o que ajuda diretamente na pouco inflada carga de patriotismo. Mesmo se levarmos em consideração que alguns países retiraram o nome “América” do título, isso se deve mais a política em si do que ao conteúdo.

A história de Steve Rogers, um magérrimo e doente garoto do Brooklyn que sonha em ir para a Segunda Guerra Mundial lutar contra o mal, é bem feita e traz um clima retrô de aventuras mais antigas (apesar dos efeitos especiais bem modernos). Quando se transforma em um supersoldado, Rogers passa não somente a lutar contra a bandeira do mal, mas também coordenar ações e inspirar os demais, uma de suas mais particulares qualidades.

Mesmo agradando na maioria do tempo e divertindo espectadores de todas as idades, “Capitão América – O Primeiro Vingador” incomoda por sua estrutura. O início e o final são focados no reaparecimento de Steve Rogers depois de cair no mar durante a guerra. Com isso, a produtora do filme joga contra o próprio patrimônio, pois desvaloriza a trama principal e deixa muito claro que o trabalho serve apenas de trampolim para o filme dos Vingadores.

De todos os personagens apresentados até agora (Thor, Homem de Ferro) é em “Capitão América” que isso fica mais escancarado. Com uma história boa e trabalhos competentes de Chris Evans, Hugo Weaving, Tommy Lee Jones e Stanley Tucci, tem-se a nítida impressão de que podia ser muito mais. Mas, apesar da (feia) pisada na bola da Marvel Enterprises, ainda temos um filme que merece ser visto. De preferência com uma pipoca na mão.

P.S: É claro que você já sabe, mas não custa relembrar. Depois dos créditos finais tem mais uma cena escondida do esperado filme dos Vingadores. A melhor até agora. Espere na sala. 🙂

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– Textos: Adriano Mello Costa (siga @coisapop) assina o blog Coisa Pop

Leia também:
– “X-Men – Primeira Classe”, por André Azenha (aqui)

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