Oi Marcelo, meu nome é Elaine e tô escrevendo uma matéria pruma revista da faculdade sobre as novas tecnologias na música e gostaria muito se você pudesse responder as perguntas abaixo! 14/05/09
A facilidade em se produzir música de forma mais “caseira”, ou informal, sem a participação obrigatória das grandes majors teve que tipo de influência na qualidade dessa música? Isso é positivo para o mercado fonográfico de forma geral? Explique
Qualidade é algo difícil de mensurar nesse caso, pois vamos ter diversos fatores que podem afetar ou não uma obra artística. Será que o músico compõe melhor sob pressão ou quando está livre? Se for quando está livre, que é o natural, o que explica o nível de qualidade durante a ditadura militar, quando os compositores precisavam trabalhar para compor e ainda dobrar a censura. Ou seja: facilidade é algo sempre bom, sem dúvida, mas a cobrança de um diretor artístico talvez fosse útil. Esse é um ponto. Para o mercado fonográfico é outra coisa, pois muita gente que produz caseiramente, 90% dos casos, não aparece na mídia. Seria positivo se houvesse espaço, mas o mercado fonográfico nacional fechou as portas com anos de jabá e estreita visão musical.
O que pode ser feito hoje, em termos de produção e divulgação, que era impensável há cinco, dez anos?
Ter um estúdio de gravação em casa já é um grande avanço. Lançar o trabalho na internet também. A web é uma ferramenta essencial na “nova ordem musical”.
Qual sua opinião sobre a facilidade em se baixar faixas gratuitamente pela internet? Qual o impacto dessa prática no mercado musical?
Baixar músicas gratuitamente é uma oportunidade do público conhecer o material antes de comprar. No Brasil não existe a prática de devolver um CD que não gostou (embora isso esteja no Código de Defesa do Consumidor) como acontece no Primeiro Mundo, e vejo o fato de baixar um álbum em MP3 e não comprar como a falta de atrativo que aquele disco causou em quem ouviu. Também acho uma grande bobagem ficarmos discutindo se é legal ou não baixar músicas. Isso é algo que era relevante dez anos atrás. A fase é outra. Agora é hora das gravadoras partirem para um novo modelo de negócio – agenciamento de shows, distribuição de CDs – e deixar de comparar anos 2000 com 1970 ou 1980. Não é a mesma época. O modelo de negócio mudou, e o mercado musical tem que mudar. Ele nunca vai morrer, pois as pessoas sempre vão consumir música. Vivemos uma Nova Idade Média (escrevo sobre essa teoria aqui: https://screamyell.com.br/blog/2008/11/16/a-nova-idade-media/). O mundo mudou.
Como seria possível regulamentar essa prática?
Não tem que regulamentar. Tem que mudar o enfoque do negócio. As pessoas vão continuar baixando músicas – quer as gravadoras queiram ou não.
Você acha que os internautas concordariam em pagar pelas faixas que baixavam gratuitamente?
Acredito que não, mas esse é um fato menor nessa equação. O que interessa é: imagina que pessoas da minha geração (nascidas nos anos 70) e das anteriores tem um jeito diferente de lidar com música. A gente consumia vinil, havia uma outra relação, tanto que até hoje compro CDs mesmo baixando discos. Agora transponha isso prum garoto de oito, dez anos, que acostumou-se a baixar músicas. Ele vai baixar a vida inteira sem sentir algum remorso passional, pois a realidade dele é outra, e não é errada. Isso quer dizer que quando essa nova geração tiver poder de consumo, ela não vai fazer como a minha geração e gastar dinheiro com CD. Ela vai usar esse dinheiro em outra coisa, o que quer dizer que o mercado da música como o conhecemos está com os dias contados, pois quando a minha geração bater as botas, quem irá comprar CDs? Ninguém.
Nos últimos dez anos, o que mudou basicamente em termos de produção musical em função da existência das novas tecnologias?
A facilidade em se alcançar o resultado que o músico queria no estúdio. Sem contar que você pode gravar em um estúdio agora e mandar esse material para outra pessoa em qualquer lugar do mundo. As facilidades são inúmeras.
Que setores da indústria musical tradicional estão, na sua opinião, fadados à extinção?
As gravadoras, mas ainda vai demorar uns 10, 15 anos.
Na sua opinião, qual o futuro do mercado musical?
O mercado vai existir para todo sempre. A forma de negociar a música será outra. Isso faz com que o futuro seja incerto, nebuloso, mas impressiona o fato de numa época em que menos se compra música, mais se consome.
Quais suas bandas contemporâneas prediletas? Explique o que elas tem de bom.
Radiohead e Wilco. Eles conseguem transformar o passado em futuro.
Você acha que os grandes festivais de música fazem falta? Qual a importância desses eventos na história da música popular brasileira na sua opinião?
A música precisa de espaços, e os festivais são uma grande fonte de divulgação. Não sei se atrelados a uma grande rede de TV, embora a TV seja uma mídia que também precisa ser ocupada. Como escreveu Arnaldo Antunes certa vez, a gente quer comida, diversão e arte, e esses eventos são ótimos para proporcionar arte, agitar o cenário.