“4 x Timão” é 90% produto, 10% documentário
por Tiago Trigo
“4 vezes Timão, a Conquista do Tetra” entrou em cartaz em junho, mas seu desempenho nos cinemas foi fraco, o que já era esperado por seus produtores. A aposta, desde o princípio, era no lançamento em DVD, que acontecerá em 3 de agosto, próximo ao Dia dos Pais. E a data não é coincidência. A Fox, co-produtora do filme ao lado do Canal Azul e da Band, não divulga números, mas espera que os corintianos o coloquem entre os cinco mais vendidos da empresa em 2011.
O quarto documentário sobre a equipe paulista em dois anos narra os quatro títulos nacionais, centralizando cada conquista em um ídolo: Neto (90), Dinei (98), Marcelinho (99) e… Betão (2005). Isso mesmo. O zagueiro é colocado como herói da conquista mais recente, apesar de não ter tido desempenho acima da média no campeonato daquele ano, o que gera um questionamento recorrente pela escolha.
O diretor Di Moretti, que também comandou “23 anos em 7 segundos”, sobre o fim do jejum de 23 anos sem títulos, explica: “O critério foi pegar jogadores que são declaradamente corintianos, mesmo depois de terem saído do clube.” O produtor Ricardo Aidar, que codirigiu “Todo Poderoso, o Filme, 100 anos de Timão”, emenda: “Betão foi muito injustiçado na queda para a segunda divisão em 2007. Ele foi o único jogador que saiu do clube e entregou uma placa de prata, agradecendo por tudo o que viveu lá.”
Mas apesar das justificativas em excesso pela presença de Betão, a dupla admite que o plano inicial era conversar com o argentino Carlitos Tevez. Dificuldades de agenda, distância (o jogador mora na Inglaterra) e a famigerada falta de eloquência para se expressar do atacante teriam mudado os planos.
O filme traz entrevistas com personagens de cada conquista, embora faltem dois treinadores (Vanderlei Luxemburgo e Oswaldo de Oliveira), com direito aos chistes inevitáveis de Neto e Dinei, naturalmente engraçados diante de qualquer câmera. Têm papel destacado, também, os pais destes ex-atletas, com exceção de Dinei. Di Moretti explica que tentou ir além do esporte. “O torcedor pode ver os gols a qualquer momento. Tentamos humanizar, contar as histórias destas pessoas, a importância da relação com os pais ou da ausência dele, como no caso do Dinei. Decidimos destacar a relação com os pais na montagem, vendo as entrevistas”, conta, tentando negar que essa escolha tenha sido influenciada pela estratégia de marketing de lançar o DVD perto do Dia dos Pais.
Feliz coincidência ou não, o fato é que Moretti, que havia acertado no bom “23 anos…” dessa vez errou a mão e aumentou demais o volume no botão da pieguice. A cena em que Neto chora falando do pai e depois é mostrado em contato com o próprio filho, admitindo que a dupla não tem proximidade, chega a dar vergonha. Marcelinho, no campo do Madureira, seu primeiro clube, diz, com a naturalidade de um boneco Lego, que realizou o sonho que seu pai não pôde: ser jogador de sucesso, pois foi proibido pelo pai (avô do ex-atleta). Difícil acreditar que aquele depoimento não foi forçado, assim como os poucos segundos em que Dinei simplesmente explica por que não fala sobre o pai. “Só falo de quem me ajudou.”
As histórias destes ídolos e das conquistas, cada uma com sua particularidade, são suficientes para fazer a Fiel (que gasta dinheiro até com camisa roxa) comprar um DVD e guardar todos aqueles gols importantes na estante. A forçada de barra na relação dos ex-jogadores com seus pais é, mais do que desnecessária, prejudicial ao resultado final do filme, assim como a última cena, em que crianças “simulam” gols e comemorações de seus ídolos.
Dos quatro documentários feitos recentemente (este é o terceiro e mais fraco da parceria do clube com Canal Azul e Fox), “4 vezes Timão” só não é pior que “Fiel, O Filme”, carregado de depoimentos chatos de torcedores sobre a queda para a segunda divisão. E isso graças a um único motivo: Neto, que, com seu jeito simples, direto e bonachão, consegue arrancar risadas até na hora em que revela seu maior trauma, a gordura.
******
– Tiago Trigo (siga @ttrigo) é jornalista e setorista de Corinthians do Scream & Yell
Leia também:
– “Todo Poderoso, O Filme”: um filme feito por apaixonados para apaixonados (aqui)
não vi esse, vi o outro, mas pelo menos vejo a ideia ainda incipiente do futebol ser retratado de forma mais bacana começar a vingar por aqui
Um filme que só visa mesmo os cascalhos vindos do bolso da Fiel corinthiana. Nem dá para chamar de oportunista, pois deveria mesmo era ter sido feito em 2006, para aproveitar a esteira do titulo de 2005. Num momento em que a Taça Brasil e o Robertão foram reconhecidos como Brasileiros, comemorar o “tetra” quando tem times com 8, 6 e 5 títulos é bobeira. Se tivesse sido lançado como um produto institucional, do próprio clube, talvez tivesse outro valor.
Mas a escolha dos personagens foi boa, sim. Só não se compreende o motivo de não terem buscado o depoimento do Luxemburgo. O Oswaldo de Oliveira está no Japão há mais de quatro, cinco anos, é idolo por lá.
O futebol está lentamente ocupando as salas de cinema, o que é bom. Só precisam ser feitos documentários melhores. O “Gringo”, sobre o Petkovic, é horrível, tem cada documentário que parece especial de uma hora da Rede Globo. Estou no aguardo do filme do José Henrique Fonseca sobre o Vasco.
Sobre o Vasco? já me deu agua na boca!
Sem querer arrumar confusão, mas eu não aguento mais Corinthians pra todo lado. É estádio sendo feito com dinheiro público, é liderança do campeonato, é Tevez voltando… Sou de Minas, e aqui é insuportável o destaque que a mídia local dá ao eixo Rio-São Paulo. O pior é que, em momentos masoquistas, quando vejo programas de esporte de São Paulo (inclusive aquele do qual o Neto participa), é impressionante o destaque que dão ao Corinthians em detrimento dos outros clubes grandes do estado. Entendo que a torcida é a maior e tal, mas enfim…
Mudando de time, achei hilário num outro dia quando, passando de canais pela TV fechada, caí num documentário sobre o título carioca do Flamengo em 2008 (sério que fizeram um documentário sobre isso?), no Canal Brasil. A melhor parte foi quando o filme começou a mostrar o goleiro Bruno como o herói da conquista, a torcida gritando o nome dele, ele se achando o maioral dentro de campo… aquela festa toda pro futuro assassino hahah
ah…mas aqui em belém a gente tem que engolir issso tb. a imprensa paulista me fez odiar os times de são paulo…
É verdade, a imprensa paulista me enoja oom todo o destaque que dão ao Corinthians, um time cuja única importância legítima é o tamanho de sua torcida. Já o maior time brasileiro dos últimos dez ou doze anos, o Internacional, parece que não existe para a imprensa paulista.
Acho que o doc sobre o Flamengo foi o de 2009, o que eles chamam de PentaTri. O Bruno defendeu penaltis naquela decisão. A de 2008, o Flamengo venceu as duas partidas da final.
O doc sobre o Vasco iria ser de início só sobre a série B. Agora diz-se que vai pegar toda a história do clube. O Fonseca vai terminar o filme do Heleno de Freitas para depois dar continuidade com o Vasco.
Eduardo, a imprensa gaúcha não é nada bairrista, não é mesmo?