por Marcos Paulino
Após decifrar dois sonhos do faraó, José é escolhido por ele para ser uma espécie de administrador do Egito nos próximos anos. Conforme ele enxergara, seriam sete anos de fartura, durante os quais a população deveria se preparar para os próximos sete, de total miséria. Extremamente grato a ele, o faraó lhe dá poderes que ficam abaixo somente de seus próprios, e exige que chamem José de Zafenate Pameia, “aquele que sustenta a vida”.
Essa passagem bíblica inspirou o nome da banda que tem como um dos integrantes Theo Reis, filho do ex-titã Nando Reis. Em seu disco de estreia, a Zafenate deixa sobressair o reggae, mas permite transparecer a influência de vários outros ritmos. Formada pelo violonista Theo, mais Lucas Ciola (guitarra e voz), Rafinha Werblowsky (bateria), Fábio Salem (baixo), Denizard Basílio (teclado), e os vocalistas Robson Costa e Ana Flor de Carvalho, a banda aposta em temas caros ao politicamente correto, como o meio-ambiente.
Sob as bênçãos do pai famoso, o disco homônimo do grupo teve o dedo de gente competente na lapidação do som. Foi gravado sem pressa, em quatro anos. E é com ele que a Za-fenate pretende deixar para trás o quase anonimato que experimenta fora da capital paulista. Sobre esse trabalho, Theo conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell.
Zafenate é nome dado a José em uma passagem bíblica. Por que foi o escolhido para batizar a banda?
A gente se identifica muito com essa história. Primeiro pelo fato de que José era um cara que interpretava sonhos, então tem esse lado onírico, espiritual, da subjetividade, de onde brota muito a inspiração pra música. E também porque depois que ele interpretou o sonho do faraó, foi o responsável por organizar o povo do Egito, fez uma reforma agrária, e temos uma preocupação na banda de chamar a atenção para as questões do meio ambiente, o cuidado com a natureza. Também é uma história ecumênica, que está num livro cristão, mas o nome é egípcio, e tem também no alcorão, apesar de aparecer com outro nome.
Como vocês resolveram formar a banda?
Começamos em 2002. A maioria estudava no mesmo colégio, e os outros frequentavam os mesmos lugares, pra tocar violão, era uma galera que gostava de compor. Eu e o Robson na época compúnhamos só letras de rock, mas queríamos montar uma banda de rap com instrumental. Fomos chamando os amigos, fazendo as músicas, de vários ritmos. Em 2007, começamos a montar os arranjos e gravamos durante 2008 e 2009. Finalizamos em 2010 e fomos procurar uma parceria pra lançar. Finalmente lançamos neste ano.
Ou seja, o disco foi produzido em ritmo de reggae, sem muita pressa.
Primeiro porque gravamos de maneira independente. Só fechamos a parceria com o selo e com a gravadora que está distribuindo com o CD já pronto. E, apesar de ser independente, foi gravado com uma qualidade profissional. Foi produzido pelo Fernando Nunes, um tremendo músico, que tocou com a Cássia Eller, com meu pai, Zeca Baleiro, Djavan, Caetano Veloso. Um baita mestre. E o disco foi coprodu-zido e mixado pelo Evaldo Luna, outro mestre. Mas como era na base da amizade, eu os conheço desde criança, fomos fazendo conforme eles tinham tempo. Então esse ritmo não foi uma escolha, mas uma necessidade.
O ritmo que predomina no disco é o reggae, que não costuma ter muito espaço no Brasil. Como vocês estão encarando o mercado?
Na verdade, não considero nosso CD de reggae. Mas, pela necessidade de classificar em algum gênero, acaba sendo classificado como reggae. Mas acho que nosso som é uma mistura. Então temos como ser um som palatável e agradável não só pra tribo do reggae, mas também pra galera do rock, do rap, da MPB. Realmente, o reggae tem um público fiel, mas rola num circuito periférico. Não tem muito status no mainstream. Sobre o mercado, agora com esse disco que estamos tentando atingir um patamar de exposição maior e espero muito que a gente consiga. Nosso objetivo é levar nosso som ao maior número possível de pessoas.
Seu pai saiu de uma banda famosa e teve que construir a carreira solo. Com essa experiência, qual foi a participação dele pra ajudar vocês a abrir portas?
Enorme. Desde criança, cresci num ambiente musical, viajando com o meu pai, com os Titãs. Fui criado num cotidiano de banda de rock, então conheço os trâmites, e sempre fui atraído por isso. Por outro lado, também conheci muita gente, como os produtores do disco, a dona da Cornucó-pia Discos, que está lançando a gente. Esses contatos abrem portas. Tem também o fato de abrir shows do meu pai, ter contato com o público dele. Também ensaiamos na casa dele, usando equipamentos dele. É um referencial, ajuda a saber como é esse mundo, a não ficar deslumbrado, a saber que é uma vida dura pra caramba. A gente trabalha muito, carrega equipamento pra cima e pra baixo.
E musicalmente, qual a contribuição dele para a banda?
Eu diria que mais indiretamente. Ele sempre foi um cara muito respeitoso, zeloso, com cuidado, por saber que a opinião dele tem um peso enorme. Neste CD, quem teve mais peso foi o próprio Fernando Nunes. Tínhamos as músicas, mas ainda eram pedra bruta. Ele ajudou a esculpir o som, a aprender mais traquejos da música pop. Mas meu pai tem muito disco pra pesqui-sar, levo muita coisa que conheci com ele pra banda. Então tem uma influência indireta. Geralmente, os fãs dele têm gostado do nosso som, apesar de não ser igual, e ainda bem, porque aí não teria sentido.
Rola uma cobrança maior na sua banda por você ser filho de um artista famoso?
Cobrança, acho que não. Mas tem uma responsabilidade, primeiro porque a banda do filho do Nando chama mais a atenção das pessoas. E também porque nosso som tem um parâ-metro pra ser avaliado. Mas acho que temos qualidade pra não fazer feio pros ouvidos que sejam um pouco mais rigorosos por conta disso.
Em que fontes de inspiração vocês costumam beber?
Evidentemente, o reggae, o rock clássico, a música brasileira em geral, mesmo as coisas mais regionais, como o forró. A gente gosta muito de rap também. Adoro brega, música caipira, calypso, coisas que vêm do Norte. É uma miscelânea mesmo. Não sei se tudo fica tão transparente no nosso som, mas juro, de Racionais a Michael Jack-son, passando por Tião Carreiro e Pardinho, gosto de muita coisa. Os gêneros, no fundo, são como a Terra vista do espaço, não têm fronteiras. O sertanejo universitário, por exemplo, é super rock’n’roll, é uma ponte entre a música caipira e o rock.
Quais são os planos de vocês pra ganhar mais espaço, principalmente no interior, onde a banda ainda é desconhecida?
Espero que este lançamento nos ajude nesse sentido. Temos dado entrevistas pros jornais do interior, que é um mercado fértil. São Paulo tem uma oferta muito grande, tem milhares de shows por noite, do barzinho até a maior casa de shows da cidade. No interior, o público é muito receptivo. Espero que consigamos entrar nesse mercado.
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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira
Leia também:
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– Nando Reis abraça o rock setentista em “Drês”, por Marcelo Costa (aqui)
O sertanejo universitário é super rock n’ roll foi forte!!! Rssss
Essa galera “Caetana” é mesmo uma graça.
“Sertanejo universitário é super rock’n’roll” foi realmente foda.
“Super rock and roll” não é.
Mas também não é muito diferente do Capital Inicial não, por exemplo.
Para mim soa tudo a mesma M.
Realmente, tem momentos que não existe quase nenhuma diferença entre o Luan Santana e o Capital Inicial. Ambos fazem um tipo de pop rock inócuo.