por Maira Reis
Livro bom é aquele que você começa a ler e não faz mais nada da vida querendo terminá-lo. Fica o dia todo pensando até onde o autor pode (e em alguns casos vai chegar) com todo o enredo. Mas e quando o livro apresenta só crônicas?
Não é muito diferente. Você leva o livro para todos os lugares, e entre uma e outra atividade arruma tempo de ler mais uma crônica. O cérebro já automatiza o momento exato: “Abra agora o livro porque é o tempinho que você tem para mais uma crônica”. A respiração para quando começa a ler, parecendo que logo saberá quem é o vilão da história em menos de meia página. Isto porque, em alguns casos, a crônica tem uma história inteira que dá até lágrimas nos olhos.
“Doidas e Santas”, de Martha Medeiros (Editora L&PM), é um livro que se encaixa muito bem nesta atividade desvairada – e intransferível. Nesta loucura orgânica e mental. Com uma linguagem extremamente fácil e direta, Martha proporciona leveza às suas crônicas dando magia aos prazeres e desilusões da vida adulta. O cotidiano da escritora se torna uma forma de análise e reflexão para expressar em palavras as vozes do coração.
Compilação das crônicas de Martha publicadas nos jornais O Globo (Rio de Janeiro) e Zero Hora (Porto Alegre, cidade natal da escritora), “Doidas e Santas”, a crônica que dá nome ao livro, é fundamentada em uma frase da escritora Adélia Prado. “Estou no começo de meu desespero/ e só vejo dois caminhos:/ ou viro doida ou santa.” E assim, Martha constrói quase todo livro com o que ela tem de mais essencial e puro: a inquietude da mulher.
Martha Medeiros publica no jornal O Globo todos os domingos, com sucesso absoluto, uma coluna cheia de criatividade, com conteúdo informativo sobre cultura e tratando de assuntos do dia a dia de forma tão sutil e profunda – e vem conquistando um público muito mais masculino do que feminino.
Admirada incondicionalmente por Tony Bellotto e Malu Mader, Martha é a típica escritora que o público almeja seus escritos por serem tão doces que nem dá tempo para você discutir com a autora, há somente concordância ou discordância. É praticamente uma osmose literária e cultural adorável.
“Doidas e Santas” merece leitura. A forma de poetiza de Martha é encontrada numa forma mais refrescante neste livro, e os sentimentos (seu, meu, dela, nosso) são tratados com um conforto digno de destreza e toda a alegria de viver é realmente encontrada em cada título das crônicas. Martha Medeiros é realmente uma escritora encanto em todo o livro.
Best-seller desde seu lançamento, em 2008, “Doidas e Santas” ganhou uma versão para o teatro com Cissa Guimarães e Giuseppe Oristanjo, que ainda se encontra em cartaz no Rio de Janeiro – atualmente a peça está em período de recesso por motivo de férias de todo elenco (assista a um trecho abaixo).
*******
– Maira Reis é jornalista. Assina o blog Cleopatra Faz Oral e a coluna Tea and Cookie
*******
Leia uma crônica do Livro “Doidas e Santas”, de Martha Medeiros
“Falcatruas, alagamentos, violência urbana. Eu colocaria mais uma coisinha nessa lista de pequenas tragédias com que somos brindados diariamente: o tédio. A cada manhã, abrimos os jornais e é a mesma indecência política. Nas ruas, perdemos tempo com os mesmos engarrafamentos. Escutamos as mesmas queixas no local de trabalho. É sempre o mesmo, o mesmo. Como é bom quando algo nos surpreende.
Para quem vive na opressiva e cinzenta São Paulo, a novidade atende pelo nome de Cow Parade, a exposição ao ar livre de 150 esculturas em forma de vaca, em tamanho natural, feitas de fibra de vidro e decoradas com muita cor e insanidade por artistas plásticos, diretores de arte, designers e cartunistas. Um nonsense mais que bem-vindo, uma intervenção no nosso olhar acostumado. Espalhadas por ruas, praças, nos lugares mais inesperados, lá estão elas, vacas enormes, vacas profanas, vacas insólitas. Para quê? Para nada de especial, apenas para espantar o tédio, inspirar loucuras, lembrar que as coisas não precisam ser sempre iguais. Havia uma vaca no meio do caminho, no meio do caminho havia uma vaca. É poesia também.
Falando em poesia, há sempre uma nova e heróica coletânea sendo lançada no mercado editorial, tentando atrair aqueles leitores que evitam qualquer coisa que rime. Desta vez, não é coletânea de mulheres poetas ou de poetas do terceiro mundo, essas cortesias que nos fazem. Finalmente, o humor e a leveza baixaram no reino dos versos. O livro chama-se Veneno Antimonotonia e traz o subtítulo: Os melhores poemas e canções contra o tédio. Organizado por Eucanaã Ferraz, a antologia pretende combater o vazio, o medo, a falta de imaginação. É um convite para a vida, e um convite feito através das palavras de Drummond, Chico Buarque, Antônio Cícero, Ferreira Gullar, Adriana Calcanhotto, Armando Freitas Filho, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, João Cabral de Melo Neto e outros ilustres, sem faltar Cazuza, claro, cuja canção Todo amor que houver nesta vida – uma das minhas letras preferidas – inspirou o título da obra.
Até hoje, pergunta-se: para que serve a arte, para que serve a poesia?
Intelectuais se aprumam, pigarreiam e começam a responder dizendo “Veja bem…” e daí em diante é um blablablá teórico que tenta explicar o inexplicável. Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento.”
Martha Medeiros é muito ruim!
É sub-literatura sem profundidade, escrita por uma perua fútil pra fazer propaganda de um estilo de vida que ela vende.
O Luiz escreveu o que ia dizer. É exatamente isso.
Olá,
Bem…Cada um tem a plena liberdade de expressar seus pensamentos e sentimentos.
Não acho isto não que vocês comentaram.
Acho que Martha é uma escritora contemporânea em que há leveza e uma auto identificação em seus escritos porque muitas vezes ela relata sobre o cotidiano.
Obrigada pelos comentários,
Maira
Gostei particularmente dos dois primeiros parágrafos do texto – eles descrevem bem como a maioria das pessoas procede com livros de crônicas. Pena que foi pra falar de uma autora tão sem sal nem açúcar. (assinando embaixo com o que disseram os companheiros acima).
Olá Bruno,
Obrigada pelo elogio ao texo.
Até mais.
Maira
Pô, o Luiz Young nos comentários. Cara, baixei muita coisa legal de um blog que tu tinha. Tu é de Rio Grande, né? Tu não deve lembrar, mas eu cheguei a mandar uns e-mails pra ti. Sou um cara de Arambaré que tinha uma banda chamada Amor e Restos Humanos. À propósito, eu concordo que Martha Medeiros é uma merda.
Olá, Eduardo! Sou de Rio Grande, sim. Lembro de ti, Arambaré é uma boa referência pra mim (já fui em Camaquã algumas vezes). Ainda tenho alguns links do blog, na comunidade do orkut (young hotel foxtrot).
E Maira, desculpa se pareci meio grosso. O alvo não era tu, que escreve bem.
Oi Luiz,
Tudo bem? Espero que sim.
Não parceu grosso. Você só colocou sua opinião.
Abraços,
Maira
Olá.
Custumo dizer: cada cabeça uma opinião e para cada uma delas respeito!
Eu discordo com o que fora dito em relação a Martha.
Gosto muito das suas crônicas e Poesias.
Admiro bastante o seu trabalho e acho sua escrita muito boa e me indentifico bastante.
Quem acompanhou seus escritos desde o início, teve a oportunidade de conhecer os livros que a Martha já leu vai de clássicos gregos, a escritores ensaístas e filósofos, psicólogos, sociólogos, antropólogos enfim, mais atuais e de vários países, portanto de culturas diversas.
O embasamento da escritora é inquestionável. Consideremos:
ela tem o direito de usar uma linguagem coloquial por se tratar de uma pessoa que deseja facilitar o entendimento também desta geração do século 21; outro fator: quem conhece o estilo crônicas, verá que ela não está fora dos padrões deste gênero literário: o cotidiano, as dúvidas do ser humano, quanto as situações em que elas se deparam, a realidade portanto…Todos tem suas preferências, quem conhecer o concretismo por exemplo, saberá que poucos entenderão, ou… simplesmente não simpatizarão com o estilo. Grau de dificuldade em leitura, não aponta para o valor da peça literária. Que vivam, clássicos, romancistas, trovadores, iluministas, modernistas, pós-modernistas, concretistas, neo-concretistas. Cada um escolha o que lhe aprouver, ela não se nominou com nenhum termo, o leitor que a entende,
inclusive pode alcançar Clarice Lispector, Adélia Prado, Drummond, Graciliano Ramos, tantos escritores cuja matéria prima foi o dia-a-dia, com caracteristicas ontológicas inclusive – o ser humano na sua construção do eu, suas complexidades emocionais e de humor – vale então sentimentos, senso crítico e objetivo. Literatura requer um senso analítico, e cada escritor tem um público em especial. A leitura precisa ser democrática, só não vale… o sem noção!