Três discos: Teenage Fanclub, Paul Weller, Mark Mulcahy

por Marcelo Costa

“Shadows”, Teenage Fanclub (PeMa/Merge)

Cinco anos é tempo demais para os amantes de melodias ficarem sem um disco do Teenage, mas basta o som das guitarras marcarem a introdução de “Sometimes I Don’t Need to Believe in Anything”, a auto-explicativa faixa de abertura, que se esquece o tempo solitário sem power pop. “Shadows”, oitavo disco dos escoceses românticos, (descontando “The King”, de 1991 e “Words of Wisdom and Hope”, de 2002, com Jad Fair) honra a discografia da banda e consegue devolver o sorriso para aqueles que acharam que o fracote e desesperançado “Man Made” (2005) poderia ter sido o epitáfio do grupo. Não foi e a pungente “Baby Lee”, primeiro single, surge para comprovar com uma melodia tão Teenage Fanclub que os escoceses ainda conseguem fazer do mundo um lugar melhor. Não só ela. A levemente psicodélica “Into the City”, a suave “Dark Clouds” (conduzida por piano e cordas) e a deliciosamente byrdiana “When I Still Have Thee” mostram com quantos acordes de açúcar se faz uma canção adorável. Os mestres voltaram.

R$ 40 (importado)
Nota: 7,5

“Ciao My Shining Star”, Vários (Shout Factory)

Você provavelmente nunca ouviu falar de Mark Mulcahy. Não se culpe. Nick Hornby só o conhece porque Lee, o dono de uma lojinha de CDs em Londres, o apresentou. Uma das canções de Mulcahy, “Hey Self Defeater”, foi parar no livro “31 Canções”, e apesar de ficar de fora deste tributo magnífico lançado em 2009 visando arrecadar grana para que Mulcahy crie as filhas gêmeas após a perda da mulher, o CD destaca outras pérolas. Thom Yorke abre o disco com a boa “All The Best” e, na seqüência, surgem outras grandes canções: National (ótimo em “Ashamed of the Story I Told”), Michael Stipe (inspiradíssimo em “Everything’s Coming Undone”), Dinosaur Jr. (mostrando o que sabe em “The Backyard”), Ben Kweller (country em “Wake Up Whispering”), Josh Rouse (cool em “I Woke Up in the Mayflower”), Autumn Defense (a lá Wilco em “Paradise”), Juliana Hatfield (“We’re Not in Charleston Anymore”), Frank Black (“Bill Jocko”) e Mercury Rev (“Sailors and Animals”) conquistam o ouvinte com um belo disco por uma bela causa.

R$ 45 (importado)
Nota: 8

“Wake Up The Nation”, Paul Weller (Island)

Dois anos após lançar o brilhante “22 Dreams” (2008), Paul Weller retorna com “Wake Up The Nation”, um disco urgente (12 das 16 faixas não chegam aos três minutos) e inspirado que crava logo de cara dois rockões para levantar estádio, a envenenada “Moonshine” (com guitarras cortantes e piano que remete a Jerry Lee Lewis) e a forte faixa título (com percussão marcante e sax bem usado). “No Tears to Cry” parece uma linda balada roqueira dos anos 50 enquanto a rápida “Fast Car/Slow Traffic” revive o Jam na primeira gravação do baixista Bruce Foxton com Weller desde o fim do grupo. Com a espacial “Andrômeda”, faixa 5, começam os experimentalismos que culminam em “7 & 3 Is The Strikes Name”, faixa menor com a presença Kevin Shields, do My Bloody Valentine. Influências de música indiana e psicodelia percorrem as faixas e se fundem com rockões como “Two Fat Ladies”, o funk de “Grasp & Still Connect” e as matadoras “Find the Torch, Burn the Plans” e “Pieces of Dream”. George Harrison aprovaria.

R$ 45 (importado) R$ 80 a edição deluxe (dois CDs e livreto)
Nota: 8,5

12 thoughts on “Três discos: Teenage Fanclub, Paul Weller, Mark Mulcahy

  1. Puxa, nem sabia que o Paul Weller estava com disco novo. Vou baixar agora. Já o Teenage Fanclub continua magnífico.

  2. Marcelo, gostaria muito que respondesse ao comentário abaixo.
    Também nunca ouvi falar de Mark Mulcahy. Procurarei conhecer.
    Mas há um outro cantor/compositor praticamente desconhecido por aqui: Ron Sexsmith.
    É muito estranho um artista elogiado por Paul McCartney e Elvis Costello, dentre outros, ser tão pouco falado. E sua música é uma das que mais me empolgaram até hoje.
    Tirando um dueto com Chris Martin, do Coldplay, chamado “Gold In Them Hills”, ele é praticamente um desconhecido para boa parte do meio musical. É a impressão que tive ao pesquisar sobre ele na Internet. E eu não teria atentado para as suas qualidades musicais se não fosse um saldão de CDs onde seu disco homônimo custava menos de 5 reais.
    Detalhe: nada dele foi lançado no Brasil, mesmo com uma discografia de quase 20 anos.

    Se conhece Ron Sexsmith e acha que vale a pena falar dele no S&Y, será um gosto.

    Saudações.

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