Echo and The Bunnymem em São Paulo

Texto por Samuel Martins
Fotos por Eduardo Gabriel

…e pela 5ª vez, Echo & the Bunnymen em solo brasuca. Totalmente dispensável o blá blá blá de “só tocam aqui porque estão decadentes”. A rotina de uma grande banda é assim: lança disco, faz turnê, lança disco, faz turnê e a vida segue. Se o Echo (e o R.E.M., e o U2, e o Franz Ferdinand) tocam todos os anos na Europa e nos Estados Unidos, qual a graça de reclamar de mais um show no Brasil?

E não foi um show qualquer. Ian McCulloch e Will Sargeant, os dois remanescentes da formação original, surpreenderam. Ninguém esperava tanto. Sonzão alto, potente e cristalino. A voz do Ian está ok (melhorou inclusive em relação às últimas aparições do vocalista pela terra da caipirinha), fumaça dando o clima, casa cheia (apesar de ser o dia mais concorrido do SWU com Pixies e Queens of The Stone Age no line-up). O DVD “Live in Liverpool” não convence muito? Esquece. O show foi impecável.

A abertura: “Ocean Rain”, o álbum na íntegra e com cordas ao vivo. Simplesmente emocionante. A banda de apoio (Gordy Goudie, na guitarra, Stephen Brannan, baixo, Jez Wing, teclados e Nick Kilroe, bateria) também é a melhor desde a volta, competente e com muito punch. Will Sargent fica à vontade para despejar seus riffs ora viajantes e hipnóticos, ora ásperos e distorcidos. Tudo milimetricamente colocados.

Ian continua não interagindo muito com o público. Deu boa noite, avisou que seriam dois sets, elogiou São Paulo e só. Precisa mais? A música falou por si só. Deu o recado. A primeira parte foi de arrepiar. As cordas funcionaram perfeitamente ao vivo e “Silver” já empolgou. Na sequência, só emoção: “Nocturnal Me”, “The Yo Yo Man”, “The Killing Moon”, mais lenta e cadenciada, “Seven Seas”, “My Kingdom” e o fechamento com uma “Ocean Rain” de arrepiar.

A volta para o show normal também surpreendeu com “Going Up”, faixa que abre o álbum de estréia da banda, “Crocodiles”, lá em 1980, e em seguida, “Show of Strength”, pérola que abre o segundo álbum, “Heaven up Here”. Daí pra frente, mais desfile de clássicos: “Rescue”, com as guitarras no talo, “Think I Need it Too”, do álbum recente “The Fountain” seguida de “The Disease”, outra que surpreendeu, “Back of Love” e “The Cutter”.

Para o bis, “Nothing Lasts Forever”, sempre bonita e, agora, improvisada com “Walk on The Wild Side”, de Lou Reed, praticamente inteira dentro da melodia. Fechando a noite, “Lips like Sugar”, em versão bem rockeira – que transformou o Credicard Hall numa grande pista de dança.

O Echo passou da hora de se aposentar? Não lança mais discos relevantes? Só vem ao Brasil porque só faz sucesso aqui? Tudo bobagem. Os caras só estão fazendo o que gostam e sabem. “The Fountain”, álbum de 2009, é um disco áspero e barulhento que tem méritos, e “Sibéria”, de 2005, é um disco tão bom quanto e talvez até melhor que “Evergreen” (1997), o álbum mais aclamado da segunda vida dos Bunnymens.

A voz do Ian pode não ser mais aquele trovão de duas décadas atrás, mas ainda assim soa melhor e com mais personalidade do que 99% das bandas novas. Funciona em disco e, no show, basta para deixar todo mundo com um sorrizão no rosto. Não à toa. A quinta apresentação do Echo em São Paulo foi, sem dúvida, o melhor show deles por aqui depois da volta. 1987 não conta. Eram outros tempos. Em 2010, véspera de um feriado frio banhado por uma garoa fininha, retirar o sobretudo preto do armário para ir a um show nunca fez tanto sentido. O bom foi voltar pra casa feliz.

Set List:

Parte 1 – Ocean Rain:
1. Silver
2. Nocturnal Me
3. Crystal Days
4. The Yo Yo Man
5. Thorn Of Crowns
6. The Killing Moon
7. Seven Seas
8. My Kingdom
9. Ocean Rain

Parte 2:
10. Going Up
11. Show Of Strength
12. Rescue
13. Villiers Terrace
14. Bring On The Dancing Horses
15. Think I Need It Too
16. Disease
17. All That Jazz
18. All My Colours (Zimbo)
19. Back Of Love
20. The Cutter

Bis:
21. Nothing Lasts Forever/Walk on The Wild Side
22. Lips Like Sugar

– Samuel Martins é músico e toca na banda Interlude (www.interlude.com.br)
– Veja mais fotos de Eduardo Gabriel: http://www.flickr.com/photos/eduardo_gabriel

Leia também:
– Discografia comentada do Echo and The Bunnymen (aqui)
– “Ocean Rain”, um dos melhores álbuns já feitos (aqui)
– Uma carta de intenções chamada “Siberia” (aqui)
– “The Fountain” parece um rascunho do Echo (aqui)
– Marcelo Costa entrevista Ian McCulloch, 2001(aqui)
– “On Strike”, Echo & The Bunnymen, por Pepe Escobar (aqui)
– Ian McCulloch na Cabra Cega, por Marcelo Costa (aqui)
– Ian McCulloch ao vivo em SP, 2004, por Marcelo Costa (aqui)

9 thoughts on “Echo and The Bunnymem em São Paulo

  1. Dos 5 shows, estive presente em 3, e realmente esse foi o mais bonito. Certamente devido ao “momento Ocean Rain na íntegra”. Talvez porque quem estava presente [era feriado prolongado, tinha SWU] realmente lá pra curtir um som quase “intimista”, porque foi essa a minha sensação.

    Também acho uma grande bobagem alguns comentários sobre os shows aqui no Brasil. E infelizmente muito “jornalista” é responsável por isso. Não importa se é o Echo, se é outra banda. É péssimo ter esse conceito provinciano! É péssimo achar que “tudo lá fora” tem mais valor do que aqui.

  2. Grande resenha. Exatamente o que gostaria de dizer, depois de ouvir tantos absurdos quando dizia às pessoas qur iria novamente ao show dos Homens Coelhos. Ian pode não ter a mesma vós de vinte anos atrás, mas quem tem ? O “monstro sagrado” Robert Plant ? Acho que ninguém chega aos 50 com a mesma voz depois de tanto álcool e tabaco. O show foi inesquecível, lembrou o de 1987 em emoção. As cordas vieram como um “veludo” aos ouvidos, adicionando todo fundo harmônico do álbum Ocean Rain. E não importa quantas vezes virão nocamente a SP, eu irei em todas. Sou fã da banda e jamais perderei uma apresentação deles. Valeu Samuel !!!
    Só retificando, essa foi a 6a. apresentação do Echo em SP, as outras foram 1987, 1999, 2001, 2006 e 2008.

  3. Aqui em BH eu achei que foi um show surpreendente. Banda de apoio muito competente, o Ian com um bom humor e uma vez ainda poderosa e Will com o talento de sempre. E o (esperado) pouco público com certeza gostou demais. Eu então nem se fala, já que foi a primeira vez que fui a um show deles. Enfim, um show emocionante. E o mais recompensador foi ver meu irmão, que eu levei arrastado comigo pra me fazer companhia, afirmar que gostou bastante do show e me pedir pra gravar um CD dos Bunnymen para ele. Uma noite inesquecível.

  4. Realmente os show foram sensacionais. Mas devo discordar com o Gustavo qto ao pouco público mineiro….Não ficamos desejando nada a S.P. Lembre-se que estamos numa roça onde o Bom e Velho Rock in Roll não prevalece. Mas os fãs dos Bunnymen fizeram a sua parte…..
    Posso dizer que o show de Sampa foi sensacional devido a diferença e estilo. Mas BH tbm foi surpreendido pela belíssima coletânea tocada…..
    Ainda estou em êxtase…A Ficha não quer cair……….

  5. Mas eu não reclamei do público, Charles. Eu só disse que foi um público pequeno. Mas esperado, já que como vc disse, aqui é uma roça em se tratando de rock, rsrs. Mas eu prefiro assim, afinal quem foi é porque era fã da banda mesmo.
    E você é o Charles de BH, que tinha um projeto de um site da banda? Este projeto vingou? Abraços.

  6. Acho que o que realmente chamou a atenção foi o grupo tocar Ocean Rain na integra com todos os seus arranjos e com tanta requinte. Assim revisitaram faixas que tocam menos como My Kingdown, Town of Crown entre outras do disco de 84.

    Uma banda com um repertório deste e quando bem montada com um grupo de apoio competente como este só pode dar nisto.. Show histórico, tudo funcionou bem… Valeu cada centavo!!!

    Quem sabe da próxima nao tocam Crocodiles, Heaven up There, Porcupine,.. os caras tem muita brasa para queimar ainda,

  7. Pra mim são – junto com o Wilco – a melhor banda de todos os tempos e no melhor momento da carreira.

    Os primeiros discos são ótimos, mas a sonoridade atual deles não é tão datada e a voz do Ian – tão criticada – pra mim está mais bonita.

    Queria muito ter visto esse show.

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