por Tiago Agostini
Porto Velho é uma capital sem prédios. A constatação é óbvia já na descida do avião, onde o aspecto baixo das construções se destaca na paisagem. Estamos no meio da Amazônia e isso também é perceptível da janela do avião assim que a paisagem começa a intercalar espaços de mata abundante com enormes lotes de terra devastada. E são exatamente esses espaços livres que mostram que há uma mudança em curso na cidade: já em terra firme, andando pelas ruas, é perceptível que há vários prédios de mais de dez andares em construção, numa expansão provavelmente incentivada pelo mercado da madeira.
É neste cenário de crescimento que o Festival Casarão, entre os dias 16 e 19 de junho, mostrou evolução e consistência na produção, além de descortinar uma cena efervescente e de qualidade. Se teve menos público que em edições anteriores, o Casarão deste ano conseguiu apresentar um bom panorama do que de melhor se faz na música independente no Brasil. Com uma escalação mais compacta que o normal nos festivais independentes – e espalhada por vários dias e locais da cidade –, o festival acabou com vários shows acima da média e poucos ruins.
A festa começou na quinta-feira. A concepção de dois palcos um frente ao outro e completamente de graça, sendo um ao ar livre, trouxe uma movimentação de público interessante para frente do Palácio do Governo. No palco dos metaleiros (o ao ar livre), nada de novo, apenas rock no talo o tempo inteiro. Já dentro do Mercado Municipal uma surpresa com o trio local Expresso Imperial, mais uma boa banda instrumental para a cena brasileira.
No mesmo palco, O Caldo de Piaba mostrou a competência habitual, fechando o show com sua cover certeira e suingada de “I Want You (She’s So Heavy)”, dos Beatles. Ponto negativo: o Do Amor, show mais esperado da noite, sofreu com problemas de som. Mesmo assim foi uma apresentação divertida (como de costume), principalmente quando alguns moleques metaleiros começaram a bater cabeça em frente ao palco e a banda acelerou o ritmo. A noite ainda tinha Mugo e o Autoramas em show acústico, mas o cansaço venceu.
O momento hilário da noite rolou no bate papo com o tiozinho do churrasquinho de gato, fã de rock progressivo e psicodélico, uma atração à parte. Reconheceu uma citação do Focus em algumas músicas, bateu cabeça com um cover de “Born To Be Wild” – “isso sim é música” – e ao ouvir o nome de São Paulo, foi categórico: “Você é feliz, mora na cidade em que o rock n’ roll acontece”. Se ele diz…
A sexta-feira teve mudança de ares, com shows no Kabanas, um local mais afastado do centro, porém, com estrutura melhor, e boas surpresas na escalação. De cara, os acrianos do Survive mostraram como fazer heavy metal com peso e velocidade tal qual o melhor do thrash. Da cena local, a Hey Hey Hey provou porque é a banda mais conhecida fora dos limites de Rondônia, com um pé no garage rock e outro no indie.
O grande destaque, no entanto, foram os gaúchos da Comunidade Ninjitsu que, ignorando o calor (saíram de uma Porto Alegre com 4ºC) botaram todos para dançar ao som do batidão. Mano Changes, o vocalista vereador, comandou a platéia em hits como “Ah, Eu To sem Erva”, “Detetive”, “Cowboy” e “Rap do Trago”. Suados e extasiados, demonstraram uma simpatia poucas vezes vista em festivais por parte de artistas que não circulam neste meio. É uma pena – e uma vergonha – que a Comunidade não toque mais pelo Brasil. Para fechar, o Cidadão Instigado fez um show curto, mas com a competência habitual. A participação de Edgard Scandurra decepcionou, tocando uma versão modorrenta de “Tolices” e engatando, após o show do Cidadão, uma performance quase interminável de suas eletronices bizarras. Para esquecer.
Sabadão foi o dia mais quente da breve estadia em Porto Velho – tanto na temperatura como no palco. Se os garotos locais do Strep provaram que estão prontos para tocar na Malhação, a trinca que encerrou o Casarão foi matadora. O Superguidis chutou bundas com guitarras no talo e riffs secos, numa performance enérgica e intensa.
Em seguida, o trio Nevilton provou porque tem o melhor show do independente atual: mesmo num palco diminuto, pularam, correram e dominaram o público em poucos minutos, ganhando um coro animado em “Paz a Amores”. E os paranaenses de Umuarama só tem o melhor show atual porque, bem, o Móveis Coloniais de Acaju já pode ser considerado hors-concours na categoria. Em sua primeira apresentação em Rondônia, a trupe brasiliense fez o que sabe melhor: colocar o povo para pular. Ao chegar a já tradicional roda em “Copacabana” o público estava extasiado. Que venha o Casarão 2011.
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Foto gentilmente cedidas por Cirilo Dias, do Urbanaque
O Scream & Yell viajou para Porto Velho á convite da produção
‘Metaleiro’ soa tão pejorativo…
que venha o casarão 2010 ? num já foi esse ai não que tu tá…falando ? 😀
“já em terra firme, andando pelas ruas, é perceptível que há vários prédios de mais de dez andares em construção, numa expansão provavelmente incentivada pelo mercado da madeira”
Tiago, me desculpe, mas um comentário desse é de doer. Pelo jeito você não sabe que aqui na cidade de Porto velho estão sendo construídas DUAS usinas hidrelétricas com valores de mais de 10 BILHÕES de reais. Tem que ter muita madeira para levantar esse dinheiro….
Pow, segundo ano que me programo para ir no Casarão e não dá certo 🙁