por Marcelo Costa
Da série textos engavetados
Sucesso, parece, virou palavrão. De novo. Pior: há muita gente que trabalha com música (fazendo, produzindo ou escrevendo sobre) que acredita piamente que o sucesso artístico não existe mais, e que a grande maioria dos artistas independentes não quer fazer sucesso. Por outro lado, Ivete Sangalo e Lady Gaga continuam vendendo milhares de discos, e os independentes que o Scream & Yell conversou recentemente foram categóricos: querem fazer sucesso. Dividindo o assunto em dois: Ivete e Lady Gaga ocupam hoje o espaço que tempos atrás foi de Nirvana, Legião Urbana e Skank. Ou seja: é preciso deixar de fatiar o mercado e pensar em nichos, e acreditar que uma boa banda ou artista pode sim chegar a fazer sucesso nacional. O mercado diminuiu, mas ainda existe. Ponto 2: Romulo Fróes, Lulina e Stela Campos, em entrevistões recentes, mostraram-se a fim de tocar em rádios, programas de TV e grandes casas de shows, desde que o contrato com uma gravadora não estipule manipulação artística, o que quer dizer que as grandes gravadoras precisam acreditar no poder do novo ao invés de tentar moldar uma fórmula, de tentar facilitar a música para o ouvidos do povo, como se o povo não fosse capaz de reconhecer uma grande canção. O cenário independente hoje em dia está repleto de artistas que gravam discos de qualidade, mas que precisam da máquina da grande indústria para divulgar seus trabalhos. Bruno Morais, Pullovers, Ludov, Nevilton e Charme Chulo (citando cinco nomes de uma lista imensa) fazem trabalhos de apelo pop notável, e só são independentes devido ao encolhimento do mercado e a abertura proporcionada pela tecnologia (que permite hoje a gravação de bons discos sem a cobertura de um grande selo), e não por uma pseudo-estranheza que os diferencie de outros que tocam em rádios. Sucesso não é palavrão e não existe fórmula que designe quem será a próxima Lady Gaga e o próximo Nirvana. O futuro começa a partir disso.