por Débora Gallas
“Coração Louco” (Crazy Heart, EUA, 2009) poderia muito bem ser um musical, usando somente as belas canções do cantor country Bad Blake (Jeff Bridges) como pano de fundo. Poderia ser também um filme romântico, focado na conturbada história de amor do protagonista com a jornalista Jean Craddock (Maggie Gyllenhaal) assim como um road movie, abusando dos característicos planos abertos do cinema americano, em paisagens áridas, para apresentar a dimensão da solidão de Blake. Poderia, ainda, ser simplesmente um bom drama, construído em cima dos problemas de um músico ao tentar viver com seu ostracismo. Ou poderia ser tudo isso.
A história é clichê, mas a vida é feita de clichês. Bad Blake é um músico veterano e decadente que acaba encontrando refúgio no álcool, fuma um cigarro atrás do outro, está sem inspiração e se sente rejeitado por seu ex-pupilo, o novo queridinho do country Tommy Sweet (Collin Farrel, que misteriosamente não aparece nos créditos ao final do filme, “pode isso Arnaldo?”). Sua carreira se resume a pequenas apresentações em bares de cidades do interior dos Estados Unidos, para um público que ainda consegue reconhecê-lo, apesar de normalmente estarem tão ou mais embriagados que o próprio cantor. Enfim, o fundo do poço é evidente.
Mas Blake também é um homem romântico. De passagem por Santa Fé, capital do estado do Novo México, nos Estados Unidos, o cantor conhece Jean, repórter do jornal local e mãe solteira. Ela tem plena consciência dos riscos que um relacionamento com Bad podem trazer, mas se encanta com o charme do velho músico e aos poucos nasce uma relação de cumplicidade. Paralelo a sua nova paixão, Blake recebe uma ótima proposta: abrir uma apresentação de Tommy. No melhor estilo “cowboy orgulhoso”, o cantor tem dificuldades para aceitar algo que venha do garoto que descobriu e se mostra resistente à idéia de abrir o show do sujeito.
Apesar de seu sucesso, Tommy nunca conseguiu alcançar a qualidade das canções de Blake e durante o reencontro, sempre gentil, passa grande parte do tempo demonstrando sua gratidão e admiração – o que acaba tornando o ressentimento ainda mais revelador.
O trabalho de Bridges consegue transmitir tal intensidade de sentimentos em uma interpretação pra lá de sensível. Absolutamente convincente na pele do músico, empresta seu carisma ao anti-herói Blake, que, mesmo repleto de falhas, conquista o espectador desde a primeira cena. Seus fantasmas, o alcoolismo, a vida na estrada, enfim, todos os dramas que compõe e fazem de Bad um personagem tão complexo são retratados com maestria. Contudo, o grande mérito de Jeff é deixar transparecer algumas semelhanças entre ele e seu personagem: velho, acabado e sem esperanças. Se Bad Blake é “country”, Jeff Bridges é “country”.
Dirigido com competência pelo estreante Scott Cooper e contando com uma trilha sonora assinada por T-Bone Burnett – ao lado de canções do falecido compositor texano Stephen Bruton – o longa até pode parecer uma simples história de redenção, mas no final acaba simbolizando um momento de transição. E o fato de Bad Blake conseguir ou não superar todos os seus problemas se torna secundário. O fundamental, aqui, é perceber que seu coração louco viveu o suficiente para compor a melhor canção de sua carreira. Porque sua vida sempre será feita de grandes canções.
jeff bridges ok… agora, que roteiro fraquinho, fraquinho. a personagem feminina do filme é tão inverosímel que já me esqueci do nome dela… faltou costura e estofo!
achei um filmaço. o fato da personagem ser praticamente inverossímel é o que faz o crazy heart, depois de anos de vícios e perto da morte, desejar ser outra pessoa. “i used to be somebody/ but now i am somebody else”.
inverosímel é a personagem feminina, como escrito acima; de qualquer modo, é inverosímel na minha opinião apenas. quanto ao “bad”, excelente personagem, bem desenvolvido e brilhantemente incorporado por jeff bridges; ainda acho que o roteiro foi extremamente linear, comum e raso, o que não impediu que me emocionasse por diversas vezes durante o filme; no entanto, prá filmaço, falta muito…
A personagem da Maggie Gyllenhaal quase estraga o filme mesmo. Nao pela atriz, mas pela forma que ela aparece. No mais, bom filme mesmo. Vale a pena.
Nao acho a personagem Maggie Gyllenhaal tao “inverossímel” assim. Ok, é bem meia boca, mas dá pra relevar. A bobagem é aquele molequinho, mal aproveitado pacas, chega a ser desnecessário. E para um diretor estreante até que o maluco mandou muito bem!
Mas enfim, tudo isso passa para segundo plano com a puta atuação do Jeff. No mesmo nível do “The Dude” 🙂 – pra melhor…