por Leonardo Vinhas
O que falar sobre o filme francês “Uma Relação Pornográfica” (“Une Liaison Pornographice” / “An Affair of Love”, 2000) que ainda não tenha sido dito? Você provavelmente já leu que o filme é bem conduzido, tem uma narrativa leve e envolvente, que é impossível não se apaixonar gradativamente pelos protagonistas, etc. Então, o que mais há a se comentar sobre esse filme?
Talvez sua capacidade de inquietar. De deixar uma sensação incômoda que só cresce a medida que tentamos relativizá-la. Porque “Uma Relação Pornográfica” é um filme sobre pessoas como você e eu, pessoas que se furtam ao ato de revelar seus sentimentos por estarem “calejadas” emocionalmente. Pessoas que às vezes aumentam a magnitude de suas mágoas para não terem que vivenciar novas dores.
Pessoas que bloqueiam o que pode vir a ser amor transferindo suas falhas e incoerências para os parceiros. Pessoas que, quando podem sair da miséria emocional, criam barreiras e obstáculos para preservar sua solidão e depauperada individualidade. Como os protagonistas do filme. Por isso eles não têm nome, são apenas “o homem” e “a mulher”. Porque podem ser qualquer um de nós.
“Uma Relação Pornográfica” não traz resposta a nenhum desses questionamentos, Ao contrário, traz mais perguntas e dúvidas. Suscita questionamentos e envergonha qualquer um que já passou por um relacionamento tomado por inquietação e tranqüilidade, por um sentimento que vem gratuito e pelo qual às vezes pagamos um alto preço. Um sentimento que convencionou-se chamar de amor. “Uma Relação Pornográfica” é um belo filme sobre o amor e sobre a falta dele.
Talvez somente isso não se houvesse falado sobre o filme.
Leonardo Vinhas já viveu uma relação pornográfica e ela terminou como a do filme
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por Marcelo Costa
Ela é conhecida por “ela”. Ele é chamado, simplesmente, de “ele”. Os dois formam um casal, sem formar. A história é uma história de amor, simples e sublime como o amor deveria ser sempre. E quase sempre acontece do jeito de Frederic Fonteyne retratou em suas lentes.
Poucas vezes o amor foi tão bem filmado quanto em “Uma Relação Pornográfica”. A pornografia do titulo deverá decepcionar um espectador incauto, pois não é a pornografia de sexo explicito. É a pornografia do amor desnudo, brotando do impossível e sustentando-se no inevitável.
Os cuidados são deliciosamente tomados. Nathalie Baye, ela, não é uma atriz bonita no sentido hollywoodiano do termo. Sua beleza é a beleza das pessoas comuns. No inicio da trama, quando, em tom de retrospectiva, ela conta como tudo foi acontecendo, nós nem prestamos atenção direito nela. Porém, aos poucos, quando sua imagem volta ao âmago da história, é impossível não resistir a seu charme.
Seu sorriso conquista, sua falta de jeito disfarçada em trejeito nos acolhe, sua entrega nos faz feliz, seu medo nos comove, sua história nos faz chorar, mesmo sabendo que ela não sabe de nada do que nós sabemos. E nós sabemos porque também acompanhamos os pensamentos de Sergi Lopez, ele, que também divide a narrativa lembrando de como tudo aconteceu, atuando de um modo desequilibrado, assustado, doce e perfeito.
Ela não sabe o nome dele, e vice-versa, e por conseqüência, nem nós. Conheceram-se via anúncio em revistas sobre sexo e apenas sabem que querem realizar suas fantasias sexuais. Escolhem um café para o encontro, decidem por todas as quintas-feiras em um hotel que ela já havia reservado. Assim nós, espectadores, os acompanhamos até onde nos é permitido, e ficamos a imaginar o resto.
Enquanto a imaginação voa, o amor pousa. Ninguém esperava e todos temos medo. Eles principalmente. Ele assusta-se em ela querer ficar por cima, na cama. Ela assusta-se em imagina-lo olhando-a chegar ao orgasmo. Nós nos assustamos em como deixamos de dizer as coisas. E sempre acontece assim, desse jeito.
A sutileza dos olhares impressiona quem estava preparado para a violência do sexo fácil.
Fonteyne enfrenta o desafio de contar uma história de amor em um mundo repleto de histórias de amor. Poderia soar repetitivo, caricato, mas soa sublime, tocável, real. Quando “ela” começa a questionar que os filmes que vê não retratam a vida real, nós sabemos do que ela está dizendo. É bem mais difícil desnudar sentimentos do que desnudar corpos, e essa é a magia de “Une Liaison Pornographice”.
Natalhie Bayle recebeu o prêmio de melhor atriz, a Taça Volpi, no Festival de Veneza. Sergy Lopez recebeu o prêmio de ator do ano da European Award. E nós recebemos uma história de amor como não se conta mais. Simples e sublime como o amor deveria ser sempre, só esperando que ninguém espere passar o momento para dizer tudo que sente. Você, caro leitor, diz?
O tempo passa. O amor.
E foram felizes para sempre. Foram?
Marcelo, acredita no amor, ainda e sempre.
Ps. Textos escritos em 2001 e 2000, respectivamente.
Nossa, texto muito bem escrito e deu vontade de sair correndo até a locadora mais próxima para alugar esse filme! E é o que farei assim que puder.
Achei o site há pouco tempo e estou adorando, realmente me sentindo “em casa”. Hahaha…
Parabéns.
Eu vi o filme de uma outra maneira. Ela deseja encontrar um cara para sexo e nada mais. Coloca um anúncio no jornal, que ele responde. Passam a se encontrar e cumpreem, assim, a primeira via do encontro,( voltar e voltar e voltar). Ficariam assim, já mostrando no filme as inquietações de quem espera, não fosse o problema de saúde do hóspede ao lado. Isso , socorrido por eles, parece mostrar que um dos problemas do amor é que, não importa o nome, vo cê tera que conviver com o dia a dia, os desgastes de uma relação, qualquer que seja, o fim da juventude, a decripitude e o rio, normal, por onde desaguam as vidas. Nenhum dos dois têm coragem para tanto, embora ambos se voltem , na última cena, para quase tentar. O filme é lindo. Mas os atores não deixam mais claro , pela ausência de qualquer tipo de emoção, o que de fato pretyendiam. Por isso o início é de explicações. “Loved” com Robin Write Penn e William Hurt faria mais bonito na explicação da luta entre o desejo e a necesidade de, e a impossibilidade de…