por Murilo Basso e Gabriel Basso Neto
Jens Lekman, The Hiver, Peter Bjorn and John, The Sounds… Parece estranho e, de certa forma, pode até ser, mas o fato é que a Suécia passa por um período em sua produção musical pra lá de bacana. De uns tempos pra cá uma nova geração de bandas vem dominado o mundo da música independente. Bandas de gêneros distintos, mas com um ponto em comum: apelo pop e boas canções.
Formado em 2005 na gelada Jönköping – o que você imaginava que os suecos faziam durante seus invernos pra lá de rigorosos? Música, óbvio – o I’m From Barcelona é uma das gratas surpresas do rock alternativo apostando na manjada e certeira fórmula sueca, à la Cardigans: melodias trabalhadas, guitarras marcantes e aquele refrão pegajoso que pretende dominar o mundo.
O vocalista, compositor e idealizador da banda, Emanuel Lundgren (o cara de bigodinho e sapato vermelho na foto acima) topou conversar com o Scream & Yell. Na entrevista abaixo, você ficará sabendo um pouco mais sobre os dois álbuns do grupo, as novidades para o próximo ano e como é viver em uma banda com 29 integrantes. Todos “gente fina”. Confira:
Vocês surgiram em uma época repleta de bandas bacanas na Suécia. De que forma isso os ajudou?
Na época, muitos olhos estavam, e acredito que estão até hoje, voltados para a Suécia. Essa visibilidade acabou nos ajudando muito. Estou muito contente que, graças a esse período, tivemos a oportunidade de viajar intensamente, de aprender com essas experiências. Hoje enxergo meu país como um novo olhar.
E hoje em dia quais os projetos bacanas por ai?
Eu sou fã da Silverbullit e posso adiantar que eles estão trabalhando em um novo álbum. Meus amigos do Loney Dear, Du Pacque e Blackstrap também estão indo muito bem. Vocês precisam conhecer Freddie Walding, o “Bowie da Suécia”.
E quanto ao I’m From Barcelona: como funciona o processo de composição? Grande parte das músicas são suas, correto?
Bem, quando estou com sorte é como pegar um pássaro voando. Quando não estou é como esculpir a música em uma grande rocha com um palito (risos)… Na verdade, não existe nenhum motivo ou método específico. São só dias diferentes, diferentes níveis de inspiração. “Paper Planes”, por exemplo, é inspirada em um apartamento onde morei por dez anos. As paredes eram feitas com um papel fino, então eu conhecia meus vizinhos muito bem. Fico satisfeito ao saber que finalmente pude usar minha idéia, dando um ar meio sitcom a ela.
Vejo “Let Me Introduce My Friends” como um dos grandes discos da música pop na última década. E você, como o vê hoje?
Foi um álbum importantíssimo e, na verdade, muito honesto. As primeiras canções deviam ser apenas para alguns amigos, e isso criou um ambiente ótimo, extremamente agradável para tocar. Ainda tenho muito orgulho de “Let Me Introduce My Friends”, embora veja cada álbum como seguir adiante, dentro de seu próprio universo.
Acho “Oversleeping” sua grande canção…
“Oversleeping” é uma daquelas músicas que simplesmente aconteceram, como se tivesse caído do céu, sabe? Na verdade eu ainda tenho problemas para levantar pela manhã “Damn! Oversleeping again! Damn! I can’t believe I did it once again” (risos). Um fato curioso sobre a canção é que, um amigo meu, chamado Samuel, é mencionado por alguém durante a introdução. Ele ficou surpreso quando comprou o disco e percebeu que ela começava com seu nome (risos).
Lembro de um vídeo em que você canta “Treehouse” com cerca de 20 pessoas em um bar de Paris. É incrivelmente divertido.
Sim, foi muito divertido! Realmente admiro os caras do blogotheque. Eles têm produzido várias gravações ao vivo fantásticas. Nós fizemos uma nova onde eu estou detonando um violão no metrô de Paris. Mas eles não publicaram, não sei o motivo. É sempre algo especial quando as pessoas cantam junto conosco. É por isso que temos a música, pelo menos é no que acredito.
Confesso que sempre tive curiosidade de lhe perguntar isso, então: “Who Killed Harry Houdini?”
Acredito que sua arrogância o matou… E um cara (risos).
Quanto ao disco, no começo fiquei um pouco confuso, ele me soa melancólico em alguns pontos. Justamente o oposto de “Let Me Introduce My Friends”. Foi proposital?
Desculpe se eu lhe confundi (risos). Mas eu me senti assim: o primeiro álbum foi feito de uma maneira muito especial; começou como algo que eu desejava partilhar com meus amigos. Então, de repente o I’m From Barcelona é meu emprego e tudo que me cerca. Para conseguir viver comigo mesmo eu precisei incorporar mais elementos e sons que eu gosto. Seguindo essa lógica, “Who Killed Harry Houdini?” parece mais honesto. Mas como já lhe disse, para mim, cada álbum é único e possui seu próprio universo. Acho que em breve você vai ficar confuso de novo (risos). Sabe, os fãs de I’m From Barcelona devem ser pessoas que gostam de ficar confusas. Bem, é melhor estar confuso do que entediado (risos).
Qual a idéia por trás de “Music Killed Me”? Às vezes, ela me assusta.
Uma música é algo muito poderoso. E continuo surpreso como isso ainda é legal. Algumas vezes você precisa “ler” as letras pequenas para não passar do limite. Mas a canção tem uma mensagem importante no final: “It doesn’t really matter anymore – you have to take some chances I suppose”. Isso resume bem o que nós fazemos com o I’m From Barcelona.
Em “Who Killed Harry Houdini?” percebi mais melodias, elas foram melhores trabalhadas, as letras ganharam densidade e é preciso mais do que uma audição para se interessar pelo disco. Já com “Let Me…” é quase “amor à primeira vista”…
Provavelmente você está certo. Veja: um álbum para antes da festa e outro para depois dela. O próximo vai ser o álbum para a festa (risos).
Após quatro anos de estrada o que mudou para vocês? Como estão as coisas para o I’m From Barcelona? O que podemos esperar para 2010?
Foi tudo muito louco para nós! No começo, obviamente, não tínhamos certeza do que iria acontecer, ou por quanto tempo. Hoje posso dizer que somos sim uma banda e nos conhecemos muito bem após dias e mais dias juntos. Ainda é tudo muito divertido. No próximo ano lançaremos um álbum on-line e em vinil chamado “27 Songs From Barcelona” onde todos da banda fazem uma canção solo.
Pode adiantar mais alguma coisa?
Ele contém praticamente tudo: do pop ao jazz. Emo, country e baladas… Lançaremos uma canção gratuitamente em nosso site, já no início do próximo ano. O vinil triplo será limitado e irá conter material artesanal de alguns membros da banda.
Para finalizar comentei com um amigo meu sobre nossa entrevista – segundo ele, o “Let Me introduce My Friends” é um grande disco. Ele acabou me pedindo um favor: “pergunta por quê o segundo disco é uma merda!” Então, o que posso dizer para ele?
Bem, seu amigo provavelmente não está pronto para ouvir o próximo álbum (risos).
Leia também:
– “Night Falls Over Kortedala”, de Jens Lekman, por Marcelo Costa (aqui)
Bem boa a entrevista! Tem quase tudo que um ouvinte quer saber, e o suficiente para interessar quem ainda não ouve. E viva à Suécia!