Por Murilo Basso
Existem certas coisas com os quais você nunca aprende a conviver. O fim de um relacionamento, por exemplo, é uma delas. Nos deixa apreensivos, mas não podemos afirmar que seja uma tristeza, daquelas que irão nos acompanhar pelo resto de nossas vidas. É algo mais próximo da sensação de que algo está faltando. Ou melhor, de que por um determinado período, algo vai começar a faltar.
Quando Adriana (Érika Mader) se aproxima de Antônio (Gregório Duvivier), não era preciso dizer nada; ambos já sabiam que acabou. Até podem não querer acreditar ou aceitar, mas sabem. E “Apenas o Fim” é isso: a última hora de um casalzinho pra lá de clichê, a menina bonitinha que de repente decidiu sumir e o nerd fã de Star Wars que fica sem saber o que fazer (a culpa não é dele: quase ninguém sabe).
Como pano de fundo para a história mescle todos os elementos que julgar interessantes na cultura pop nos últimos dez anos, das Tartarugas Ninjas ao Super Nintendo, e tente dialogar com uma geração que fora diretamente influenciada por toda essa cultura – porque, para grande parte dela, “Transformers é melhor que todos os filmes do Godard”. Juntos!
E a tal última hora segue com Pokémons, Vovó Malfada e Hobbits (aliás, Peter Jackson certamente iria sorrir com a citação), em meio a risos e lágrimas que a simplicidade das situações vividas por Antônio e sua namorada proporcionam e, de algum modo, conseguem provocar pela maneira desavergonhada como são expostas, sem perder a leveza e usando o humor como disfarce para a profunda melancolia da história.
A forma como é retratada uma história pra lá de emotiva pode até parecer doce, ingênua ou até mesmo “adolescente” demais, mas todos que já viveram algum romance na vida sabem do que se trata e se sentem um pouco confortados; de lá pra cá, muita coisa mudou (ou, dependendo do ponto de vista, praticamente nada) e agora você sabe que não está sozinho no mundo.
Fruto de um projeto de alunos do curso de cinema da PUC-Rio com roteiro e direção de Matheus Souza, de apenas 20 anos, e orçamento bastante limitado, “Apenas o Fim” é o típico exemplo de algo que tinha tudo para dar errado (pelo pouco dinheiro, pela inexperiência), mas deu certo – muito certo. A influência direta é Woody Allen banhado em cultura pop, mas o filme também segue a linha inteligente da dobradinha “Antes do Amanhecer / Antes do Pôr-do-sol”, de Richard Linklater.
O jovem diretor faz uma espécie de recorte da realidade, investindo em diálogos rápidos e inteligentes, doses certas de bom humor e atuações seguras e competentes. Principalmente, Matheus Souza usa as limitações a favor da trama. A narrativa esbarra na pieguice em determinados momentos, mas acaba se justificando no discurso extremamente sincero dos personagens. E prova que pode sim existir vida inteligente na comédia romântica nacional.
“Apenas o Fim” é sobre quando somente amar não basta. É sobre quando a vontade de fugir só é maior que o medo de ficar. E, principalmente, sobre o amor e o fato dele andar lado a lado com as idéias mais loucas. É uma busca pelo futuro contido no presente. Nos faz pensar que algumas vezes, é preciso continuar em frente e a grande ironia é que muitas pessoas – eu, você e a maioria delas – não sabe seguir seu caminho. Afinal, já dizia Bob Dylan: “É impossível amar e ser esperto ao mesmo tempo”. Concorda? Bem, concordando ou não, dê uma chance.
Murilo Basso, 20, não achava nada ridículo controlar uma dupla de encanadores fofinhos aos 12 anos e acredita que o amor parece mais com uma pizza… de chocolate!
mimimi.
esse garoto, o matheus, foi comparado ao domingos oliveira e o próprio elogiou o filme. aqui na minha gleba o filme ainda não deu as caras, mas a simplicidade me atraiu; fico na espera.
To ansioso pra ver esse filme.