Por Marcelo Costa
Pierre (Romain Duris) é dançarino, e sua vida vira de cabeça para baixo quando ele descobre que tem um problema de coração, e que está com os meses contados caso não receba um transplate – “que tem 60% de chance de dar errado”, explica para a irmã Élise (Juliette Binoche), uma assistente social que criou sozinha seus três filhos e, aos 40 anos, já desistiu do amor. Élise muda-se para a casa do irmão para tentar ajudá-lo neste período difícil.
Por este primeiro parágrafo, “Paris”, filme de 2008 do diretor francês Cédric Klapisch, pode sugerir um drama familiar, mas a família aqui retratada é um pouco maior do que os laços de sangue permitem selar, pois o longa não é uma história fechada sobre os personagens Pierre e Élise, mas sim um pequeno panorama sobre diversas histórias paralelas de cidadãos que habitam uma das cidades mais belas do mundo, e que conclui o personagem moribundo, “está condenada a ser dos ricos”.
No emaranhado de histórias que compõe “Paris” presenciamos o romance clichê de um professor quase cinqüentão (Fabrice Luchini) que, no meio de uma aula, se apaixona por uma de suas alunas, a jovem Laetitia (Mélanie Laurent) – que tem namorado. Ele entope o celular da garota de mensagens de amor (e poemas de Baudelaire, autor de “Le Spleen de Paris”) até que ela o descobre, e o desenrolar da história provoca alguns dos melhores momentos do filme.
Há ainda o típico personagem parisiense representado pela dona de uma padaria que maltrata seus funcionários com a loja lotada, mas assim que se vira para um cliente é toda fofa e solicita; e um núcleo formado por personagens que trabalham em uma feira, e vivem diversos dramas pessoais cujo ápice surreal e piegas, após um acidente fatal, acontece em um mercado atacadista quando quatro madames recém saídas de um desfile de moda terminam a noite paquerando os trabalhadores.
Klapisch ainda inventa (e não aprofunda) mais personagens que se cruzam e se cruzam e se cruzam, mas no fundo o personagem principal de seu filme é a cidade. “Paris” é mais uma (entre dezenas) declaração de amor à cidade em que todo mundo reclama e vive emburrado (“E nós adoramos isso”, observa Pierre em certo momento), e (quase) todo mundo ama. O filme começa na Torre Eiffel e sempre tem um cartão postal ao fundo, o que em se tratando de Paris não precisa se esforçar muito.
Assim como na dobradinha “Albergue Espanhol”/”Bonecas Russas”, o diretor escorrega em diversas passagens, mas comove bastante quando acerta. Ele caminha na fina linha que separa o belo do piegas e pisa nos dois territórios durante os 130 minutos da película. Por fim, consegue compor um interessante mosaico que tenta representar a urgência de um mundo (no geral, e de Paris em particular) que nos leva sem que percebamos sua beleza. É Paris, mas poderia ser São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador…
“Paris”, de Cédric Klapisch – Cotação 2/5
Mac, eu baixe esse filme na net uns meses atrás, indicado por uma boa amiga. Não consegui passar da metade :/
oi, Marcelo. só pra dizer que eu adorei o filme, que ele merece um 9/10. melhor que “Albergue espanhol” (5/10) mas inferior ao “Bonecas russas” (13/10 e top 5 da minha vida). acho que você precisa ser internado.
Onde eu baixo ?
“o diretor escorrega em diversas passagens, mas comove bastante quando acerta. Ele caminha na fina linha que separa o belo do piegas e pisa nos dois territórios durante os 130 minutos da película. Por fim, consegue compor um interessante mosaico que tenta representar a urgência de um mundo (no geral, e de Paris em particular) que nos leva sem que percebamos sua beleza. É Paris, mas poderia ser São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador…”
conseguiste dizer aqui o que senti no escuro do cinema e, mais ainda, no escuro dentro de mim. O filme é belo, mas nem por isso deixa de ser piegas, ou talvez justamente por isso! Enfim, adoro teus textos.