Por Murilo Basso
Fotos de Marcelo Stammer
A chuva e o frio intenso não impediram que um bom público marcasse presença nas duas noites da sétima edição do Rock de Inverno – festival criado em 2000 em Curitiba pelos jornalistas Ivan Santos e Adriane Perin – que reuniu na capital paranaense bons nomes do cenário independente nacional.
O festival começou na sexta-feira contando com um ótimo som e shows de qualidade, o que acabou proporcionando algumas gratas surpresas. A abertura da noite ficou a cargo da Liquespace, formação confusa em meio as suas referências que vão da MPB a música tradicionalista passando por Mombojó e Nação Zumbi. Não convenceram e não empolgaram.
Vinte minutos depois os meninos do Pão de Hambúrguer subiram ao palco com toda aquela imagem de roqueirinhos revoltados apaixonados pela década de 70. E não é que os cinco “adolescentes” cabeludos se sobressaíram em um evento que um ou outro desavisado poderia perfeitamente considerar destinado exclusivamente ao público “indie”. Três guitarras, paixão pelo velho rock’n’roll e um vocal seguro garantiram uma apresentação sólida cujo ponto alto foi o cover de “Será Que Eu Vou Virar Bolor?”, de Arnaldo Baptista – o que no caso do Pão está longe de ser demérito.
O trio Nevilton, de Umuarama, interior do Paraná (“mais perto do Paraguai do que de Curitiba”, como explicou brincando o vocalista), continua mostrando em cima do palco que os constantes elogios que o grupo vem recebendo são merecidos. A receita é simples: apresentações diretas e sinceras que valorizam as canções bem trabalhadas com forte apelo pop, sem nunca descuidar da performance, Nevilton (guitarra / vocal), Tiago Lobão (baixo) e Fernando Livoni (bateria), em meio a pulos e, entre um riff e outro, conseguiram fazer barulho. Muito barulho.
O Hotel Avenida apresentou um repertório consistente, apostando em baladas ao violão e piano com destaque para “Um Centavo”, cantada pelo tecladista Ivan Santos (ex-OAEOZ) e “Eu Não Sou um Bom Lugar”, primeiro single do grupo lançado recentemente. Já o 3 Hombres, apesar do esforço do vocalista Daniel Benevides, não passou de um momento “flashback” constrangedor.
Outro ponto alto do festival foi o retorno aos palcos do carismático vocalista Oneide Diedrich (ex-Pelebrói Não Sei), que ressurgiu com Os Marlenes divertindo uma noite fria com canções fortes que lembram bons momentos do Beijo AA Força e de sua ex-banda. Fique atento neles. O brasiliense Beto Só fechou a noite mesclando canções de seus dois ótimos discos – “Lançando Sinais” e “Dias Mais Tranqüilos” –, com destaque para o final, já após o “bis”, com uma versão de “Gloria”, de Van Morrison, acompanhada no palco por vários músicos de outras bandas.
A segunda noite começou a ganhar forma já no início, com o coletivo Heitor e Banda Gentileza fazendo uma apresentação que juntou versos simples e boas doses de romantismo com os mais diversos ritmos (rock, jazz, bossa nova e música brega). Tudo isto misturado a arranjos de sax, violino e trompete acabou criando um clima pra lá de agradável e nostálgico. Heitor controla o palco e prova que é possível transitar entre a MPB e o rock sem soar “Los Hermanos demais”. Sem dúvida uma das grandes promessas da nova safra curitibana.
O duo Je Rêve de Toi, com seu rock moderninho demais – e vá lá, bobinho e preguiçoso demais – talvez tenha conseguido ganhar a simpatia de um ou outro desavisado, mas no geral está longe de conseguir empolgar um grande público. Em seguida as quatro guitarras do Ruído/mm deram seu recado mesmo com o sistema de som “falhando” em alguns momentos e trazendo aquela sensação apreensiva de que “poderia ter sido melhor”.
Com uma proposta estética no mínimo diferente que incluía megafone, tambor, oboé e até tábua de lavar roupa, a turma do Koti e seus Penitentes fizeram um ótimo show unindo toda esta “estranheza” a um visual bacana e criativo estimulando o “rock folclore”. As canções são muito bem arranjadas com letras inteligentes e divertidas (“Eu queria mudar o mundo / eu queria não ser tão vagabundo / mas eu não consigo não”) que retratam o cotidiano de mendigos e alcoólatras que conquistaram o público. Afinal, quem nunca saiu “andando pelas ruas de bar em bar / procurando alguém pra amar”?
Para muitos a principal atração do Rock de Inverno 7, os paulistanos do Fellini, correspondeu às expectativas. Primeiro show desde o Tim Festival em 2003, a apresentação dos quatro integrantes – Cadão Volpato, Thomas Pappon, Jair Marcos e Ricardo Salvagni, além do baterista convidado Clayton Martin – foi uma verdadeira celebração embalada por hits como as clássicas “Teu Inglês” e “Rock Europeu”. Uma festa para os fãs da banda.
Com uma apresentação competente prezando pela diversão e sempre acompanhada do clima de descontração, o Mordida fez um grande show. Amparados pela ótima presença de palco do guitarrista e vocalista Paulo Hde Nadal e contando com a participação de Rodrigo Lemos, ex-vocalista da Poléxia, nos teclados, o Mordida desfilou canções simples, divertidas e de forte apelo pop. Porque boa música – em alguns casos, como o do Mordida – se sustenta “apenas” como diversão. Seria o encerramento perfeito para o festival. Na seqüência, com um clima meio acústico, mas sem aquela cara de “fim de festival”, o Lestics fechou as apresentações cansando antes mesmo de começar. Banda certa no horário errado.
O saldo final foi bastante positivo com destaque para o bom som da casa, boas apresentações e uma organização competente, o Rock de Inverno continua servindo como “vitrine” para as bandas locais e mostrando que um bom festival começa a ganhar forma na seleção do seu elenco. Um grande alento para umas das cenas mais férteis do Brasil, que devido à desorganização (e principalmente a vários egos inflados) ainda está muito longe de se consolidar nacionalmente. Curitiba ainda tem muito a aprender com o Rock de Inverno.
legal!!
o rock de inverno é um dos poucos festivais na cidade que privilegia a boa música,
independente do tempo de estrada ou quantidade de público que elas tenham.
é bom ter pessoas assim, como a adriane e o ivan. e também alguém que escreva sobre isso heheh, valeu marcelo!
Eu fui ao festival. Achei o show do Fellini (que sempre esperava assistir) uma merda. Eles estão velhos e acabados musicalmente. O pior é que eles se acham “rock stars”. Mas apresentaram o rock mais tosco da última noite. Sai decepcionado. Deixei de gostar da banda. No resto, gostei da banda Koti e os Penitentes. O resto, lixo. O Festival foi apenas indie, que já morreu e foi enterrado. Espero que na próxima vez os organizadores resolvam apostar na diversidade musical.