Por André Azenha
Os dois primeiros filmes da serie “O Exterminador do Futuro”, lançados respectivamente em 1984 e 1991, se tornaram célebres por conseguir aliar trama de ficção científica inteligente com, principalmente, cenas espetaculares de ação. Grande parte desse êxito se deve a James Cameron (“Titanic”), produtor, roteirista (em parceria com William Wisher Jr.) e diretor de ambas as produções. A presença do hoje governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, um dos maiores astros de ação dos anos 80, também colaborou para arrastar multidões às salas de cinema.
O segundo filme pode ser considerado um clássico, pois tem frases que marcaram época e a trilha sonora com a canção “You Could Be Mine”, dos Guns N’Roses, entoada nos quatro cantos do planeta. De forma justa, o longa levou quatro estatuetas no Oscar: Efeitos Especiais, Efeitos Sonoros, Som e Maquiagem. “Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas” ainda teve Schwarzenegger, mas não Cameron. Nitidamente é inferior aos seus anteriores, mas ainda assim fez sucesso de bilheteria, e a franquia gerou uma série de TV, “As Crônicas de Sarah Connor”.
A impressão que dava era de que os produtores já haviam sugado tudo o que a marca “Exterminador do Futuro” podia proporcionar financeiramente. Mesmo porque o seriado televisivo não teve a audiência esperada. Mas a trama estava inacabada. Faltava saber como terminaria o duelo entre os humanos e as máquinas. E “O Exterminador do Futuro – A Salvação” foi concebido não somente com este objetivo, mas também para iniciar uma nova trilogia, sem James Cameron, e apostando na popularidade do atual “Batman”, Christian Bale, na pele do protagonista John Connor, o homem incumbido de liderar a resistência humana contra os robôs da Skynet, que ganharam consciência e não consideram necessária a existência das pessoas.
O elenco foi bem selecionado. Bale (o sétimo ator e encarnar Connor) é artista talentoso, esforçado, e juntaram-se a ele Bryce Dallas Howard (“A Vila” e “Homen-Aranha 3”), como a amada de Connor, a Mrs. Tim Burton, Helena Bonham Carter (que tomou o lugar da personagem antes reservada para Tilda Swinton, que deixou o projeto pouco antes das filmagens), e Sam Worthington (“Morte Súbita”), no papel de assassino condenado à morte em 2003 que se torna vítima de um experimento e acorda 15 anos depois como alguém metade homem, metade robô, imbuído pela Skynet de atrair John Connor para matá-lo.
Porém, as pessoas escaladas para realizar o filme não foram das melhores. O diretor McG fez “As Panteras” e a dupla de roteiristas John D. Brancato e Michael Ferris, que já haviam escrito o mediano terceiro longa da franquia – roteirizaram também verdadeiras “pérolas” como o horrendo “Mulher-Gato” e o chato “A Rede” – retornaram a seus postos. E “Exterminador do Futuro – A Salvação” decepciona como um todo.
Tecnicamente o filme é impressionante. Tem visual árido e pós-apocalíptico que remete à “Mad Max”, bela fotografia dessaturada, excelentes efeitos especiais (nada mais que a obrigação, em virtude do mega orçamento de US$ 200 milhões), sequencias eletrizantes de ação, e usa alguns truques para cativar fãs da série. Estão lá a voz de Linda Hamilton (a mãe de John Connor nas estórias anteriores), ponta de Schwarzenegger via computação gráfica, “You Could Be Mine” executada brevemente e até a famosa frase “eu voltarei”.
Pena que o enredo não amarre de forma eficaz tudo o que fora realizado até então. Alguns fatos não coincidem com as tramas iniciais e nem com a série de TV, como se os roteiristas não tivessem cumprido o dever de casa – para quem não assistiu “Exterminador 1”, “2” e “3”, há uma breve introdução que resume a sinopse da saga. Mesmo a trilha sonora do geralmente competente Danny Elfman (autor das maravilhosas trilhas de “Batman” e “Batman – O Retorno”, de Tim Burton) é exagerada em alguns instantes. E não faltam erros de continuísmo.
“Terminator 4” ainda investe em situações absurdas e só melhora quando recorre às situações citadas acima, presentes nos longas que o antecederam, e não faz questão de evitar o desfecho clichê, que pode ser percebido minutos antes. Ainda que o longa divirta em vários momentos, fica nítido que dificilmente será feita uma nova produção da marca que faça jus aos dois primeiros filmes da franquia.
PS: Só no cinema mesmo para um transplante de órgãos ser feito no meio do deserto.
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André Azenha é jornalista e editor do Cine Zen Cultural.
Exterminador do Futuro sem Arnold Schwarzenegger, me desculpe mas não é Exterminador do Futuro!
Sou fã xiita, fazer o quê?!?!