Por Murilo Basso
Estrutura precária, insultos e desrespeito. Ausência de limites, diferenças sociais e rebeldia. É completamente compreensível que você já tenha presenciado cenas como estas no cotidiano de escolas brasileiras, mas o cenário de “Entre os Muros da Escola”, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, é uma classe de 7ª série da periferia de… Paris. Como o Racionais MC’s frisaram anos atrás: “Periferia é periferia em qualquer lugar”.
“Entre Les Murs”, é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau ((lançado no Brasil pela Martins Editora), que retrata sua experiência como professor em uma escola da periferia parisiense. É ele próprio quem assina o roteiro (ao lado do diretor Laurent Cantet e Robin Campillo) e que interpreta personagem principal (François Marin). No filme, Marin precisa administrar em sua sala de aula um retrato típico da Europa contemporânea: um “caldeirão” cultural e as tensões que surgem devido aos choques entre estas diferentes culturas.
Marin está longe de ser um professor perfeito (como foram Jack Black e Robin Willians no cinema “hollywoodiano”), embora compreenda a necessidade de uma instituição aceitar que não é um lugar à parte na sociedade; que entenda que seus alunos chegam a ela com seus próprios problemas, suas próprias dúvidas e com sua própria cultura e então tente trabalhar essas diferenças respeitando-as e optando por mostrar os caminhos, para que seus alunos encontrem seu espaço.
Mesmo retratando uma sala de aula específica no subúrbio de Paris, são abordados temas mais universais, que todos podem compartilhar. E a forma como a realidade é retratada na tela pode chocar na mesma proporção em que impressiona. Um dos maiores problemas que François e, também a sociedade francesa, enfrentam com seus jovens imigrantes – talvez, alguns não possam mais ser considerados imigrantes, pois nasceram na França – é que eles precisam sentir que possuem um lugar.
Obviamente, isto não acontece e então esses jovens se rebelam. Na verdade, não há de fato uma integração; existe apenas uma mensagem como “se esforce ao máximo para parecer conosco e talvez possamos te aceitar”. E, logicamente, todos estes elementos refletem dentro do ambiente escolar, nas relações com os professores e com os colegas, e o filme passa isso com brilhantismo (reforçado por um elenco exemplar de não atores).
A forma como toda esta questão do multiculturalismo é abordada, confinando-o em uma escola cujo rigor da educação tradicional francesa impera e representando a relação dos professores através de suas conversas, queixas e perda de controle emocional, acaba escancarando o modelo atual de “democracia” na sala de aula, usando como argumento principal, a própria escola. Então percebemos que a realidade retratada pelo filme é mais importante que o próprio filme.
Simples, forte e poderoso, “Entre os Muros da Escola” consegue recriar uma impressão de realidade. Um momento em que você pode se colocar ali, entre aquelas mesas e cadeiras vazias e refletir sobre o futuro daqueles jovens. Observar olhares repletos de dúvidas e angústias. Com medo. Medo de nós mesmos e do que podemos nos tornar. Um momento em que olhares são mais significativos do que qualquer palavra que possa ser dita. Uma lição sobre a arte de ensinar, e principalmente, sobre a arte de aprender. Para assistir e guardar na memória.
“Entre os Muros da Escola”, de Laurent Cantet – Cotação 4/5
fui ver esse filme no final de semana. gostei muito, achei até que fosse um documentário ou um reality show, só achei que podia ser um pouco menor. ..