Por Roberta Avila
Em “O Amor nos Tempos do Cólera”, Gabriel García Márquez diz que a sabedoria é uma coisa engraçada, porque nos chega quando já não serve para nada: ou seja, quando estamos velhos. E se ficássemos jovens, e não velhos com o passar do tempo? Essa é a proposição do conto de F. Scott Fitzgerald escrito em 1921 (leia aqui) que deu origem ao filme “O Curioso Caso de Benjamin Button”.
Com 13 indicações ao Oscar, o filme merece cada uma delas. A fotografia é linda, a trilha sonora marcante mas delicada, Brad Pitt está sensacional no papel de Benjamin Button e Cate Blanchett forma com ele um par cativante, muito equilibrado em beleza e talento. É um daqueles casais que demora para se acertar e você torce por eles loucamente. Taraji P. Henson, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pela interpretação da mãe adotiva de Benjamin é um dos personagens mais marcantes e doces do filme.
Do mesmo roteirista de “Forrest Gump”, Eric Roth, o filme realmente tem algo de Forrest muito claro em si. Isso poderia ser uma crítica negativa a Roth, que poderia estar simplesmente reescrevendo um grande sucesso de público e crítica se não fosse a constatação de que ele realmente entende os Estados Unidos como ninguém.
O filme começa com uma velhinha no hospital e o furacão Katrina se aproxima do local. Esse fato tão recente e marcante aparece como uma espécie de metáfora do fim do mundo. É o primeiro indício dos acertos históricos do roteiro, e com certeza é por isso que ele teve essa enxurrada de indicações ao Oscar. Roth é capaz de retratar o país com uma fidelidade histórica impressionante mas que fica sempre em segundo plano. Com isso, o enredo consegue ser envolvente por causa do fator humano, sempre vibrante em primeiro plano, mas sem perder a relação com a realidade, mesmo quando um homem nasce velho e rejuvenesce com o tempo.
A coerência interna do roteiro dispensa divagações filosóficas sobre o sujeito extraordinário que é Benjamim Button. Ninguém se pergunta porque ele rejuvenesce nem procura nenhuma explicação científica ou lógica. Ele é aceito como milagre de Deus e se encaixa tão bem nesse mundo particular que é o sul dos Estados Unidos, com o sotaque gostoso, a fé e a bondade das pessoas.
O que Roth traz de ‘Forrest Gump” deve ser aquilo em que ele realmente acredita. Na pureza das pessoas como uma espécie de escudo contra as coisas ruins do mundo, no amor como uma força da natureza, inevitável, mas com data certa para se viver. Essa maneira de ver as coisas lembra uma frase de um outro grande roteirista, Mario Puzzo, autor da trilogia “O Poderoso Chefão”. Vito Corleone dizia sempre que cada homem tem um só destino.
Nesse caso, em um filme com um roteiro baseado num conto de um grande escritor, brilhantemente adaptado, com um galã consagrado como protagonista e arestas muito bem aparadas, só falta a confirmação de que o destino do diretor do filme, David Fincher, é voltar para casa com os bolsos abarrotados de estatuetas.
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Roberta Avilla assina o blog Pedrinhas Francesas
Belo texto. gosto de critica de cinema assim, que me faz querer assistir ao filme, não aquelas críticas que ficam falando de campos, planos etc.
Parece ser um otimo filme. Bem curioso. Tipico mela drámatico igual ao “Eternamente Jovem” com Mel Gibson.