por Marcelo Costa
Já faz mais de quinze anos que Paulo Ricardo de Medeiros batalha ferozmente para apagar da história o momento histórico que viveu ao lado de Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e Paulo Pagni (bateria) nos anos 80, quando o quarteto conhecido como RPM viveu dias de beatlemania em terras brasileiras com direito a recordes de vendas, edição especial do Globo Repórter e até álbum de figurinhas inspirado no grupo.
Após o fim da banda, em 1988, Paulo Ricardo lançou dois bons álbuns solo, depois perdeu o rumo: em 1993, lançou “Paulo Ricardo e RPM”, sem o baterista e o tecladista, tentando pegar carona no nome da ex-banda. Na seqüência, tentou se transformar num novo Roberto Carlos entoando pífias canções românticas. Voltou a reunir o RPM para um “MTV ao Vivo “e, ponto mais baixo da carreira, entrou na onda dos Emmersons Nogueiras da vida com um álbum “Acoustic Live”.
Isso tudo do parágrafo anterior sem contar os momentos queima-filme recentes, como participar das gravações dos CDs de Roberto Justus e Padre Marcelo Rossi. Eu sei, é praticamente impossível defende-lo, mas o recém-lançado “Revolução! RPM 25 Anos” – box que reúne os três álbuns oficiais do grupo, mais uma coletânea de raridades e remixes, e um DVD com o show “Rádio Pirata” (e vários extras interessantes) – tenta colocar as coisas no seu devido lugar.
“Revoluções Por Minuto”, o álbum de estréia lançado em maio de 1985, é um dos grandes debutes do rock nacional em todos os tempos. Paulo e Luiz já haviam tido uma banda progressiva no início dos anos 80, que acabou depois que o vocalista vendeu tudo que tinha e se mandou para Londres, onde entrou em contato com toda cena pós-punk e new romantic britânica. Quando voltou ao Brasil, já trazia na cabeça o formato que queria explorar. Daí nasceu o RPM.
O debute reúne hits incontestes como “Rádio Pirata” (sobre a ditadura das rádios FM e a força da cena underground), “Olhar 43” (uma canção sem refrão, com guitarra em segundo plano e teclados no comando), a baladaça “A Cruz e a Espada”, a progressiva faixa título (proibida pela ainda ativa Censura Federal pela frase “aqui na esquina cheiram cola”) e o indiscutível single “Louras Geladas”, com poderosos riffs de guitarra, um refrão pegajoso e sua letra divertida de corno bêbado.
Porém, sob a sombra da luz dos grandes hits, “Revoluções Por Minuto” esconde canções brilhantes como as densas e darks “Liberdade/Guerra Fria”, “Sob a Luz do Sol”, “Pr’esse Vìcio” e, principalmente, “Juvenilia”, triste resumo da história de um povo e de um país cuja fé no futuro foram massacrados pelas mãos da ditadura e de políticos corruptos, muitos deles na espreita após a morte de Tancredo Neves, meses antes do disco ser lançado (e que permanece atualíssima em tempos de eleição de “mercenários sem direção” que você até sabe quem são – eu sei).
O disco lançado em maio bateu 300 mil cópias vendidas, e chamou a atenção de Ney Matogrosso, que assumiu a produção dos shows da banda após vê-los ao vivo no Rio de Janeiro. Em setembro estreou o show “Rádio Pirata ao Vivo”, cuja passagem em um festival no Sul do país fez com que uma gravação pirata de “London, London”, cover de Caetano Veloso, entrasse na programação da rádio Transamérica – ainda com espaços livres do jabaculê – e batesse nos primeiros lugares de execução.
O público queria ouvir “London, London”, mas a canção não existia fonograficamente. A saída foi parir a fórceps um álbum ao vivo, que foi gravado durante dois shows em maio de 1986, em São Paulo. “Rádio Pirata ao Vivo” vendeu 500 mil cópias antes de chegar às lojas e levou o RPM para o topo do cenário nacional. De suas nove faixas, duas covers (“Flores Astrais”, dos Secos & Molhados, e claro “London, London”), duas faixas inéditas (“Alvorada Voraz” e a instrumental “Naja”) e cinco regravações, entre elas a faixa título com direito a citação de Doors.
A viagem ao estrelato – regada do trinômio sexo, drogas e rock and roll – deixou marcas profundas na banda. Pouco mais de um ano depois do lançamento de “Rádio Pirata ao Vivo” o grupo anunciava sua separação (deixando engavetado o projeto de um filme e a falência de um selo próprio). O retorno se deu meses depois, com “RPM”, o terceiro álbum, que bateu 250 mil cópias, um número que seria uma marca de sucesso para muitos, mas que para o RPM foi um grande fiasco.
Em “RPM”, também conhecido como “Quatro Coiotes”, a banda busca aproximação com o rock and roll clássico em faixas como “Partners”, “Um Caso de Amor Assim” e “Dália Negra”, mas o que comanda ainda são os arranjos que privilegiam os teclados de Schiavon, que brilham em “Sete Mares”, “Quarto Poder” e na boa faixa título. O berimbau marca o arranjo de “A Estratégia do Caos”, e Bezerra da Silva, em voz e alma, dueta com Paulo Ricardo na ótima “O Teu Futuro Espelha Essa Grandeza”.
A história do RPM – e de Paulo Ricardo – que deve ser lembrada está nestes três álbuns reunidos no box “Revolução! RPM 25 Anos”. Ok, há aqui ainda um disco de curiosidades com remixes (muito em voga nos anos 80) e raridades, que destacam o compacto duplo luxuoso lançado ao lado de Milton Nascimento entre o segundo e terceiro discos com as canções “Feito Nós” e “Homo Sapiens”, além de versões para “Gita”, de Raul Seixas, e “A Página do Relâmpago Elétrico”, de Ronaldo Bastos.
O DVD que acompanha o pacote tem função apenas de registro de época. As imagens do show lançado originalmente em VHS são de péssima qualidade, e perdem inclusive para várias bootlegs de outras bandas que circulam no mercado, mas servem para ilustrar um período importante do rock nacional. Os extras são ainda mais interessantes, com registros da banda no programa Mixto Quente e Cassino do Chacrinha, além da integra do programa Globo Repórter Especial dedicado ao grupo em 1986.
“Revolução! RPM 25 Anos” é um importante lançamento não só apenas por trazer o álbum “Quatro Coiotes”, esforço de sobrevida até então inédito em CD (e com versões em MP3 de péssima qualidade circulando pela web) ou por mostrar que Paulo Ricardo foi, um dia, um bom músico, mas sim por resgatar uma parte da história do rock nacional que parece ter sido perdida no mainstream, nos transportando novamente para 1985: no underground repousa o repúdio. E deve despertar.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
essa banda naum presisa de comentarios, hoje o Brasil vive a podridão musical….
Esse RPM foi tudo de bom, podem falar o quiserem, mas eles mandaram bem demais
Finalmente vou poder comprar a versao de “A pagina do relampago eletrico”, que ficou muito legal na voz e arranjo do Paulo Ricardo. Ouvir essa cancao gravada pelo genio Beto Guedes com o Paulo foi sem duvida uma fusao extremamente de bom goso. Pena que o Paulo se enveredou para outros caminhos.
Bela resenha Mac. Caixinha obrigatoria para quem gosta de rock nacional. Abs.
O Paulo Ricardo é um LIXO,,,mas o RPM dá um show de olhos fechados em NX Zero e Frenos da vida!!! Aliás essas bandas conseguem envergonhar o Rock!
Simplesmente os MELHORES!
Paulo Ricardo é simplesmente um ícone do rock brasileiro, e cada vez mais vem se aprimorando….ele é show de bola…em todos os shows revive os momentos do RPM com orgulho e tb com sua banda PR5 , recentemente em um dos shows juntamente com os 3 ex-integrantes pediu ‘desculpas’ ao Deluqui, Shiavon e PA ( isso eu vi ao vivo e a cores) pelas falhas cometidas e inimizades e graças a seu esforço de correr atras de autorizações, hoje lança no mercado o livro e o box dos 25 anos de RPM.
Roberto Justus!?!?!?!?!?!??!
Sério isso?
!!!!!!!!!!!!!!!
putaquelosparios!!!!!!!! que cagada!
Dou graças a Deus por ter sido jovem nos aos 80 vivi intensamente a explosão do rock nacional,hoje tento passar para meus filhos um pouco de cultura musical,o que não é tarefa fácil afinal a grande maioria de tudo o que é produzido é sem dúvida LIXO FONOGRÁFICO. RPM foi senssacional em tudo e ainda serve de exemplo,musicalmente falando. Valeu Abraço