por Marcelo Costa
“A carne é triste, e eu li todos os livros”, escreveu certa vez um poeta simbolista. É uma imagem forte, um símbolo forte. Ele leu todos os livros e descobriu que a carne, infelizmente, é triste. Não lhe resta muita coisa. É hora de fugir. Ou de crescer, mas a sociedade teme tanto a maturidade que os adolescentes se transformaram em adultescentes. Crescer, mais do que qualquer coisa, é acumular tristezas enquanto esperamos a morte por bala, vício ou susto.
“A vida é cruel” é uma frase em néon despencando da fachada de um hotel de quinta categoria em lugar nenhum. Copo meio vazio. Copo meio cheio, então: “A vida é uma porcaria, e passa rápido demais”, lembra aquele diretor esquisito. “Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada”, segundo álbum do OAEOZ (descontando dois CDs independentes), amplifica essa questão ao polarizar os sentimentos que tantas pessoas amontoam em si mesmas jogando nas costas dias e noites de fuga.
Mais do que falar da vida na estrada, “Falsas Baladas” fala da dificuldade da vida em sociedade. “Impossibilidades”, o rock majestoso que abre o álbum de forma acelerada, ambienta o ouvinte: “Pode ser só teimosia / Pode ser até capricho / Eu não quero sua imagem / Nem a tua alegoria”. A letra ainda distribui muitos símbolos (destino, rumo, fantasia, inferno, frio) para fechar de forma sublime: “Me alimento da falta e me cerco do excesso / Pra me esconder na ausência da vontade e na impossibilidade dos sentidos”.
Em “Distância”, uma falsa balada com guitarras espaciais que remetem às grandes influências dos curitibanos (Mercury Rev, Tindersticks, Pink Floyd fase 69), uma frase flutua pelo ar até cair solitária no colo: “A verdade se despede como farsa”. A beleza que se transforma em ruína. Violão e efeitos introduzem “Negativa”, a próxima canção, um duelo frente ao espelho cujo clímax é o solo de trumpete de Igor Ribeiro. Um violão lento, preguiçoso, apresenta a sonhadora “Mariane” enquanto guitarras barulhentas e rancorosas fazem a cama para seu interlocutor: “A humanidade é uma piada sem graça”, diz ele.
“Eu Penso Nisso Todo Dia” é a tentativa da fuga da prisão, a narrativa da quebra do encanto, a fé e o amor em algo que nem se sabe ao certo o que é, com baixo a frente e vocais climáticos. “Uma Canção Para OAEOZ”, liberada para download pelo Scream & Yell em outubro passado, é uma empolgante declaração de amor a Curitiba e aos bons momentos da vida (seja passado, presente ou futuro). O barulho volta a dar as caras em “Ninguém Vai Dormir”, rock que tenta tirar os pesos das costas através de toneladas de distorção. “Pra Longe”, baladaça com violino de Desiré Marantes, versa sobre abandono e desesperança.
Com dez anos de estrada, o quinteto curitibano alcança a maturidade musical em um álbum que impressiona pela entrega, pela maneira que despe sentimentos, desejos e sonhos sem soar piegas, emo(cionalmente infantil) ou apelativo. “Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada” reúne um apanhado de visões e sensações acerca da “città piú bela” (não à toa, a banda colocou uma versão da canção do Fellini como lado b do single “Impossibilidades”), uma paisagem envolta entre anseios intensos cujas nuvens cinzas impedem a visão de estrelas. Porém, não é preciso vê-las para saber que elas estão lá. Melhor pegar outro copo (cheio de vinho).
Você já leu todos os livros, caro leitor?
“Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada”, OAEOZ (Senhor F)
Download Gratuito: Baixe aqui
Nota: 8