por Mac
Já assisti a quatro dos cinco concorrentes na categoria Melhor Filme deste ano. Tenho um encontro marcado com o quinto, “Sangue Negro”, na próxima quinta-feira de manhã, mas já comecei a caraminholar o desfecho da cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, principalmente depois de conferir “Desejo e Reparação”, o filme que entra como azarão na disputa e pode sair consagrado na noite de 24 de fevereiro.
Antes de falar do trio que vai dividir opiniões neste ano, vamos descartar dois filmes: “Conduta de Risco” é um filme fórmula. Você (e os membros da Academia) já viu melhores. Esqueça ele. “Juno” é o filme indie do ano. É fofo, tem charme e estranheza, mas não é grande cinema. O diretor Jason Reitman tem jeito pra coisa (ele já tinha mostrado isso no excelente “Obrigado Por Fumar”), e a indicação de “Juno” deve ser comemorada, mas só a indicação já é um prêmio.
Ainda não vi “Sangue Negro”, mas conheço (e tenho grande apreço pela) a carreira de Paul Thomas Anderson. “Sangue Negro” deve ser realmente tudo aquilo que a imprensa internacional comentou, e mais um pouco. “Sangue Negro” tem tudo para estar cabeça a cabeça com “Onde os Fracos Não Tem Vez”, dos irmãos Coen, duas obras pessimistas, absurdas e geniais, cujo único problema reside no gosto amargo que deixam nos lábios da alma do público após a entrada dos créditos finais.
Problema? Claro que não. “Sangue Negro” e “Onde os Fracos Não Tem Vez” são perfeitos retratos modernos, filmes que já surgem clássicos, mas que têm contra si o fato de serem difíceis de descer a garganta do público médio. É ai que entra em cena o bom “Desejo e Reparação”. O filme de Joe Wright superou as minhas expectativas (que eram bem baixas) e entra forte na briga pela estatueta de Melhor Filme exatamente por se apoiar em uma história clássica de causa, conseqüência e culpa filmada com sotaque épico.
“Desejo e Reparação” não é um filme perfeito. O livro de Ian McEwan com toda certeza é, mas a adaptação soa espaçosa, excessiva, cansativa em vários momentos. Literatura é uma coisa, cinema é outra. Na ânsia de ser o mais fiel possível ao livro, Joe Wright acaba exagerando quando devia se concentrar em enxugar o roteiro dando ao filme ritmo e a alma do livro. Rasteiramente falando, “Desejo e Reparação” soa como se a história de “Casablanca” fosse contada por Victor Laszlo, querendo reparar o fato de ter separado Rick e Ilsa. Só que “Casablanca” é um filme completamente enxuto, perfeito.
A grande vantagem de “Desejo e Reparação” na corrida pelo Oscar é ter um apelo fácil enquanto seus dois concorrentes, “Sangue Negro” e “Onde os Fracos Não Tem Vez”, mesmo sendo melhores, não são de fácil digestão. A Academia já cometeu erros maiores e mais grotescos, e se na última categoria da premiação de 24 de fevereiro eleger “Desejo e Reparação” como filme do ano, não será surpresa nem será um absurdo, visto que o filme atende a certas expectativas da indústria. Apenas não terá vencido o melhor (ou um dos melhores).
Antes, porém, teremos Daniel Day Lewis levando uma estatueta de Melhor Ator por “Sangue Negro”, Javier Bardem se consagrando como Melhor Ator Coadjuvante por “Onde os Fracos Não Têm Vez”, e os Coen brigando cabeça a cabeça pelo Oscar de Melhor Diretor com Paul Thomas Anderson. Sinceramente, com qual deles o Oscar ficar será merecido e correto. Como ainda não vi “Sangue Negro” tendo a tentação de torcer pelos Coen, mas estas três categorias ficam entre “Sangue Negro” e “Onde os Fracos Não Tem Vez”.
Já em Melhor Filme e Melhor Roteiro, PT Anderson e os Coen trazem o azarão “Desejo e Reparação” em seu encalço. Não será nenhuma surpresa se a Academia – num pseudo gesto nobre de bondade – der roteiro para um (minha aposta: os Coen), direção pra outro (PT Anderson) e filme para o terceiro (”Desejo e Reparação”). Eles vão achar que fizeram justiça, mas vão estar errados, como já estiveram em vários outros anos…