por Marcelo Costa
A cena indie nacional descobriu, definitivamente, a MPB. É sintomático – e interessante – o fato do Pullovers, grupo paulista devoto do Pavement e já com três álbuns guitarreiros nas costas, abrir seu novo show tocando “Jorge Maravilha”, de Julinho da Adelaide (aka Chico Buarque), e no meio do set apresentar “Mal Secreto”, parceria de Waly Salomão com Jards Macalé presente no clássico disco de estréia deste último, em 1972. As duas versões juntam-se ao novo repertório do grupo, cantado em português e cheio de possíveis hits.
No entanto, nessa passagem da banda da adolescência para a vida adulta (prejudicada por mudanças constantes na formação), os arranjos ao vivo não estão valorizando o bom (e simples) rock que o Pullovers tem apresentado em estúdio. Canções grudentas e deliciosas como “1932?, “O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Para o Amor”,”Futebol de Óculos” e “Marcelo ou Eu Traí o Rock” perdem punch em suas versões ao vivo. Na hora em que o sexteto encontrar o seu som no palco, São Paulo terá uma grande banda para descobrir. Fique atento.
A Bidê ou Balde ainda é, sobre um palco, uma das melhores bandas de rock do país. Eles podem mudar a formação (perderam o baixista André e o baterista Pedro está fora desde a gravação do Acústico MTV em 2005), se darem ao luxo de tocarem as canções mais fracas de seu repertório (”Vamos Para Cachoeira”, “A-ha”, “Vamos Para Uma Excursão”), e o vocalista esquecer a letra da música que deu a banda o prêmio de revelação no VMB 2001, que mesmo assim o show é poderoso, muito pelo incendiário desempenho de palco de Carlinhos, Vivi, Sá e o novo (velho) guitarrista Pila.
Mérito também para um repertório de canções poderosas como “É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos”, “Matelassê”, “Bromélias”, “K-7?, a versão de “Buddy Holly”, “O Antipático” e “Mesmo Que Mude”, esta última, fácil, uma das dez grandes canções do rock brasileiro nos anos 00. Eles têm o público nas mãos. Vivi sorri. Carlinhos tira o terno, coloca o terno, apresenta os novos integrantes e diz que vai tocar uma antiga, mas “Spaceball” causa um anticlímax na memória: é de uma época em que Bidê e a Vídeo Hits tinham tudo para conquistar o mainstream nacional, e não conquistaram (muito mais por incompetência das gravadoras do que por falta de qualidade das bandas citadas). Essa expectativa não realizada me acorda: já estamos em 2007. E o que a Bidê tem a dizer?
Com esse pensamento, analiso a cena: é uma sexta-feira quente em São Paulo, bebo cerveja gelada na tentativa de entorpecer a memória enquanto uma das bandas mais bacanas desta década do cenário nacional louva o passado (nem tão passado assim) sem dar uma piscadela sequer para o futuro. O último disco da banda, “É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos!”, é de 2004 e, desde então, eles não fizeram nada novo. Amigos se surpreenderam quando a banda anunciou esse show em São Paulo: “Achei que eles tivessem acabado”. O show, no entanto, não desmente isso.
Com três discos na carreira e pouco mais de nove anos de atividade, a Bidê ou Balde parece ter virado um dinossauro indie. Mesmo o show tendo sido bom, foi inferior a qualquer um que a banda tenha feito na cidade entre 2001 e 2005. Pode ser o começo de uma nova fase. Pode ser que os novos integrantes ainda estejam se entrosando. Mas Carlinhos, no palco, lamentando a ausência do baixista André, soa tanto como “os melhores anos de nossas vidas se foram”. Não dá pra fugir do futuro, e a Bidê – que sobreviveu a saída do guitarrista e compositor Rossato após o primeiro álbum – tem estofo de sobrar para sobreviver aos novos tempos. Porém, os fantasmas no palco do Inferno colocam uma grande interrogação no futuro de uma das bandas mais legais que o cenário brasileiro ouviu nos últimos anos.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne