textos de Marcelo Costa
“Lust, Caution”, Ang Lee – Cotação 4/5
O primeiro filme de Ang Lee pós-sucesso de “Brokeback Mountain” se passa na Xangai dos anos 40, é falado em chinês, mas trata do mesmo tema: o amor proibido. Se em “Brokeback Mountain” o diretor chocava ao retratar de forma tocante uma história sobre “o amor que não ousa dizer o nome”, em “Lust, Caution” o romance choca por carregar nas tintas do sexo explícito, mas também conta uma belíssima história de um amor impossível. As cenas de sexo são fortes, mas o melhor é se concentrar no drama da jovem revolucionária Wang Chiah-Chih que se apaixona pelo homem que devia matar. Em um país tão apolítico – e carnal – quanto o Brasil talvez este novo drama de Ang Lee não bata tanto quanto “Brokeback Mountain”, mas não se engane: é arte da mesma estirpe.
“Control”, Anton Corbijn – Cotação 3,5/5
Em sua estréia em longas, o badalado fotógrafo fez um belo filme sobre a história de Ian Curtis, vocalista e letrista do Joy Division, que se suicidou em 1980. O ator Sam Riley convence no papel principal, as partes em que a banda está em cena (que são poucas) são excelentes e as imagens de Manchester são belíssimas. Baseado no livro escrito pela mulher de Ian, Deborah, o filme só peca em valorizar as dúvidas amorosas do vocalista enquanto não aprofunda seus dramas e fantasmas pessoais. Como uma fotografia, “Control” exibe uma belíssima imagem, mas carece de alma. Isso não desmerece de forma alguma o filme, mas é uma maneira copo meio vazio entender que Ian se matou por não conseguir lidar com suas mulheres (e ai se inclui a filha Natalie). Ou queremos esperar de nosso herói algo mais do que ele talvez tenha sido.
“About a Son”, AJ Schnack – Cotação 1/5
Kurt Cobain merecia muito mais do que este falso documentário travestido de imagens de luxo de um karaokê sobre Seattle e Aberdeen. “About a Son” apresenta cerca de uma hora e meia de áudio de entrevistas feitas pelo jornalista Michael Azerrad que não trazem nada de novo nem explicam ou conseguem aprofundar a dimensão do mito. Ao contrário, “About a Son” é constrangedor. Algo está errado quando a melhor parte de um filme sobre um gênio do rock surge quando ele explica sua paixão por tartarugas. Kurt está certo: jornalistas são uns bastardos filhos da puta. Só isso explica como um cara usa um material tão bacana de áudio de uma forma tão tosca e canhestra. De péssimo gosto.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.