por Marcelo Costa
Em 2004, se existisse uma categoria especial chamada rock na famosa Dead List, Pete Doherty seria o número 1 (em 2007, Fidel lidera as apostas, Niemeyer está em sexto). Expulso de sua própria banda, encarcerado pela polícia, viciado em drogas pesadas, Pete Doherty levava sobre sua cabeça uma nuvem negra que insistia em acompanhá-lo para onde quer que ele fosse (infelizmente, não para o Brasil, local em que o Libertines se apresentou em 2004). A nuvem negra não o abandonou, pior: ele teve que dividi-la com a modelo problema Kate Moss, e qualquer espirro do casal (ou transa no jardim de uma clínica de dependentes) virava manchete de tablóides em todo o mundo. Pete deixou de ser um rockstar para se tornar uma pessoa pública.
Enquanto desmanchava e voltava com Kate Moss sete vezes por semana, Pete Doherty montou o Babyshambles e lançou, em 2005, “Down In Albion”, um álbum tão fraco, tão fraco, mas tão fraco que nem que se o Coldplay (ou Keane, ou Travis, ou Razorlight, ou Bravery) quisesse lançar um álbum tão ruim conseguiria (e olha que eles não precisam se esforçar muito para lançarem álbuns ruins). “Down In Albion” parecia um rascunho de quinta categoria do Libertines, e serviu para que Pete Doherty virasse saco de pancadas e piadas da crítica enquanto Carl Barat, seu “parceiro” na ex-banda, era elogiado pelo primeiro álbum do Dirty Pretty Things, o ótimo “Waterloo to Anywhere”.
Estamos em 2007. A bola da vez na dead list rock star é Amy Winehouse. Pete e Kate parece que terminaram de vez; Carl e Pete andam se encontrando e boatos pedem a volta do Libertines; enquanto isso, e após um bom EP em 2006, “The Blinding”, o roqueiro problema número 1 da Inglaterra parece ter reencontrado os bons sons. “Shotter’s Nation” (“Nação de Atiradores”), segundo álbum do Babyshambles (lançado na Inglaterra dia 01/10, e com edição nos EUA prevista para 23/10), não é um disco tão bom quanto qualquer um dos dois do Libertines, mas ao menos já permite que Pete Doherty olhe Carl Barat de igual para igual, e isso já é uma grande notícia.
“Shotter’s Nation” traz Stephen Street na produção (no lugar de Mick Jones) e abre com a preguiçosa e ótima “Carry On Up The Morning”, que fala sobre a fama e a dificuldade de se lidar com a mídia. “Delivery”, primeiro single, vem na seqüência, traz o título do álbum além de guitarras cortantes, afiadas e empolgantes. É daquelas músicas que valem um disco. “You Talk”, a terceira, é uma parceria de Doherty com Kate Moss (que, aliás, aparece semi-nua na capa do álbum e assina mais três parcerias no disco). “You Talk” junta boas guitarras, excelente vocal de Pete e um climão descontraído que fez muita falta a “Down In Albion”. Essas três canções abrem “Shotter’s Nation” e se as nove seguintes mantivessem o nível teríamos um álbum brilhante para ouvir.
Porém, de “UnBiloTitled” para frente, “Shotter’s Nation” desce a ladeira. Não chega a soar tão ruim quanto a estréia (nem como o melhor disco das bandas citadas no segundo parágrafo), mas não mantém a qualidade das três primeiras faixas. “UnBiloTitled” é uma baladinha que tropeça em riffs de guitarra enquanto aponta o dedo na cara da imprensa: “Você pensa de que você me possui / Por que você não se vai foder?”, canta Doherty como se estivesse dizendo eu te amo. “Side of the Road” é uma típica canção Libertines (cuja estética Carl também usou em algumas passagens de “Waterloo to Anywhere”): começa desleixada, com riffs se entrelaçando com a bateria até tudo juntar-se e seguir como um caminhão desgovernado acelerando de encontro a um prédio.
“Crumb Begging Baghead” tem algo de psicodélica; “Unstookie Titled”, apesar de bonitinha e ordinária, parece várias outras canções (tanto do Libertines quanto do Babyshambles); “French Dog Blues” é uma rock love song Pete/Kate que não convence; “There She Goes” rouba a linha de baixo de “The Lovecats”, do The Cure, e a lembrança do clássico de Robert Smith é melhor do que o resultado do empréstimo; “Baddie’s Boogie” e “Deft Left Hand” tem clima, mas carecem de força e impacto. “Lost Art of Murder” fecha o lançamento de forma melancólica e acústica com Pete cantando, no refrão, que hoje “é um dia agradável para um assassinato / Você diz que é um assassino / Mas a única coisa que você mata é seu próprio tempo”, mastiga o roqueiro enquanto pessoas pedem para que ele deixe de fumar.
Três faixas matadoras e um bando de canções medianas podem ser pouco para tornar “Shotter’s Nation” um grande álbum, mas ao menos servem para trazer Pete Doherty de volta ao cenário pop. Para quem andava freqüentando mais as páginas de fofoca do que as de música já é algo. Para quem, principalmente, já liderou as listas de apostas do “próximo defunto rocker” é uma conquista… até a próxima internação… ou a volta do Libertines. O que será que acontecerá antes? Estou com quem apostou na primeira opção. Enquanto isso, “Carry On Up The Morning”, “Delivery” e “You Talk” permanecem no repeat, e abrem espaço para a versão acústica do single em versão especial para o semanário New Musical Express. Se todos os discos recentes trouxessem três boas canções como essas…
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Fique maravilhada com esse post! Sou louca por The Libertines, porém não sabia dessas coisas sobre um dos vocalistas, muito interessante.
Informação total esse blog! Informação de qualidade, parabéns!
Uma das melhores bandas que existe!!! Espero que continue sendo tão boa qto era!!!
Mais que um quarto de dúzia de músicas boas, eu diria. Baddies Boogie, There She Goes na sua milionésima (e melhor) versão e Crumb Begging com seu refrão estúpido e absurdamente grudento mereciam figurar entre os pontos altos, e, claro, Lost Art Of Murder, a mais bela canção a sair da mente doente do Potty Pete